Já existem sinais de que o parasitismo institucional que assola sistemicamente a Província do Grande ABC está sendo rompido pela nova diretoria do Clube dos Construtores (e Imobiliárias e Administradoras) do Grande ABC, presidida pelo engenheiro Marcus Santaguita. Já há motivos para comemoração moderada. É apenas o começo de menos de seis meses de mandato, após a hecatombe de 25 anos de autoritarismo, omissões e obscuridades de Milton Bigucci.
O mercado imobiliário da região respira novos ares. Aos poucos o ambiente exorciza o centralismo, o individualismo e a intolerância do ex-presidente. Há uma atmosfera de entusiasmo num momento de inquietação geral, porque a economia -- e particularmente o setor de construção civil -- jamais viveu tamanha recessão desde o crash de 1929-1930.
Antes de explicar alguns dos pontos que me fazem acreditar que valeu a pena o bom combate jornalístico de ficar atento às nuances destrutivas dos seguidos mandatos de Milton Bigucci, não custa explicar o que é “parasitismo institucional”. Trata-se da regra quase generalizada das instituições privadas, públicas e sociais de contar com dirigentes que pouco fazem para as categorias que supostamente representam e, mais que isso, ignoraram completamente os anseios da sociedade, da qual mantêm distância típica de quem não pretende passar por qualquer tipo de pressão.
Voluntarismo caro
São voluntários que se acham, na maioria dos casos, intocáveis, pela simples razão de serem voluntários. Alguém precisa lhes dizer que o voluntarismo pode ser danoso aos participantes de um setor tanto quanto prejudicial aos cidadãos que contam com a sensibilidade transformadora de seus representantes instalados em postos de fácil intersecção com os poderes públicos.
Minhas fontes junto à diretoria do Clube dos Construtores estão entusiasmadas. A mais recente reunião da entidade, com mais de meia centena de construtores numa noite de trabalho, é a prova de que se respiram novos ares. O encontro, primeira vez na história, foi realizado na sede de uma construtora associada, em São Caetano, não na sede em São Bernardo.
O Clube dos Construtores que durante mais de duas décadas viveu do personalismo de Milton Bigucci agora conhece e reconhece o valor do associativismo. O presidente Marcus Santaguita não abre mão da descentralização das iniciativas dos três vértices da associação: construtores e incorporadores de um lado, imobiliárias de outro e administradoras de imóveis para completar.
Já são várias as reuniões de trabalho a envolver dirigentes e associados – muitos novos associados, por sinal – para acelerar o ritmo de recuperação do Clube dos Construtores. A agenda é intensa. A voz geral é de que a substituição de Milton Bigucci permitiu a chegada de novas lideranças. Nem se cogita mesmo na brincadeira a volta do velho dirigente envolvido em série de complicações.
A grande novidade que o Clube dos Construtores prepara – e da qual pretendo participar num próximo texto ao abordar algumas questões importantíssimas para o setor e para a sociedade como um todo – é a preparação de amplo planejamento de propostas que serão entregues aos candidatos às prefeituras da região. O que pretendem em nome da classe é obter o compromisso dos concorrentes em dar o máximo de atenção ao agrupamento de ideias.
Responsabilidade social
Esperam os dirigentes que haja a participação de todos os associados. O encontro em São Caetano foi um ensaio geral nesse sentido. As facilidades de comunicação permitirão que iniciativas individuais se juntem num conjunto de sugestões que passarão pela etapa de sistematização até se chegar a um denominador comum. Torço para que o Clube dos Construtores encontre o encaixe necessário para não permitir que ranços corporativistas se sobreponham à responsabilidade social que a atividade exige – e uma das razões que me levaram a combater o absolutismo de Milton Bigucci.
Quem conhece mais de perto Marcus Santaguita e outros dirigentes do novo Clube dos Construtores não tem dúvidas em antecipar que o produto final a ser levado aos prefeitos não abrirá espaços a individualidades que solape os interesses coletivos dos representantes do setor imobiliário e os anseios da sociedade.
O momento para repensar o uso e a ocupação do solo na Província do Grande ABC não poderia ser melhor. O mercado imobiliário regional vive crise mais grave do que em qualquer outro endereço. A derrocada do setor automotivo é a senha da desarrumação geral da atividade. Construtores de todos os tamanhos, bem como corretores de imóveis e administradoras, comem o pão que o diabo amassou após quatro, cinco anos, de fastio.
Puxando a fila
Não é a primeira nem será a última vez que afirmo peremptoriamente que a atividade imobiliária poderá possibilitar as maiores mudanças de representatividade de uma classe.
Para começo de conversa, o Clube dos Construtores é regional agora de fato e para valer, com a criação de vice-presidências para atuar diretamente em Santo André e São Caetano. Nenhuma outra entidade privada tem esse perfil. São municipalistas e autárquicas. As entidades de cunho regional, como Clube dos Prefeitos e Agência de Desenvolvimento Regional, não passam de tentáculos político-partidários divididos em sete pedaços.
Tenho esperança de que o Clube dos Construtores vai virar referência às mudanças de que tanto a região necessita. A capacidade multiplicadora de ações dos novos dirigentes está sendo colocada em prática ainda a uma velocidade que até pode não me agradar, mas é suficientemente acalentadora ao permitir traçar perspectiva de novos tempos para valer.
Que as demais entidades de classe empresarial, sindical e social mirem o exemplo que brota no Clube dos Construtores. Acordem para novos tempos à recuperação desta Província dominada pelo parasitismo que alimenta a bancarrota ética e moral que tanto nos assola. Chega de patifarias. Chega de mandonismos. Santaguita e seus companheiros de jornada não podem fracassar, sob pena de botarem tudo a perder. Como se já não tivéssemos perdido quase tudo.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!