Sociedade

Nem crise tira entusiasmo do
novo Clube dos Construtores

DANIEL LIMA - 16/05/2016

Sob a condição de anonimato, temerosos de retaliações, dirigentes do Clube dos Construtores e Incorporadores do Grande ABC festejam o novo formato de atuação da diretoria presidida há seis meses pelo engenheiro Marcus Santaguita. Não há melhor notícia para o mercado imobiliário da região do que a ressurreição institucional do Clube dos Construtores.

A troca do comando está na raiz das transformações que já se operaram, embora ainda longe do ponto ideal. Com Marcus Santaguita o Clube dos Construtores é um conjunto que busca a harmonia institucional que provavelmente chegará ao comprometimento social desejado. Com Milton Bigucci e um grupo minúsculo, a entidade tropeçou ao longo de 25 anos de mandatos improdutivos.

Essa é uma avaliação praticamente unânime dos representantes do setor. Eles repudiam sobretudo o viés de nepotismo familiar na entidade, tomada por representantes do conglomerado MBigucci. Ou seja: para a maioria dos entrevistados, o Clube dos Construtores não passava de extensão dos domínios da maior construtora da região, anomalia que se acentuou ao longo dos anos e que contribuiu com o afastamento da quase totalidade dos representantes do setor.

Fico muito à vontade para produzir um balanço provisório do Clube dos Construtores (que também é de incorporadores e de administradores de imóveis) porque nenhum outro jornalista ousou sequer escrever uma vírgula sobre a inutilidade imposta pela direção continuada de Milton Bigucci. Os novos dirigentes, distribuídos por várias pastas temáticas e com amplos poderes compartilhados, só estão na condição de companheiros de jornada de Marcus Santaguita porque o dirigente é a antítese do antecessor.

O Clube dos Construtores respira aliviado a ausência de Milton Bigucci, disse um dos mais ativos novos dirigentes. “Já não impera na classe a ideia de que somos empresários de segunda categoria; muito pelo contrário” – me disse um deles.

Preservação do filho

O anonimato ostensivo dos críticos das seguidas gestões de Milton Bigucci é o único recurso possível que este jornalista encontrou para uma avaliação daquele longo período de exclusivismo presidencial, bem como das mudanças que Marcus Santaguita já imprimiu em menos de seis meses de mandato.

Não fosse a garantia de que seus nomes não seriam revelados jamais, este jornalista não teria como traçar um paralelo seguro entre um estilo e outro de administrar. O estilo mandonista de Milton Bigucci é quase uma unanimidade entre os dirigentes que analisam cuidadosamente a mudança. Poucos na nova diretoria do Clube dos Construtores têm algum tipo de avaliação positiva do ex-presidente. O vice-presidente Milton Bigucci Júnior, tido como o reverso do pai, não foi ouvido por este jornalista. Nem seria preciso.

Há informações sobre a negociação que teria cercado a presença de Milton Bigucci Júnior estatutariamente como segundo dirigente mais importante na linha de sucessão do Clube dos Construtores. Um entrevistado foi categórico ao afirmar que Marcus Santaguita, o novo presidente, não se opôs ao que se chamou de mudança diretiva conciliatória ao aceitar o filho do presidente da MBigucci na chapa única definida para a esperada sucessão presidencial.

Segundo essa fonte, Bigucci Júnior reúne participativo e conciliador do novo titular da entidade e é visto pelos demais dirigentes como alguém disposto a somar esforços para restaurar a capacidade de a entidade organizar o setor na região. Essa avaliação, entretanto, não permitiria qualquer ilação que tenha como horizonte a eleição de Milton Bigucci Júnior como sucessor de Marcus Santaguita. Um dirigente chegou a ser categórico: “Precisamos desintoxicar a Acigabc de tudo que Milton Bigucci pai representou de personalismo. Só assim o mercado e a sociedade como um todo vão compreender a nova realidade que estamos vivendo”.

Agenda disputada

A agenda do Clube dos Construtores já é intensa. A previsão dos dirigentes é de colecionar soluções para o setor e para a sociedade na exata medida em que o que chamam de engrenagem obter ganhos sistêmicos, de complementaridade setorial. A descentralização diretiva, que jamais constou do léxico presidencial de Milton Bigucci, é a pedra de toque da nova gestão. E, principalmente, a caça ao individualismo.

