Sociedade

Lava Jato na Província: língua
solta pode espalhar estragos

DANIEL LIMA - 25/11/2015

Por ser Província em todos os sentidos estamos em terceiro plano nas investigações da Operação Lava Jato, mas tudo indica que os efeitos vão chegar até aqui, porque ramificações técnicas e inspiradoras estão aqui faz muito tempo. Sabe-se que a megaoperação conta com um potencial delator premiado na região. As aproximações estariam se dando conforme a cronologia das apurações centrais que apertam o Partido dos Trabalhadores. Tem-se como certo que não haveria escapatória. A Lava Jato chegaria mesmo com força por aqui. E faria um estrago dos diabos. Principalmente porque a suposta delação premiada tem como protagonista alguém que não suporta a menor pressão. Difícil seria segurar a língua solta que se manifestaria.


 


A pergunta que mais se faz nos bastidores das investigações que dão conta desse colaborador premiado é até que ponto ele se limitará a clarear o ambiente regional apenas ligado ao Partido dos Trabalhadores e também à Lava Jato. O delator premiado é múltiplo nas incursões. Sabe da vida de todo mundo que participa do jogo politico e também do entorno econômico beneficiário de articulações de bastidores.  Há vários castelos de areia a serem destruídos na região. Os leitores que acompanham esta revista digital não precisam de muito esforço de memória para entender o que quero dizer.


 


Abrindo o bico 


 


Não adianta me apertarem porque não vou revelar o nome que está no bolso do colete da Operação Lava Jato como alguém que mais dia menos dia vai abrir o bico, porque se não abrir o bico vai se trumbicar. Aliás, vai se trumbicar de qualquer maneira, mas vai se trumbicar menos que os demais que não aceitaram colaboração amenizadora de penas pelos delitos cometidos.


 


Trabalha-se com a informação de que o delator premiado teria vida de imersões no mundo político da região que remonta o primeiro dos escândalos do PT, o mensalão de penas bem mais suaves. Entendem os investigadores que o delator premiado que consta da lista com potencial de colaborar intensamente com a Lava Jato tem memória de elefante quando a ameaça de prisão surge como contraponto aos chamados malfeitos. Ele conheceria como poucos os detalhes de cada encruzilhada em que se meteram agentes públicos e privados na disputa pelo poder e pelo dinheiro. A situação em que se encontra não permitiria crise de amnésia. Até porque os nervos afloram sempre que se vê apertado – embora publicamente saiba camuflar os incômodos.


 


Não é a qualquer um que a força-tarefa concede a gentileza da delação premiada. A equipe de procuradores, policiais federais e juízes não sai por aí distribuindo senhas a quem quer contar alguma coisa. O critério de seletividade está cada vez mais apurado. A sistematização e o encaixe de diferentes enredos foram cuidadosamente organizados ao longo das ações. A isso se dá o nome de racionalidade ou de produtividade investigatória.


 


Música conhecida


 


Já não é preciso cantar a música inteira para conhecer o ritmo e a letra. Bastam – como em programas de auditório que desafiavam a sensibilidade musical dos candidatos -- os primeiros acordes. Os fatos novos que levam a conclusões novas são uma árvore quase rara na floresta de crimes. Praticamente quase todo o enredo já está escrutinado. Agora a questão é explorar os veios.


 


A força-tarefa da Lava Jato, entretanto, não despreza o que chamaríamos de novidades à tipificação geográfica de narrativas  criminosas direta ou indiretamente relacionadas ao escândalo da Petrobras. Quando se sabe que a Província é sede do Polo Petroquímico de Capuava, e quando se sabe também que a Braskem opera nestas paragens, e que a Braskem fez uma sociedade de lances considerados obscuros com a Petrobras, agentes públicos e privados da Província do Grande ABC saltam senão ao centro do palco de operações, mas num espaço suficientemente importante para ser iluminado e chamar a atenção da plateia.


 


Também não se pode desconsiderar que, além do cruzamento geográfico, político e econômico do Polo Petroquímico, há encruzilhadas ditadas pela repartição do poder petista em âmbito federal com hierarquias de gestão pública e do sindicalismo da região. Nesse ponto, salta à vista a influência do ex-presidente Lula da Silva.


 


Ou seja: há elementos de sobra para que muita gente desconfie de muita gente sobre a identidade do delator premiado que surge no horizonte da Lava Jato. Todos torcem para que tudo não passe de especulação, mas como ontem o noticiário colheu um dos amigos diletos de Lula da Silva, recrudesceu o ambiente de inquietação na região.


 


Abrangência preocupante


 


Até que ponto a corda da preocupação vai apertar o pescoço dos malfeitores da região potencialmente inseridos na Operação Lava Jato é uma resposta desafiadora. Seria a Província tão pouco importante no universo do escândalo da Petrobras a ponto de ser subestimada pela Força Tarefa ou tudo o que se viu até agora, de certo distanciamento do noticiário político-criminal, não passaria mesmo do silêncio que antecede barulho?


 


Não se pode esquecer que ainda outro dia o prefeito Luiz Marinho virou assunto da mídia por ter -- segundo um representante dos empreiteiros -- sido beneficiado com dinheiro de propina na campanha rumo à Prefeitura de São Bernardo.


 


A individualização em forma de delação premiada não significaria que a força-tarefa estaria pronta a obter informações importantes de alguém necessariamente ligado ao PT e ao sindicalismo. Há indicativos de que pode ser alguém que atue em campo neutro do ponto de vista hierárquico partidário e também da gestão pública. Alguém que conhece os meandros do poder porque do poder retirou nacos importantíssimos de vantagens fora do padrão convencional.


 


A Lava Jato demorou para chegar à região, ou chegou de maneira muito amena, mas tudo indica que pode fazer um arrastão se o delator premiado dotado de língua de cascavel confessar tudo o que sabe e que vai muito além da Petrobras.


Leia mais matérias desta seção: Sociedade

Total de 1097 matérias | Página 1

21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!
20/01/2025 CELSO DANIEL NÃO ESTÁ MAIS AQUI
19/12/2024 CIDADANIA ANESTESIADA, CIDADANIA ESCRAVIZADA
12/12/2024 QUANTOS DECIDIRIAM DEIXAR SANTO ANDRÉ?
04/12/2024 DE CÃES DE ALUGUEL A BANDIDOS SOCIAIS
03/12/2024 MUITO CUIDADO COM OS VIGARISTAS SIMPÁTICOS
29/11/2024 TRÊS MULHERES CONTRA PAULINHO
19/11/2024 NOSSO SÉCULO XXI E A REALIDADE DE TURMAS
11/11/2024 GRANDE ABC DOS 17% DE FAVELADOS
08/11/2024 DUAS FACES DA REGIONALIDADE
05/11/2024 SUSTENTABILIDADE CONSTRANGEDORA
14/10/2024 Olivetto e Celso Daniel juntos após 22 anos
20/09/2024 O QUE VAI SER DE SANTO ANDRÉ?
18/09/2024 Eleições só confirmam sociedade em declínio
11/09/2024 Convidados especiais chegam de madrugada
19/08/2024 A DELICADEZA DE LIDAR COM A MORTE
16/08/2024 Klein x Klein: assinaturas agora são caso de Polícia
14/08/2024 Gataborralheirismo muito mais dramático
29/07/2024 DETROIT À BRASILEIRA PARA VOCÊ CONHECER