Regionalidade

Representatividade
para o Grupo dos 11

DANIEL LIMA - 05/03/2004

Que tal as entidades empresariais do Grande ABC -- especialmente as associações comerciais e industriais e as unidades do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) -- saltarem da condição convencional de valor histórico e representativo para uma situação de valor histórico e representatividade? A diferença é facilmente explicada. O Jabaquara tem valor histórico e representativo, mas é o Santos que tem valor histórico e representatividade. Ou seja: o primeiro clube esportivo deixou-se satisfazer pela tradição, enquanto o segundo mantém-se forte e capaz de movimentar grandes massas.


O chamado Grupo dos 11 é integrado pelas sete associações comerciais e industriais e pelas quatro unidades do Ciesp no Grande ABC. Como se sabe, o Grupo dos 11 afastou-se da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC em meados de 2002 e alguns membros retornaram à entidade mais tarde, porque a união de ocasião não resistiu à pressão e ao bom senso. É claro que não se repararam os cofres da Agência, já que a maioria das entidades nem mensalidades quitava, além de, em larga escala, simplesmente nem participava das reuniões.


O Grupo dos 11 está em dívida cumulativa com os empreendedores e a comunidade tanto no âmbito municipal quanto regional porque tem baixíssima representatividade. Traduzindo: não tem efetiva respeitabilidade da classe dos empreendedores, do poder público local e de representantes do Legislativo. Historicamente, grande parte de seus membros locupletou-se individualmente do prestígio reverencial que as entidades ainda desfilam. Quadros potencialmente construtivos jamais lhes faltaram -- porque em boa parte seus membros são vitoriosos nas respectivas empresas -- mas a maldição do conservadorismo imperou e impera.


Acompanhar propostas


Já que não conseguem se juntar exceto para retaliações políticas às vésperas de eleições importantes -- como foi o caso de 2002, quando se pretendia claramente atingir o PT debilitado com a morte do prefeito Celso Daniel e as denúncias de supostas propinas --, os integrantes do Grupo dos 11 podem pelo menos, por instinto de sobrevivência, acompanhar propostas resumidas aqui e que permitiriam utilização mesmo que individual em cada Município. Entretanto, dada a ossatura socioeconômica do Grande ABC, que deixem as fronteiras municipais e se projetem na região. 


Ao completar 14 anos de circulação, LivreMercado sugere ao Grupo dos 11 a criação de uma estrutura regional que, ao ser aplicada, não mexeria uma palha sequer no tradicional individualismo corporativo que o demarca territorialmente. Não se propõe que as 11 entidades -- ou mesmo as associações comerciais de um lado e os quatro Ciesps de outro -- se juntem juridicamente e com isso acabem com a divisão municipalista que as emperra. Isso é tarefa descomunal. Prefere-se, isto sim, o ajuntamento informal no campo institucional.


Uma força-tarefa de especialistas em tributos, capaz de entender o retorno de visibilidade que o conjunto de entidades pode lhes oferecer, cavoucaria a realidade numérica dos impostos municipais que desequilibram o jogo da competitividade regional diante de adversários que adotaram a guerra fiscal. O fatiamento da carga tributária própria por atividade econômica exporia números desconhecidos e possibilitaria, sem dúvida, a correção de distorções que afetam os planos de recuperação regional.


Não se tem elementos que possam assegurar o grau de discriminação do setor industrial duramente penalizado, por exemplo, com o IPTU, mas a tradição de privilegiar as residências em detrimento da produção é tão antiga quanto estúpida. Os especialistas que contemplariam todos os territórios municipais da região tratariam dessa questão de forma oficial. Com a representatividade que se pretende alcançar, as entidades não seriam desprezadas por qualquer administrador público menos democrático e que, eventualmente, pretendesse se negar a fornecer insumos aos estudos. 


Grupos de ações


O Grupo de Infra-Estrutura trataria de concentrar conhecimentos teóricos e práticos sobre o encalacramento das atividades econômicas decorrentes do entupimento do que se convencionou definir como sistema de logística. Os profissionais atuariam em permanente corpo a corpo com setores específicos das administrações públicas e traduziriam os anseios e as necessidades dos empreendedores das regiões centrais e periféricas.


