Todos os dias, pelo menos uma criança ou jovem de São Bernardo passa a morar nas ruas. A constatação está em relatório do PMMR (Projeto Meninos e Meninas de Rua), organização não-governamental pioneira no trabalho com menores em situação de risco no Brasil e que começa a ser referência na Região Metropolitana de São Paulo.
Só no último semestre de 2003, o PMMR atendeu a quase 250 meninos e meninas em situação de risco em São Bernardo, muitos em contato com chagas sociais como mendicância, prostituição, drogas, roubos e outros delitos. Desse total, 83 eram crianças e jovens que perambulavam pela cidade para garantir sobrevivência. "O número de menores nas ruas é muito maior, pois o relatório abrange apenas a parcela daqueles que conseguimos contatar" -- afirma Wenderson Gasparotto, educador social e um dos 22 funcionários do PMMR, que surgiu em 1983 de um grupo de educadores ligados à Pastoral do Menor da Igreja Católica, à Igreja Metodista e à Umesp (Universidade Metodista do Estado de São Paulo).
O objetivo do PMMR não é atender a toda a população de crianças e jovens em situação de risco, mas mostrar que é possível exercitar trabalhos sociais com esse setor frágil da população. Para abordar os menores, são utilizadas duplas de educadores formadas sempre por um homem e uma mulher. "Nessa etapa, queremos fortalecer a questão do retorno à família" -- explica Wenderson Gasparotto. A ONG foi uma das primeiras no País a desenvolver a técnica de abordagem de rua dos menores em situação de risco.
Transpondo municípios
Depois de 20 anos, a metodologia já está sendo adotada em outros municípios da Grande São Paulo como Guarulhos. São duas áreas de trabalho: o atendimento e a organização dos menores para intervenção nas políticas públicas. A entidade executa programas de atendimento de rua, de família e no Espaço de Convivência, no Centro de São Bernardo. Nas oficinas pedagógicas surgem experiências como o Bloco Eureca, que há 12 anos abre o Carnaval da cidade.
Todos os dias, pelo menos uma criança ou jovem de São Bernardo passa a morar nas ruas. A constatação está em relatório do PMMR (Projeto Meninos e Meninas de Rua), organização não-governamental pioneira no trabalho com menores em situação de risco no Brasil e que começa a ser referência na Região Metropolitana de São Paulo. Violência e miséria fazem parte do cotidiano dos educadores da entidade, que busca apontar caminhos para que garotos marginalizados possam encontrar um lugar na sociedade.
Só no último semestre de 2003, o PMMR atendeu a quase 250 meninos e meninas em situação de risco em São Bernardo, muitos em contato com chagas sociais como mendicância, prostituição, drogas, roubos e outros delitos. Todos abandonados pela vida. Desse total, 83 eram crianças e jovens que começavam a perambular pela cidade para garantir sobrevivência. "O número de menores nas ruas é muito maior, pois o relatório abrange apenas a parcela daqueles que conseguimos contatar" -- afirma Wenderson Gasparotto, educador social e um dos 22 funcionários do PMMR, que surgiu em 1983 de um grupo de educadores ligados à Pastoral do Menor da Igreja Católica, à Igreja Metodista e à Umesp (Universidade Metodista do Estado de São Paulo).
Situação de risco
O objetivo do PMMR não é, como ressalta o educador, atender a toda a população de crianças e jovens em situação de risco, mas mostrar que é possível exercitar trabalhos sociais com esse setor frágil da população. No contato com meninos e meninas nas ruas de São Bernardo, a entidade constatou que 58% estavam trabalhando, 19% se envolviam com vários tipos de atividades, 11% apenas circulavam pela cidade e 10% pediam esmola. O consumo de drogas atingia 1,2% e apenas 0,8% dormia fora de casa.
Para abordar os menores, o PMMR se utiliza de duplas de educadores formadas sempre por um homem e uma mulher. Muitas vezes os monitores levam os meninos para atendimento médico. "Nessa etapa, queremos fortalecer a questão do retorno à família" -- explica Wenderson Gasparotto. A ONG foi uma das primeiras no País a desenvolver a técnica de abordagem de rua dos menores em situação de risco.
Depois de 20 anos, a metodologia já está sendo adotada em outros municípios da Grande São Paulo como Guarulhos, onde parceria com a Prefeitura resultou em uma sede com 10 educadores, dois funcionários administrativos e um coordenador-geral. A Prefeitura local investirá cerca de R$ 250 mil provenientes do Fumcad (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente) para que seja feito trabalho semelhante ao de São Bernardo. O custo-benefício compensa diante da estimativa da ONG de que o atendimento de cada menino e menina custa R$ 157 mensais.
