Aparecer em investigação da Polícia Federal na Operação Zelotes, que apanhou o lobista Mauro Marcondes e outros agentes muito próximos do governo federal, não é exatamente um tranquilizante para o prefeito Luiz Marinho, de São Bernardo. Mauro Marcondes aparece como doador de campanha eleitoral de Marinho. Nada de mais, claro, se não houver alguma coisa demais.
Em 15 dias Luiz Marinho apareceu duas vezes em situação desagradável. A primeira por conta de delação premiada de um dos representantes dos empreiteiros que se refastelaram na Petrobras.
A Operação Zelotes não teria nada a ver com a Operação Lava Jato ou faria parte de ação sistêmica para engordar os cofres partidários e pessoais de representantes do PT?
Luiz Marinho emergiu nos desdobramentos da Operação Zelotes. Mais especificamente nas negociações dos caças suecos Gripen, as quais, segundo o Estadão de ontem, reportando-se a investigações da Policia Federal, entraram no circuito de relações sensibilizadores da empresa de Mauro Marcondes.
Esse ex-executivo da então Saab Scania de São Bernardo -- e dirigente da Anfavea antes de criar uma consultoria -- está preso juntamente com a mulher e outros suspeitos de atuarem clandestinamente em instâncias formais com poder de decidir a sorte de medidas provisórias, especificamente do setor automotivo. O que muitos consideravam folclore parece encaminhar-se à materialidade de fatos – lobistas que giram em torno das montadoras e dos sindicatos não atuavam seguindo preceitos éticos e morais. Seriam mercadores privilegiados nos escaninhos do poder.
Contorcionismo explicativo
Convenhamos que Luiz Marinho vai precisar de contorcionismo explicativo bem fundamentado para dar um nó nas interrogações e desconfianças que podem abalar sua imagem pública. Quando a realidade sugere que coincidências demais podem ser outra coisa, o melhor a fazer é atuar com transparência.
Um prefeito de cidade tão importante como São Bernardo não pode ficar em silêncio ante delação premiada que o coloca no circo que pega fogo da Operação Lava Jato e tampouco na zona do agrião da Operação Zelotes -- que também poderá adotar o modelo de colaboração recompensada.
Tudo indica que o filho do ex-presidente Lula da Silva, Luís Cláudio da Silva, está enroscadíssimo na Operação Zelotes. A mais recente informação sobre o caso afirma que a Polícia Federal considerou “contraditórias e vazias” as versões apresentadas para explicar o pagamento de R$ 2,5 milhões à empresa LFT Marketing Esportivo, entre 2014 e 2015. A documentação que comprovaria a prestação de serviços é pífia. Boa parte foi retirada do site Wikipédia, cuja possibilidade de consagrar idiotas é proporcional à ingenuidade de quem subestima fraudes. Não é o caso da Polícia Federal.
Grande dor de cabeça
Talvez os caças Gripen, pelos quais, segundo o Estadão, o lobista Mauro Marcondes fez gestões federais, seja uma dor de cabeça monumental para o prefeito Luiz Marinho. Até hoje o petista não respondeu a questionamentos desta revista digital sobre a participação sempre estranha de seu amigo pessoal, o advogado Edson Asarias, nos bastidores do negócio.
Edson Asarias teria agido até determinado limite. Que limite é esse? Há possibilidade de representantes suecos terem se incomodado e descoberto algumas derivações pouco ortodoxas a sincronizar os interesses dos petistas de São Bernardo e a construção de uma fábrica de estruturas que colocaria a região no circuito de fornecedores dos caças. Um puxadinho industrial, para ser mais preciso, porque a base produtiva e de engenharia tecnológica estará em São José dos Campos e em Gavião Peixoto, comandada pela internacional Embraer. A linguagem que utilizo é hermética por precaução. Algo que teria faltado aos agentes locais na busca pelo investimento. Edson Asarias é uma peça-chave desse enxadrismo repleto de dúvidas. Ao que consta não frequenta mais os ambientes de outrora, quando desfilava ternos bem cortados e perfume acima do bom gosto olfativo.
O silêncio dos últimos tempos da Administração Luiz Marinho sobre os caças suecos pode ser um indicativo sólido de que, diferentemente do que tanto se divulgou, a consumação de parceria entre a Saab e o Grupo Inbra, com sede em Mauá e indicado pelos petistas, não é lá a maravilha tanto propagada.
Notaram que o nível de reticências sobre as ações administrativas de Luiz Marinho induz à desconfiança? O silêncio do petista ante o convite a um contraditório fértil dá elasticidade às dúvidas e alimentam idiossincrasias. Ou até podem sugerir que mesmo as ilações mais cabeludas têm alguma lógica.
A interpretação de que Luiz Marinho não escapará da Operação Lava Jato e agora também da Operação Zelotes, portanto, não é resultado de perseguição maquiavélica e malvada a um pobre prefeito indefeso. Trata-se de demanda por informações que a sociedade espera ver atendida.
Há paralelismo contextual para tentar entender as razões pelas quais Luiz Marinho sempre faz ouvidos de mercador diante de informações que tenham em comum demanda por esclarecimentos: moldado nas lides sindicais, no mesmo grupo de dirigentes que alçou Lula da Silva ao estrelato a partir do final da década de 1970, Luiz Marinho e todos seus pares, bem como tanto outros autointitulados representantes dos trabalhadores, acostumaram-se à versão unilateral dos fatos, quando não à prepotência de se sentirem incomodados e mesmo violentados na honra quando colocados junto à parede.
Mídia bajulativa
Parte dessa responsabilidade é da própria mídia baba-ovo que, salvo exceções, faz do noticiário sindical bajulação permanente. Uma besteira e tanto porque não leva em conta, entre outros aspectos, a sincronia macabra entre atraso sindical e a derrocada internacional da indústria nacional, notadamente onde têm maior influência.
Raramente, muito raramente, a mídia nacional, sobretudo os grandes jornais, dedica aos sindicalistas uma porção apenas do tom crítico do qual não escapam os políticos. Há no noticiário econômico-sindical blindagem tão anacrônica quanto comprometedora ao respirar de novos ares institucionais no País. Não fossem os sindicalistas cada vez mais participativos na vida econômica nacional, o descuido já seria imperdoável. Como galgam cada vez mais postos na hierarquia político-partidária de influência no destino da população, tornam-se compulsoriamente elementos à observação atenta.
Luiz Marinho ainda não se deu conta de que não é mais sindicalista, pelo menos oficialmente, mas um homem público sujeito a prestar contas permanentemente.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!