Sociedade

Seguro de veículo tem mesmo
de custar mais caro na Província

DANIEL LIMA - 01/02/2016

A notícia é desagradável e o tom adotado para transmiti-la chega a ser até politicamente incorreto num País em que se puxa muito a sardinha do bom-mocismo para a brasa da enganação: as apólices de seguros da frota de quase 1,7 milhão de veículos registrados nos sete municípios da região custam em média mais caro que as encontradas na Capital e nos 15 municípios economicamente mais fortes do Estado de São Paulo porque assim é que tem de ser. No ano passado, foram roubados e furtados proporcionalmente na região nada menos que 32,75% mais veículos que nos 15 municípios mais importantes do Estado. E 7,40% mais que na própria Capital.


 


Se o preço de cada uma das apólices de seguro de veículos da região é justo ou não é outra história. O fato é que, comparativamente a outros endereços municipais, tem realmente de custar mais. Caso contrário, o regime capitalista seria uma farra do boi que não levaria em conta as probabilidades de rentabilidade e de prejuízo. A chamada sinistralidade de veículos na região é mesmo elevada.


 


Por isso, e por mais que o quadro criminal sobrerrodas na Província do Grande ABC tenha melhorado continuamente nos últimos anos, a verdade precisa ser dita e repetida: nossas apólices custam mais porque os bandidos roubam e furtam mais veículos na região.


 


O cálculo adotado pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo é um dos instrumentos de avaliação das companhias de seguro. A divisão do número de roubos e furtos pelo total da frota de cada município dá como resultado final a média de apontamentos para cada 100 mil veículos registrados.


 


Acima dos concorrentes


 


No ano passado foram roubados e furtados 19.666 veículos de todos os tipos nos sete territórios locais, o que dá a média de 1.166,81 registros para cada 100 mil veículos cadastrados. Contamos em 2015 com uma frota registrada no Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) de 1.685.446 veículos. A média de roubos e furtos de veículos nos 15 maiores municípios do Estado que, com os sete da região, formam o G-22 analisado em vários vetores por esta revista digital, é 32,75% inferior, com 39.401 registros para uma frota somada de 5.021.666 unidades. Ou seja: houve 784,62 roubos e furtos para cada 100 mil veículos regularmente registrados nos 15 municípios.


 


Os integrantes do G-22 somaram entre furtos e roubos 63.943 registros na temporada passada. Quase 20 mil unidades a menos que os 82.005 veículos roubados e furtados na Capital do Estado, que conta com frota de 7.590.181 veículos. Somando-se o G-22 e a Capital, o total de roubos e furtos de veículos chega a 145.948. Esse resultado significa 77,08% do total de registros de ocorrências no Estado de São Paulo.


 


O ainda lastimável desempenho criminal da Província do Grande ABC no ranking de roubo e furto de veículos melhorou bastante no ano passado quando se toma o pulso do total de registros. Em relação ao ano anterior, 2014, a Província apontou queda de 19,86%. Foram 24.542 casos registrados em 2014 ante 19.666 no ano passado. Os 15 municípios fora da região que integram o G-22 apontaram queda inferior, de 13,84%. Foram roubados e furtados 45.731 veículos em 2014 ante 39.401 no ano passado.


 


Questão de lógica


 


É antiga a conclusão deste jornalista, que se dedica ao tema desde os tempos em que comandava a revista LivreMercado, sobre o exagero de pretender emparelhar os custos de apólices de veículos roubados e furtados na região a outras geografias. Da mesma forma que as equipes de futebol que garantem maior audiência devem receber cotas maiores das emissoras de televisão, os valores de apólices de seguros de veículos tendem a ter custos maiores onde há maior incidência de registros policiais. É assim que tem sido com a Província.


 


A configuração estatística com base na divisão de roubos e furtos de veículos por cada grupo de 100 mil veículos da frota de cada Município é uma modalidade de cálculo que baliza a atuação das companhias de seguros. E nesse ponto os números são terrivelmente ruins para a região. Goste-se ou não, motoristas que trafegam pelas ruas locais correm maiores riscos do que quando trafegam pelo Interior do Estado. Mesmo nos grandes municípios do Interior do Estado. E também nas ruas da Capital. Os dados criminais estão aí para sustentar as planilhas das seguradoras.


 


Tudo isso significa que proprietários de veículos semelhantes, da mesma marca, modelo, ano de fabricação e tudo o mais não devem puxar os cabelos e acreditar que há algo de conspirador por pagarem mais caro por apólices de motoristas que, igualmente, tenham perfil pessoal semelhante.


 


Dois gêmeos que tenham exatamente o mesmo tipo de veículo, praticamente sem qualquer diferenciação, vão pagar valores diferentes, bem diferentes, se um deles morar num dos municípios da região e o outro numa cidade do Interior, como Taubaté, por exemplo. A planilha de registros criminais da Secretaria de Segurança Pública revela o tamanho. Basta pesquisar e calcular.


 


Metrópole convidativa


 


Amanhã vamos dar exemplos práticos, esclarecedores, didáticos, sobre a razão de os proprietários de veículos da região não terem saída ante o que chamaria de Custo ABC. Para ser mais preciso, de Custo Metrópole, porque os grandes municípios da Região Metropolitana de São Paulo são farinha do mesmo saco de complicações criminais sobrerrodas.  


 


Eles vivem num território disputadíssimo pela bandidagem em busca de dinheiro fácil. Roubar e furtar veículos são um grande negócio no mundo do crime. E os malfeitores podem não ser economistas, mas sabem o que é ganho de escala quando se trata de maximizar receitas. A oferta disponível principalmente nas ruas é abundante.


 


A Região Metropolitana de São Paulo, sobretudo os grandes municípios que a integram, são uma oportunidade de ouro para ligar a chave de ignição ante a ausência do proprietário (furto) ou se apossando do bem com o uso potencial de violência (roubo).


 


A legitimidade do debate que se deveria promover na região sobre o custo das apólices de seguro de veículos perde o foco e a consistência quando se procura dourar a pílula e fugir da realidade de que nossas ruas e avenidas são passarelas preferenciais da bandidagem disposta a sair motorizada com veículos que não lhe pertence. Enfrentada essa realidade, a discussão ganharia consistência se fosse direcionada a entender por completo todos os mecanismos de rebaixamento dos registros policiais sem a correspondente queda dos valores das apólices.  Não se trata de tarefa fácil. Principalmente porque as companhias seguradoras contam com ampla liberdade de estabelecer valores que mais lhes convém, os quais não parecem guardar qualquer sentido de competitividade.


 


Faltam referenciais internacionais para entender como funciona o mercado de seguros de veículos no País. Não se tem notícia sobre qualquer instituição pública, privada e social que tenha decidido abrir essa caixa-preta.


 


Apólice de seguro de veículo tem de ser mais cara mesmo na Província, sustentam os dados oficiais. Mas isso não significa que precisa ser necessariamente o olho da cara. Quando o Estado não oferece garantia constitucional de segurança pública, quem paga a conta, mais salgada aqui, menos salgada ali, será sempre o cidadão.


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