A Operação Custo Brasil, deflagrada ontem por nova força-tarefa dos federais, é filhote da Operação Lava Jato. Está sacramentada que vai chegar à Província do Grande ABC. É da natureza politicamente modificada do PT relacionar-se com gente graduada do partido na Província. A origem sindical de João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT e, segundo as novas denúncias, coordenador do esquema de rapinagem, era a pedra de toque de aproximações doutrinárias.
Alguns nomes da região já estão entre os envolvidos. Outros que não apareceram num primeiro momento não escaparão. O resultado é mais do que lógico. Não fosse pelas evidências, seria pela aritmética: com tanta gente petista da região que ascendeu ao governo federal desde a primeira eleição de Lula da Silva, seria inevitável quando não compulsório que as investigações da Operação Lava Jato enlaçassem esse território.
Somos República do ABC cada vez mais no sentido mais sórdido da marca. Já estamos estigmatizados nacionalmente. Se antes sofríamos com a imagem de um sindicalismo rebelde, agora viramos incubadora de malandros. Da mesma forma que República de Curitiba virou ícone de republicanismo.
E tudo isso pode piorar muito, mas muito mesmo. João Vaccari Neto não levou adiante ainda, segundo consta, uma deleção premiada destruidora. Segundo frase do ex-tesoureiro do PT, lhe atribuída por uma fonte da revista Veja, a CUT (Central Única dos Trabalhadores) iria pelos ares se ele contar tudo o que sabe.
Mais que Economia
O Custo ABC no interior do Custo Brasil deixa de ser, portanto, uma marca de improdutividades econômicas específicas. Se não estiver enganado foi o médico, empresário e dirigente da Fiesp Fausto Cestari quem cunhou a expressão “Custo ABC”, nos idos de 1990. Ele se referia especificamente às desvantagens competitivas das quais não nos livramos em duas décadas. Mais que não nos livrarmos, as acrescentamos de tal ordem que parece não haver mais forma de removê-las.
Agora o Custo ABC se estende às ramificações de criminalidade de colarinho branco e de outras indumentárias antes intocáveis. Deixa, portanto, o gueto das editorias de Economia dos jornais. Dobrou o cabo da boa esperança ao cair na farra geral do controle organizadamente deletério do Estado por forças que antes se proclamam protetoras do patrimônio nacional. Forças absurdamente alheias às próprias consequências dos estragos que promoveu. Tanto que ainda contam com o reforço de acadêmicos a produzir teorias em defesa de estatais esquartejadas pelos nobres companheiros.
Houvesse algum dispositivo tecnológico a medir o batimento cardíaco dos mandachuvas e mandachuvinhas da região num dia como o de hoje, de evolução contínua do noticiário sobre a Operação Custo Brasil, teríamos registrado trombose vascular. Sobretudo em determinados territórios até outro dia sagrados a uma maioria seletiva de bem-aventurados que se refestelaram com politicas públicas, por assim dizer, do governo federal. Estou me referindo especialmente aos paços municipais que abrigam administradores e secretariados petistas. Mas não estão fora do esquadro partidos aliados.
Ambiente em ebulição
Há um ambiente regional de intensa preocupação com os desdobramentos da Operação Lava Jato -- como é o caso da Operação Custo Brasil. Mais que a inquietação com a intensidade do noticiário a indicar que novas prisões vão ganhar as manchetes, o que causa mais tremores é a dúvida sobre até que ponto novas investigações impactarão cidadelas antes inexpugnáveis. É claro que os batimentos cardíacos fora do tom, como se cuícas e pandeiros adaptados a cortejo fúnebre fossem, são mais preocupantes. O que está feito e apurado já não tem alternativa. O que atormenta a todos é o que pode vir.
Uma coisa é certa: como a região não passa de satélite na geopolítica nacional, por mais que a gestão petista a tenha colocado no centro do poder federal, as investigações chegarão aqui com certa defasagem no tempo. Primeiro vão ser recolhidos os grandões nacionais. Depois os grandões regionais.
Os federais têm planejamento. Sabem o que fazer. A industrialização de prisões vinculadas às investigações já consumadas, a novas denúncias e a delações que não param de chegar, obrigam os federais a atuarem como executivos de empresas com compromisso de produtividade: atacam os pontos mais relevantes sistemicamente, os quais os conduzem a queimar etapas com maior eficiência e segurança.
Ou seja: a Operação Custo Brasil não passa de efeito vinculante de outras investigações. Os escândalos nacionais, como bem definiu alguém outro dia, são uma espécie de caixinha de lenços higiênicos umedecidos e descartáveis – quando se puxa um, outros pedem passagem.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!