Sociedade

República do ABC caiu na
rede da Lava Jato e da Zelotes

DANIEL LIMA - 01/12/2015

Demorou a chegar, mas está chegando forte o que chamaria de tsunami regional. Há controvérsias sobre o impacto que as investigações vão causar na região, mas é certo que a ideia de que a Província do Grande ABC escaparia da degola de nomes graduados se converteu em torcida frustrante.


 


Estão em plena ação tanto as forças operacionais que tratam das roubalheiras na Petrobras como dos descaminhos das medidas provisórias que favoreceram o setor automotivo, além de desdobramentos patrocinados pelos lobistas. 


 


A abrangência e as conotações múltiplas estimuladas pelo uso da expressão República do ABC transformam a Lava Jato e a Zelotes em ponto de exclamação seguido de ponto de interrogação. Traduzindo: haverá estragos homéricos em determinados endereços, certamente, mas também pode haver complicações extremas em outras áreas não diretamente investigadas.


 


É tão certo que a República do ABC é um centro de gravidade de iniciativas pouco ortodoxas como tão intrigante são as ramificações dos agentes que constam da lista de suspeitos de forças tarefas decididas a incluir o mapa regional no mapa nacional de trambicagens diversas.


 


A permissividade proporcionada pela condição de subúrbio de uma capital tão asfixiante como São Paulo possivelmente não livrará a cara de gente que nadou de braçadas ao longo dos anos na região. Tem-se como certo que ao cair em rede nacional de malandragens a partir da ascensão de Lula da Silva ao governo federal, a Província do Grande ABC abriu as portas também a visitantes indesejáveis.


 


Delação premiada


 


Dá-se como certo que o lobista Mauro Marcondes, muito próximo do petismo cutista de São Bernardo, não resistirá ou já não estaria resistindo à delação premiada. Ele está entre a quase duas dezenas de agentes públicos e privados que o Ministério Público Federal acaba de denunciar por envolvimento na compra de medidas provisórias da Operação Zelotes.


 


Iniciada em 2013, a investigação sobre irregularidades no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), órgão vinculado ao Ministério da Fazenda, ainda está só no começo: “Conseguimos apenas a ponta do iceberg”, disse ao Estadão de hoje a procuradora regional da República, Raquel Branquinho. Ela assina a denúncia junto com o também procurador regional José Alfredo de Paula e Silva e os procuradores da República Marcelo Ribeiro e Frederico de Carvalho.


 


Não existe nada de leviano na apresentação de um cenário tenebroso para determinados setores econômicos da região, notadamente vinculados ao sindicalismo da Central Única dos Trabalhadores, e também a agremiações partidárias, sobretudo ao PT, quanto aos desdobramentos das duas operações.


 


A expressão República do ABC está fortemente vinculada na cultura regional como adereço definidor tanto dos petistas quanto dos cutistas. Há quem atribua conotação positiva à marca, mas não parece que exista qualquer similitude que lembre, vagamente que seja, a reviravolta palmeirense ao transformar o “porco” depreciativo dos adversários em grito de guerra nas arquibancadas. República do ABC teria, portanto, destino inexorável. Significaria o que existiria de massa bruta de passivos das duas agremiações, segundo avaliação de adversários regionais.


 


Empreiteira enrolada


 


Uma das maiores complicações da Administração de Luiz Marinho nesse período de pressão foi analisada há exatamente um ano, em primeiro de dezembro do ano passado, nesta revista digital. Sob o título “Não faltam indícios que estendam Lava Jato à Administração Marinho”, discorri longamente sobre um assunto que estava e continua congelado pela mídia regional -- e que jamais chamou a atenção da mídia nacional. Vejam alguns trechos dos primeiros parágrafos daquele trabalho jornalístico:


 


 A possibilidade de a Administração Luiz Marinho estar envolvida na rede de corrupção da Operação Lava Jato é muito mais provável do que o prefeito de São Bernardo gostaria. As relações com a empreiteira OAS, uma das integrantes do clube que transformou a Petrobras em palco preferencial de roubalheiras investigadas pela Polícia Federal, são mais que suspeitas. Marinho contou com forte colaboração da empreiteira, e de sua parceira regional, a Emparsanco, para arrecadar dinheiro às duas campanhas em que se tornou vitorioso na disputa eleitoral de São Bernardo. Mas isso é apenas uma parte do enredo que coloca sob forte suspeição o relacionamento entre a gestão petista e uma das grandes operadoras do escândalo da maior estatal brasileira. Nos quatro anos do primeiro mandato de Luiz Marinho, entre 2009 e 2012, a megaempreiteira assinou contratos que superam R$ 1 bilhão, em valores nominais, com o gestor petista. Houve várias denúncias envolvendo o relacionamento entre a empreiteira e a administração petista.