Há vários ordenamentos que compõem a nova fase do Clube dos Construtores. Um dos mais entusiasticamente defendidos e que se tem fortalecido é de que ficou no passado a representação oficial de um ou de um grupinho de dirigentes. “Qualquer compromisso oficial envolvendo o Poder Público, principalmente, deve contar com o máximo de representação da classe para que as eventuais deliberações não saiam do campo institucional, do conjunto do mercado imobiliário, longe portanto de interesses privados de um ou de outro” – afirmou um dos dirigentes.

Uma das muitas escorregadelas éticas, assim definidas pelos dirigentes, que levaram à persistente queda da credibilidade de Milton Bigucci como presidente do Clube dos Construtores e, também, ao afastamento de colaboradores e associados, foi o arremate irregular da área pública que sedia o empreendimento Marco Zero. Não há entre os novos dirigentes da entidade um sequer que tenha tido conhecimento prévio do leilão realizado pela Prefeitura de São Bernardo em 2008. E também nenhum sequer que, informado sobre as condições de venda, não se surpreendesse com o valor do arremate, avaliado em menos da metade do valor de fato do mercado imobiliário de então.

Relações privadas

Discretamente, esses dirigentes dizem que Milton Bigucci beneficiou-se das relações institucionais em nome da entidade para obter informações privilegiadas junto à cúpula do então prefeito Willian Dib. Por isso, a despersonalização da representação do Clube dos Prefeitos em eventos de interesse geral da classe junto ao Poder Público é um código de honra não escrito pelos atuais dirigentes. “Qualquer área pública levada a leilão será amplamente divulgada pela entidade”, garantiu um dirigente.

Por entender que as atividades imobiliárias são um dos pontos relevantes à qualidade de vida nas grandes metrópoles, além de importantíssima vertente econômica pela ramificação da cadeia produtiva que representa, CapitalSocial seguirá acompanhando atentamente a atuação do Clube dos Construtores. Só com materiais de construção estão previstos gastos familiares de R$ 2,2 bilhões nesta temporada, segundo estudos da Consultoria IPC Marketing, maior especialista no assunto. Um valor semelhante a tudo que será gastos com medicamentos.

Os constrangimentos jurídicos por que tem passado este jornalista, cujo trabalho se funda em responsabilidade social associada à liberdade de expressão própria da atividade, não vão ameaçar esse roteiro. O presidente Marcus Santaguita prefere não se manifestar sobre as hostilidades do antecessor em relação ao trabalho da Imprensa, mas colegas da direção do Clube dos Construtores asseguram que ele e a entidade são contrários a qualquer tipo de medida que afronte a Constituição Federal e a liberdade de expressão.

Já mantivemos vários contatos com Marcus Santaguita. O dirigente é discreto o suficiente para afastar qualquer possibilidade de voltar ao passado da entidade. Em linhas gerais, está satisfeitíssimo com os impactos provocados pela composição da nova diretoria. Sabe-se que uma das razões desse comportamento é o grande fluxo de novos associados. O Clube dos Construtores ganha vitalidade em plena borrasca econômica. O quadro associativo teria dado salto triplo. As reuniões temáticas, antes raríssimas, registram forte presença de representantes da classe. Respiram-se novos ares na instituição.

Novos tempos

Trata-se, como se observa, de um bom começo. Tenho feito o possível para me conter sobre uma pauta mínima que o Clube dos Construtores precisa executar para deixar de vez no passado a inoperância do ex-presidente. Em dezembro de 2011 produzi uma proposta (veja link abaixo) que poderia revolucionar a entidade. O texto está praticamente intocável à avaliação e a investidas práticas.

O amadurecimento diretivo do Clube dos Construtores provavelmente atingirá um ponto especial em que a chave de ignição de iniciativas mais incisivas deverá ser acionada. Talvez o melhor nesse momento seja mesmo não ter pressa, embora não se possa desgrudar da premissa de que também é preciso transformar passivos em quinquilharias descartáveis.

Há generalizada constatação de que as mudanças no Clube dos Construtores são a melhor notícia institucional desta temporada na região e que essa nova realidade só não ganha a forma de mensagem pública assinada pela quase totalidade dos dirigentes -- e por agentes econômicos do setor que se afastaram da entidade e ainda não têm certeza de que tudo mudou -- porque teriam de se identificar.

O poder econômico do ex-presidente ainda paira como ameaça latente a qualquer tipo de posicionamento que identifique os novos representantes do setor. Eles preferem a discrição. Estão certos de que há na sociedade alguém com prerrogativas profissionais e constitucionais para contar a trajetória da entidade longe do oficialismo unilateral que CapitalSocial jamais aceitou. Jornalismo, como se nota, vale a pena, se a coragem não é pequena.

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