Uma coisa é escrever, como já escrevi e volto a escrever, que não torço pelo São Bernardo (explico outra vez as razões mais abaixo). Outra coisa é escrever, como escrevi ontem enfaticamente e antes de ontem, moderadamente, que o São Bernardo é o melhor time – disparadamente – da região nesta temporada de futebol.
O que muitos não entendem, porque confundem uma coisa com outra coisa, é que possa existir alguém que separe claramente as coisas. Pois sou assim. Minha honestidade intelectual sobrepõe-se na função profissional ao descarrego verbal pessoal. Ou, de fato, o profissional e o pessoal se fundem numa mesma massa crítica?
Uma coisa é gostar pessoalmente do prefeito Carlos Grana, de Santo André, um homem afável e boa praça. Outra coisa é deixar de escrever que ele cometeu uma montanha de bobagens à frente da Prefeitura de Santo André a ponto de não se distinguir de antecessores imediatos em matéria de ineficiência administrativa.
Uma coisa é considerar o prefeito Luiz Marinho, de São Bernardo, um tremendo arrogante, e outra coisa é deixar de reconhecer que, no primeiro mandato, quando se preparou com uma força-tarefa especial para fazer de São Bernardo plataforma de embarque à disputa do governo do Estado, ele realizou uma ótima administração -- embora municipalista demais para o meu gosto.
Separando as coisas
Poderia elencar série de personagens e suas circunstâncias que engrossariam a lista de uma coisa e de outra coisa no sentido filosófico e prático da expressão. São muitas as situações que envolvem a atividade profissional de um jornalista a desafiar sua personalidade. Deixar-se contaminar por razões pessoais, políticas, ideológicas e comportamentais seria o pior dos mundos.
Separo timtimportimtim todas as coisas que me envolvem duplamente como profissional e como pessoa física que tenha correlação com o que chamaria de pessoa jurídica.
O interesse social no caso deste jornalista sempre esteve e provavelmente sempre estará acima do interesse pessoal. Isso me tem custado um bocado em termos financeiros e sociais. Tanto em forma de perseguição de adversários empedernidos quanto de admiradores a me oferecerem a possibilidade de consultoria.
Como se sabe, sou um cara bem ajambrado em algumas coisas. Faço o possível para escamotear minhas mediocridades, porque as tenho em larga proporção. Aliás, em muito maior escala do que as virtudes. A diferença é que tenho foco, muito foco. Sei até que ponto posso caminhar como propagador de mudanças. E onde devo parar imediatamente para não passar vexame. Não é todo mundo que tem ou desenvolve capacidade de distinguir uma coisa da outra.
Política burra
Voltando à origem deste texto, ouvi de um leitor ontem como é possível, tendo declarado como declarei, neste espaço, que não gosto do São Bernardo e tampouco do presidente do São Bernardo, o deputado Luiz Fernando Teixeira, escrever que a equipe é disparadamente a melhor da região e, também, escalar sete jogadores do São Bernardo na Seleção da região que criei para tentar dar a dimensão do comportamento individual e coletivo das equipes locais nesta temporada de Campeonato Paulista em suas duas versões.
Minha resposta simples e direta foi mais ou menos o que escrevi acima. Principalmente quanto ao aspecto de honestidade intelectual. Não ouso ir para a cama com eventual passivo delitivo de informação manipulada dolosamente por mim mesmo. Não me aceitaria como jornalista. Teria de prestar contas a mim mesmo. Equívocos todos cometemos, mas deliberadamente não aceitaria essa fraqueza. Escrever é um ato generosamente plasmado no embalo da alma que não pode ser pequena.
Não gosto do São Bernardo porque é um time político-partidário. Burramente político-partidário. Poderia ter sido instrumento de catalisação de todas as classes sociais de São Bernardo, mas se amesquinhou em ser petista, em entregar a camisa 13 ao então presidente Lula da Silva -- a ponto de nenhum outro jogador contar com a possibilidade de usá-la.
Não gosto do presidente do São Bernardo, Luiz Fernando Teixeira. Ele foi o principal agente de doutrinação político-partidária da equipe, espécie de vassalagem ao então presidente e também espécie de submissão aos interesses políticos do grupo comandado por Luiz Marinho e seu exército de sindicalistas.
Tempo a recuperar
Poderia expor outras razões que me levam a dizer que não gosto do presidente do São Bernardo, agora no campo da ética e da moralidade, e também no aspecto intelectual, por não ter por ele qualquer admiração como homem público. Poderia dizer mais coisas, mas meu sentimento pelo São Bernardo se esgota mesmo no gerenciamento político com que foi concebido e administrado até agora.
Quem sabe amanhã com novo gerenciamento e nova filosofia, além da recuperação da legitimidade de uso da camisa 13, meu sentimento sobre o São Bernardo passe por reversão. Algo que, claro, não me impediria de, diante de um contexto diferente do atual, ter de lhe reservar duras críticas esportivas. Como, aliás, tenho feito tanto ao Santo André quanto ao São Caetano, equipes pela quais torço muito.
Já sobre o Água Santa de Diadema, meu sentimento é muito mais grave do que em relação ao São Bernardo, porque invade outros terrenos. Jamais apreciaria um clube cujo presidente mal-educado retirou da cabine de imprensa, no único jogo em que estive no Distrital do Inamar, todos os jornalistas e radialistas ali presentes, enfiando espaço adentro apaniguados explícitos. Pena que não tenha podido provar também com o Água Santa, rebaixado à Série B após um desastrado campeonato, que uma coisa (o desencanto com um dirigente) é uma coisa e outra coisa (os resultados dentro de campo) é outra coisa.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!