Por ser Província em todos os sentidos estamos em terceiro plano nas investigações da Operação Lava Jato, mas tudo indica que os efeitos vão chegar até aqui, porque ramificações técnicas e inspiradoras estão aqui faz muito tempo. Sabe-se que a megaoperação conta com um potencial delator premiado na região. As aproximações estariam se dando conforme a cronologia das apurações centrais que apertam o Partido dos Trabalhadores. Tem-se como certo que não haveria escapatória. A Lava Jato chegaria mesmo com força por aqui. E faria um estrago dos diabos. Principalmente porque a suposta delação premiada tem como protagonista alguém que não suporta a menor pressão. Difícil seria segurar a língua solta que se manifestaria.
A pergunta que mais se faz nos bastidores das investigações que dão conta desse colaborador premiado é até que ponto ele se limitará a clarear o ambiente regional apenas ligado ao Partido dos Trabalhadores e também à Lava Jato. O delator premiado é múltiplo nas incursões. Sabe da vida de todo mundo que participa do jogo politico e também do entorno econômico beneficiário de articulações de bastidores. Há vários castelos de areia a serem destruídos na região. Os leitores que acompanham esta revista digital não precisam de muito esforço de memória para entender o que quero dizer.
Abrindo o bico
Não adianta me apertarem porque não vou revelar o nome que está no bolso do colete da Operação Lava Jato como alguém que mais dia menos dia vai abrir o bico, porque se não abrir o bico vai se trumbicar. Aliás, vai se trumbicar de qualquer maneira, mas vai se trumbicar menos que os demais que não aceitaram colaboração amenizadora de penas pelos delitos cometidos.
Trabalha-se com a informação de que o delator premiado teria vida de imersões no mundo político da região que remonta o primeiro dos escândalos do PT, o mensalão de penas bem mais suaves. Entendem os investigadores que o delator premiado que consta da lista com potencial de colaborar intensamente com a Lava Jato tem memória de elefante quando a ameaça de prisão surge como contraponto aos chamados malfeitos. Ele conheceria como poucos os detalhes de cada encruzilhada em que se meteram agentes públicos e privados na disputa pelo poder e pelo dinheiro. A situação em que se encontra não permitiria crise de amnésia. Até porque os nervos afloram sempre que se vê apertado – embora publicamente saiba camuflar os incômodos.
Não é a qualquer um que a força-tarefa concede a gentileza da delação premiada. A equipe de procuradores, policiais federais e juízes não sai por aí distribuindo senhas a quem quer contar alguma coisa. O critério de seletividade está cada vez mais apurado. A sistematização e o encaixe de diferentes enredos foram cuidadosamente organizados ao longo das ações. A isso se dá o nome de racionalidade ou de produtividade investigatória.
Música conhecida
Já não é preciso cantar a música inteira para conhecer o ritmo e a letra. Bastam – como em programas de auditório que desafiavam a sensibilidade musical dos candidatos -- os primeiros acordes. Os fatos novos que levam a conclusões novas são uma árvore quase rara na floresta de crimes. Praticamente quase todo o enredo já está escrutinado. Agora a questão é explorar os veios.
A força-tarefa da Lava Jato, entretanto, não despreza o que chamaríamos de novidades à tipificação geográfica de narrativas criminosas direta ou indiretamente relacionadas ao escândalo da Petrobras. Quando se sabe que a Província é sede do Polo Petroquímico de Capuava, e quando se sabe também que a Braskem opera nestas paragens, e que a Braskem fez uma sociedade de lances considerados obscuros com a Petrobras, agentes públicos e privados da Província do Grande ABC saltam senão ao centro do palco de operações, mas num espaço suficientemente importante para ser iluminado e chamar a atenção da plateia.
Também não se pode desconsiderar que, além do cruzamento geográfico, político e econômico do Polo Petroquímico, há encruzilhadas ditadas pela repartição do poder petista em âmbito federal com hierarquias de gestão pública e do sindicalismo da região. Nesse ponto, salta à vista a influência do ex-presidente Lula da Silva.
Ou seja: há elementos de sobra para que muita gente desconfie de muita gente sobre a identidade do delator premiado que surge no horizonte da Lava Jato. Todos torcem para que tudo não passe de especulação, mas como ontem o noticiário colheu um dos amigos diletos de Lula da Silva, recrudesceu o ambiente de inquietação na região.
Abrangência preocupante
Até que ponto a corda da preocupação vai apertar o pescoço dos malfeitores da região potencialmente inseridos na Operação Lava Jato é uma resposta desafiadora. Seria a Província tão pouco importante no universo do escândalo da Petrobras a ponto de ser subestimada pela Força Tarefa ou tudo o que se viu até agora, de certo distanciamento do noticiário político-criminal, não passaria mesmo do silêncio que antecede barulho?
Não se pode esquecer que ainda outro dia o prefeito Luiz Marinho virou assunto da mídia por ter -- segundo um representante dos empreiteiros -- sido beneficiado com dinheiro de propina na campanha rumo à Prefeitura de São Bernardo.
A individualização em forma de delação premiada não significaria que a força-tarefa estaria pronta a obter informações importantes de alguém necessariamente ligado ao PT e ao sindicalismo. Há indicativos de que pode ser alguém que atue em campo neutro do ponto de vista hierárquico partidário e também da gestão pública. Alguém que conhece os meandros do poder porque do poder retirou nacos importantíssimos de vantagens fora do padrão convencional.
A Lava Jato demorou para chegar à região, ou chegou de maneira muito amena, mas tudo indica que pode fazer um arrastão se o delator premiado dotado de língua de cascavel confessar tudo o que sabe e que vai muito além da Petrobras.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!