Sociedade

Abaixo Museu do Lula. Viva
Templo do Capital e Trabalho!

DANIEL LIMA - 18/07/2016

Orlando Morando ou Alex Manente? Não interessa quem seja o próximo prefeito de São Bernardo. O que se coloca em questão em forma de desafio é o destino do ainda inacabado e absurdamente definido como Museu do Trabalho e do Trabalhador, bem diante do Paço Municipal de São Bernardo. Essa obra popularmente chamada de Museu do Lula, porque trataria apenas de uma das partes essenciais ao desenvolvimento econômico histórico da cidade, precisa ser adequadamente convertida à lógica do capitalismo que alterou a face da Província do Grande ABC e, sobretudo à sensibilização de um público que se pretende disseminador de uma imagem menos embrutecida da região, no caso os adeptos do chamado Turismo Industrial.

O Museu do Trabalho e do Trabalhador precisa ser convertido a Templo do Capital e Trabalho. Será que Morando ou Manente vai ter peito para acertar no alvo ou será imobilizado pela possibilidade de enfrentamento extraurna com os petistas?

O próximo prefeito de São Bernardo – que certamente não será Tarcísio Secoli, o indicado do titular Luiz Marinho, entre outras razões porque não será convertido em milagreiro do voto diante da avalanche que imobiliza o PT – não poderá perder a dupla oportunidade de expandir e aprofundar o projeto embora incipiente mas já vitorioso do Turismo Industrial e liquidar de vez com a marca Museu do Trabalho e do Trabalhador em favor do Templo do Capital e Trabalho. Até porque, convenhamos, uma coisa está ligada à outra. Ou seja: quem vai fazer turismo industrial em São Bernardo e na região não poderá deixar de tomar uma aula de empreendedorismo com centenas de expositores industriais que ocupariam o galpão do templo sugerido com os produtos e serviços que movimentam o PIB regional.

O Templo do Capital e Trabalho, portanto, se apresenta muito mais prospectivo e construtivo do que o Museu do Trabalho e do Trabalhador.

O primeiro vai tratar de exibir o que São Bernardo e a região produzem e criam para manter e atrair novos negócios. O segundo teria o passado como ponto de partida e reta de chegada.

Turismo industrial fortalecido

A saída de juntar o passado de glórias trabalhistas sob a ótica sindical lustraria o ego de São Bernardo e da região como redutos da classe trabalhadora, mas é menos interessante para quem tem os olhos postos nas necessidades prementes desse território reencontrar-se com marcas do desenvolvimento econômico que o Templo do Capital e Trabalho poderia estimular.

A implicitude do Trabalho nas exposições permanentes de produtos e serviços que constam do portfólio do PIB da região justificaria plenamente a marca Templo do Capital e Trabalho. A explicitude exclusiva de memórias trabalhistas do Museu do Trabalho e do Trabalhador serviria muito mais ao ego sindicalista claramente ideológico com ampla dosagem de hostilidade ao capital por conta de vieses condenados no mundo moderno.

Embora se pretenda fazer do Turismo Industrial a salvação da lavoura econômica regional, como se viu nestes dias em que houve congresso temático em São Bernardo, não se deve desclassificar a iniciativa por conta de exageros. Bem ao contrário disso.

Como escrevi em setembro de 2013 sobre o assunto, “a iniciativa do secretário (então secretário de Desenvolvimento Econômico, Jefferson da Conceição) não é assim uma Brastemp em matéria de transformações sustentáveis, mas tem valor simbólico extraordinário”. E continuei naquele texto: “É um choque na visão caolha de que só o trabalho faz a riqueza, que o capital deve ser excomungado ou servir apenas de correia de transmissão a financiamentos eleitorais escusos” – escrevi naquele setembro de quase três anos atrás, quando a Operação Lava Jato ainda não invadira a grande área petista e de partidos coligados.

Programa interessante

Relembrar posição favorável ao turismo industrial também é uma forma de contrariar o lugar-comum petista de que este jornalista não enxerga cenários positivistas. Extraio daquele texto alguns trechos que ilustram a assertiva de que a melhor maneira de convencer o jornalismo independente de que há situações que merecem aplausos é deixar o marasmo administrativo de lado, quando não enfeitar o pavão de feitos que não se concretizam porque formulados por marqueteiros de olhos postos no eleitorado, não na verdade. Vamos a alguns trechos, portanto: 

 Tanto o empreendedorismo privado ainda é mal visto que a Administração Luiz Marinho está construindo com ajuda federal o chamado Museu do Trabalho e do Trabalhador, voltado exclusivamente a quem suou a camisa nos chãos de fábricas. Os pequenos e médios empresários, e mesmo os grandes, das montadoras sempre bem exploradas, não terão importância alguma naquele espaço. (...). Turismo industrial não é novidade no território nacional, rebocado de experiências europeias. Mas em se tratando de Província do Grande ABC é um gol de placa. Até porque não parece algo improvisado, perdido em meio à necessidade de mostrar serviço. (...) O profissionalismo da iniciativa inclui uma agência de viagens, a Happy House, que está comercializando passeios a partir do mês que vem. Com razão, a especialista Sandra Regina Croco, executiva da empresa de turismo, afirmou que a modalidade poupa muito investimento das empresas em marketing, porque os turistas passam a fazer a divulgação da experiência. (...). Tomara que a iniciativa da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo de São Bernardo não se dissolva após os impactos iniciais (...). Apesar da centralidade automotiva, não faltam setores a contar com exemplares que despertariam a atenção dos visitantes. (...). Se não temos muitas belezas naturais para exibir em condições minimamente tecno-operacionais, já que os imensos mananciais são relegados historicamente a invasões e abusos, não custa nada pegar o que está pronto, acabado, em pleno funcionamento, e definir roteiros alternativos à visitação. (...) Outras secretariais de Desenvolvimento Econômico da região poderiam juntar-se ao projeto de Jefferson José da Conceição. A regionalização do turismo industrial só traria bons fluídos. E não contemplaria somente os turistas, mas os próprios responsáveis pelas secretarias que, também como turistas locais, poderiam estreitar os laços com as companhias privadas. Esse mundo desconhecido de todos nós porque insistimos em tratá-los como mundo à parte, é um mundo que faz parte do nosso mundo, queiram ou não os radicais que incensam o trabalho em detrimento do empreendedorismo – escrevi em setembro de 2013, não custa repetir.

Complementaridade

Espero que Orlando Morando ou Alex Manente tenha a sensibilidade e por que não a coragem de colocar no programa de governo o cruzamento de vantagens sistêmicas entre o turismo industrial que ganha corpo em São Bernardo – por enquanto apenas em São Bernardo, o que é mais uma prova viva de nosso municifobismo – e o Templo do Capital e Trabalho devidamente sacramentado.

O marketing manquitola da Administração Luiz Marinho, preso entre o pragmatismo do turismo industrial e o ideologismo do Museu do Trabalho e do Trabalhador, precisa ser rearrumado e reencaminhado ao bom senso.

Templo do Capital e Trabalho é apenas uma marca que me veio à cabeça. Talvez haja restrições de gente que vê fantasma em tudo e por isso mesmo teria capacidade idiossincrática de condenar o uso de “templo” por razões religiosas, o que seria uma tremenda besteira. Mas isso pouco importa. A essência da ideia é contemplar Capital e Trabalho. Templo, Espaço, Centro, qualquer referência ao objeto de atratividade será bem vinda.



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