Trabalho em Diadema
O PMMR também firmou contrato com a Prefeitura de Diadema para mapear os menores em situação de risco. Dos 397 entrevistados, 53 têm entre 11 e 14 anos, 73% são do sexo masculino e 37% disseram trabalhar no mesmo horário em que estudam. Pelo levantamento, a renda média semanal dessas crianças e jovens na rua é de R$ 52. Apenas 47% moram com o pai e 87% com a mãe.
Em São Bernardo, o PMMR tem orçamento anual de R$ 860 mil provenientes de parcerias financeiras com entidades como a Igreja Metodista Unida, Conselho Nacional de Igrejas Cristãs dos Estados Unidos, Fundação Criança de São Bernardo, ligada à Prefeitura, Igreja Unida do Canadá e Ministério da Justiça, que financia as oficinas. O PMMR também recebe doações de empresas, pessoas físicas e entidades sociais.
São duas áreas de trabalho: o atendimento e a organização dos menores para intervenção nas políticas públicas. A entidade executa programas de atendimento de rua, de família e no Espaço de Convivência na Rua Jurubatuba, no Centro, onde também funciona a sede da ONG. As oficinas pedagógicas são realizadas na sede e no Bairro Montanhão, Parque São Bernardo e Jardim Lavínia, áreas carentes e periféricas da cidade. São atividades esportivas, aulas de danças e cantigas populares, capoeira, hip-hop, circo, artesanato e percussão.
"Foi nas oficinas que surgiu o Bloco Eureca (Eu Reconheço o Estatuto da Criança e do Adolescente), que há 12 anos abre o Carnaval de São Bernardo" -- lembra Wenderson Gasparotto. Do bloco foram selecionados os 16 mais experientes meninos e meninas para formar o Grupo Eureca de Percussão, que faz apresentações e em 2003 lançou o CD Vira Brasil, com sambas-enredo do bloco carnavalesco. As músicas foram feitas pelos próprios garotos com temas ligados à realidade em que vivem. Na sede do PMMR também é realizado a cada dois meses o Sábado de Lazer, que reúne em média 500 pessoas em atividades culturais durante todo o dia.
Prevenção no bairro
Mas é nos bairros que frutifica um trabalho fundamental da ONG. "Não adianta simplesmente atender ao menor que está na rua se não fizermos ações de prevenção. Enquanto não fechar a torneira, não adianta enxugar o chão" -- explica o educador Wenderson Gasparotto. As oficinas buscam facilitar o convívio do menor com a família e sua permanência na comunidade de origem, evitando a ida ou o retorno à vida nas ruas do Centro. No Jardim Lavínia, o PMMR ocupa casarão histórico que sediou uma fazenda de café até o século XIX e que até junho de 2003 estava abandonado. Com o Clube de Mães do bairro a entidade faz atividades como a organização de um grupo de Bumba Meu Boi integrado por 30 crianças.
São atendidas hoje 30 famílias de menores que já retornaram para casa ou que estão em processo de retorno. Um dos pilares da permanência dos meninos e meninas nas comunidades é a matrícula na escola, providência nem sempre simples de executar. "É comum encontrarmos casos em que tanto o pai quanto a mãe e a criança não têm documentos, o que inviabiliza a matrícula na rede pública de ensino" -- revela o educador. Cerca de 70% dessas famílias são chefiadas por mulheres, 20% pelo casal e 10% apenas pelo homem, num cenário onde a pobreza é frequentemente agravada por problemas de saúde como alcoolismo e drogas.
O ambiente de pobreza que empurra crianças e jovens para as ruas era pouco compreendido há 20 anos, quando surgiu o PMMR. "Esses menores eram vistos como criminosos e internados na Febem" -- conta Wenderson Gasparotto, para quem a entidade viveu um momento marcante em 1987. Em setembro daquele ano seis jovens atendidos pelo PMMR foram assassinados no Clube de Mães, na Rua dos Vianas, onde funcionavam as oficinas pedagógicas. "Em São Bernardo havia muitos grupos de extermínio. A própria Polícia tinha uma atuação violenta sobre os meninos" -- afirma o educador.
A outra área de atuação do PMMR é a organização dos menores para intervir em políticas públicas, sobretudo as que evidenciam problemas como a violência. A entidade participa dos fóruns nacional, estadual e municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, bem como do Conselho Municipal de Assistência Social. "Utilizamos esses espaços para levantar o problema do menor que está na rua e propor programas que atendam a essa população" -- afirma o educador Wenderson Gasparotto.
Exemplo desse trabalho é Marcos Antônio da Silva Souza, ex-menino de rua que hoje é o coordenador-geral da entidade. Marquinhos, como é conhecido, é considerado um dos maiores formuladores de políticas para a questão da criança e do adolescente no País. Dos 14 educadores do PMMR, quatro saíram das ruas.
Total de 1097 matérias | Página 1
21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!