Há pelo menos 15 dias estou engasgado pra comentar um detalhe que encarei como piada de mau gosto. Respeito a opinião dos jornalistas entrevistados no programa Diálogo Aberto, do companheiro Daniel Lima, mas discordo frontalmente. Questionados sobre que nota histórica dariam ao jornal Diário do Grande ABC, o diretor de Redação Sérgio Vieira e o excepcional jornalista e memorialista Ademir Medici, meu amigo, não tiveram qualquer dúvida.
Como numa apuração de desfiles carnavalescos, "nota... déeeez". Só faltou a ênfase do locutor oficial. Torcedores paulistas da Gaviões da Fiel e cariocas da Beija-Flor lotariam a arquibancada e iriam ao delírio. Porém, aqui, num cantinho reservado à imprensa (independente) eu estaria a vaiar. Trabalhei na editoria de Esportes do DGABC por quase 15 anos e fico muito a vontade pra discordar.
Nota cinco
Minha nota pode até ser contestada, mas é a mesma do sempre rígido, polêmico responsável e competente Daniel. Nada mais do que um cinco.
História do Diário merece ser enaltecida e respeitada por todos nós, cidadãos do Grande ABC. Afinal, são 57 anos de muita dedicação diária às coisas de uma região com quase três milhões de habitantes. Só que, nota 10 é demais pra minha cabeça. Afinal, como todos, o Diário de ontem, de hoje e de amanhã vai acertar e errar. Qual o problema? Vai questionar e ser questionado. Seu compromisso é com o leitor. Por isso a credibilidade não pode oscilar tanto em quase seis décadas.
No quesito jornalismo, já cansou de fazer besteira. A começar por uma linha editorial que só agora -- gostem ou não, com as intervenções cirúrgicas do Daniel Lima e a correspondência da equipe -- volta a assumir uma postura de comprometimento verdadeiro com o Grande ABC.
Tempos atrás, talvez mais de uma década, lançou o slogan definindo-se como braço direito do Grande ABC. Pois é... esqueceram do esquerdo. Por isso andaram fazendo tudo pela metade.
Por isso campeava o compadrio. Por isso brotavam acertos escusos e subterrâneos com o Poder Público. Ao sabor dos ventos e da coloração partidária. Ai de quem não rezasse pela cartilha da Catequese. Pau nele!
Por isso a falta de profissionalismo responsável. Por isso a ausência de linha editorial de fato. Por isso derrapagens aos borbotões. Por isso, em alguns períodos, um trem de incompetências a prestar desserviço ao cidadão do Grande ABC. Por isso a bela história, alternando momentos de jornaleco com posturas de um grande jornal regional, não merece mais do que o cinco da imparcialidade. Com todo respeito, nota 10 é agrado de sonhadores.
Só pra completar: se o importante DGABC deixar de existir nosso mundinho será ainda pior. Já foi ruim com ele, quase exclusivo porque dominador. Pior sem ele,
Que os novos trilhos o conduzam por muitos anos. Sem mentiras. Sem omissões. Sem protecionismo. Sem parcialidade. Sem brincar com a nobre arte de informar, analisar, questionar e transformar a sociedade. Uma bela história nem sempre é sinônimo de nota 10.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)