 


Mais informações


 


Sugiro que ao encerramento da leitura deste texto o leitor acesse a matéria completa que consta do link abaixo. Poderá se verificar a minuciosidade com que me dediquei ao assunto. Descer a detalhes faz parte de minha característica como jornalista, em contraponto a certo desleixo fora das quatro linhas do gramado profissional. Costumo dizer que seria chatíssimo me comportar 24 horas por dia como se fosse obrigado a observar cada minuto como pedaço do mosaico de construção jornalística. Adoro meu lado pessoal e sei desligar a chave quando necessário para curti-lo.


 


Se nesse caso específico de relação com a OAS a Administração Luiz Marinho parece mais que enroladíssima, porque as denúncias foram muitas e o silêncio dos últimos anos insinua que poderiam ter ocorrido algumas inconformidades dignas de investigações, o que dizer então sobre as negociações para a compra dos caças suecos Gripen, um já configurado desdobramento da Operação Zelotes?


 


Fugindo do perigo?


 


A Administração Luiz Marinho jamais se pronunciou a esta revista digital sobre os contratos firmados com a OAS e também não deu bola, em setembro deste ano, quando propus em matéria sob o título “Sugestão a Marinho: convide-me para entrevista sobre caças Gripen”, esclarecimentos sobre a anunciada fábrica de estruturas que estaria reservada para São Bernardo como consequência de inúmeras atividades do prefeito em busca do investimento. Leiam alguns trechos daquela matéria que também consta integralmente no link abaixo deste artigo:


 


 O passado do prefeito de São Bernardo – que também é presente porque ele se mantém irredutível no seletivismo de interlocutores – assegura que Luiz Marinho não topará jamais, mas vamos lá: ao invés de me acionar, como está acionando, na Justiça, como, aliás, o faz contra todos que supostamente o perseguem, por que não me convida a uma entrevista, aonde quiser, para que possa tirar todas as dúvidas e confirmar todas as certezas sobre o projeto dos caças Gripen? Como se sabe, estaria reservada a São Bernardo uma fábrica de estrutura dos aviões de combate suecos. É por traz dessa fábrica e de tudo que levou à projeção do empreendimento que residem dúvidas, muitas dúvidas, e certezas, várias certezas. (...) Sei que sei que a fábrica de estrutura metálica, ou seja, o esqueleto daquele projeto, não está tão garantida assim em São Bernardo. A companhia sueca não quer se meter em enrascada porque tem reputação internacional a zelar. Na Suécia o buraco é mais embaixo nos negócios entre instituições públicas e privadas. Não há espaço para petrolões – escrevi.


 


Questões incômodas


 


Uma das quase duas dezenas de indagações que enviei ao prefeito de São Bernardo dá ideia precisa do tom que imprimi porque o assunto assim o exigia. Leiam:


 


 Como o prefeito encara a informação que coloca a Saab em polo oposto ao da configuração inicial de participação de um sócio brasileiro sem aporte de recursos financeiros equivalente aos valores programados para a execução do projeto? Traduzindo em miúdos: tem sentido a informação de que o sócio brasileiro da fábrica do Gripen em São Bernardo quer 40% das ações sem o correspondente aporte financeiro, por conta de injunções políticas?


 


Advogado intermediário


 


Como a Imprensa independente não tem valor algum para o prefeito de São Bernardo, acostumado a mandar e a desmandar porque a síndrome de sindicalista impera como força de personalidade protegidíssima por um ex-presidente da República, possivelmente o petista já esteva sendo devidamente enquadrado nos rigores da lei da Operação Zelotes para explicar muitos pontos nebulosos que marcaram as negociações. Possivelmente lhe será tormentoso caminhar no pântano das relações que mantém com o advogado Edson Asarias, personagem relevante no lobby supostamente ligado à engrenagem de Mauro Marcondes. 


 


Leiam também:


 


Não faltam indícios que estendam Lava Jato à Administração Marinho


 


Sugestão a Marinho: convide-me para entrevista sobre caças Gripen


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