Questões como estacionamento, fluxo de trânsito, obras, iluminação e segurança, entre outras, seriam ostensivamente detectadas para consolidar tecnicamente as reivindicações aos poderes constituídos. A centralização dessa demanda nas entidades de classe, com ação contínua dos órgãos públicos, fortaleceria as relações com os filiados e potenciais novos filiados. Dessa forma, finalmente, o quadro associativo não se sentiria apenas cliente de serviços burocráticos das entidades; se chegaria, portanto, ao estágio de comprometimento mútuo. Isso é representatividade, não representação.


O Grupo de Estatística possibilitaria às entidades empresariais o domínio do universo de empreendedores. É uma calamidade a falta de informação para socorrer os pequenos e médios negócios. Por isso, essas entidades se mantêm omissas ou facilmente manobráveis diante de estatísticos manipuladores que aportam ou vivem no Grande ABC e, com suas fantasias, aumentam o desconforto de quem sofre as consequências de repercussões macroeconômicas e microeconômicas mas se sentem individualmente incapazes.


Entendendo as diferenças


Ou seja: há negócios incompatíveis com os novos tempos, mas a falta de contextualização particulariza a desgraça e exagera o ataque à auto-estima. A geoeconomia comercial, industrial e de serviços no Grande ABC é um petardo no bom senso. Há níveis exaustivos e inseparáveis de canibalização de negócios, o que aumenta o grau de estresse. O Grupo de Estatística trataria de recrutar recursos humanos abundantes nas universidades do Grande ABC -- e que precisam de aulas práticas para melhorar o próprio currículo -- para passar às planilhas a realidade de cada macroárea geográfica.


Já o Grupo de Comunicação seria um time de especialistas que teria como parceira constante uma assessoria de imprensa contratada. Dar ressonância às atividades institucionais não é exercício narcisista, mas imperiosidade dos novos tempos de sensibilização. Seria erro crasso confundir as bolas e desprezar todo o arcabouço multitemático da operação de reconquista de espaços institucionais e imaginar que basta o Grupo de Comunicação para dotar de musculatura de halterofilista um organismo em estado vegetativo. Comunicação é complemento importante, não essência.


O Grupo de Marketing trataria de promover a aproximação entre os demais grupos e o público externo. Costuraria diretrizes estratégicas para que a ação individual não se anule quando em evolução conjunta  nem haja dispersão na conquista de espaços externos.


Os profissionais atuariam sob a lógica de que nenhuma das eventuais e costumeiras desavenças entre as entidades que compõem o Grupo dos 11 seja minimamente ameaçadora à integração institucional, cuja força está no coletivo. As ações sensibilizadoras que alimentarão os demais grupos tornarão as medidas de marketing imprescindíveis, porque é uma atividade-meio que faz as atividades-fins funcionarem a contento e ganharem destaque.


Tropa de choque


O Grupo Político-Institucional seria a tropa de choque formada pelos próprios dirigentes de ponta de cada entidade. Um Grupo dos 11 integrado pelos melhores quadros de cada instituição. Gente devidamente preparada pelos técnicos e voluntários dos demais grupos temáticos e que manteria decisivos encontros com lideranças políticas, sociais e mesmo empresariais. Eventuais politizações de demandas teriam o aporte de informações estatísticas e de fundamentação técnica. Sem essa de disfarçar interesses político-eleitorais utilizando-se nuvens de fumaça de um IPTU eventualmente injusto aqui ou ali.


O Grupo Político-Institucional não pode viver de sobrenomes e compadrios nem de uma hierarquia às avessas em que a competência perde espaço para o grau de influência dos detentores de capital. Qualificação não se mede pelo tamanho e pela profundidade do bolso, mas pela densidade de idéias e ações.


Historicamente, as entidades de classe empresarial jamais entenderam o jogo da regionalidade como equação ganha-ganha. Pior que isso: raramente tiveram a exata compreensão do papel que deveriam exercer no jogo de densificação do capital social reconhecidamente rarefeito no Grande ABC. É por essa e tantas outras razões que se chegou ao fundo do poço, depois de décadas de provincianismo diretivo. A história é importante, mas quando não tem o acompanhamento de representatividade, torna-se apenas lembrança e exige mudanças. 


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