Já imaginou R$ 25 milhões reservados nesta temporada somente, exclusivamente, diretamente, para um amplo diagnóstico da Economia do Grande ABC? Uma Economia que bate pino há pelo menos 35 anos e que não parece resiliente para amenizar uma trajetória irrefreável? Gostou da ideia? Eu gostei. E é perfeitamente factível.
Para tanto, basta tirar do passivo de desperdícios dos vereadores do Grande ABC e colocar na conta vigiadíssima, protegidíssima, de ações inéditas no inútil Clube dos Prefeitos. Uma dinheirama que exigiria espécie de código de conduta dos prefeitos diante do que resta de representantes livres de amarras para vigiar cada paço e cada passo dos recursos liberados. Mas essa é outra questão.
Os vereadores da região vão custar mais de R$ 250 milhões nesta temporada. É fácil redirecionar uma parte ínfima desses recursos. Com 10% do montante anual, vamos encontrar senão a Estrada da Salvação, mas o direcionamento à Estrada da Salvação. Já é alguma coisa, não é verdade? O que temos hoje e o que vem do passado longínquo não é outra coisa senão a multiplicação de nada de estrada por nada de salvação.
O dinheiro, ou parte do montante, seria determinante à contratação de uma consultoria internacional que saiba decifrar as veredas de competitividade macroeconômicas que influenciariam a definição de estratégia regional de investimentos produtivos e variáveis. Além disso, lancetaria na medida do possível os tumores do Custo ABC. Sim, na medida do possível, porque o Custo ABC, sobreposto ao Custo Brasil, é uma herança maldita que exigirá muito empenho à redução.
Os R$ 25 milhões que viriam dos Legislativos, dinheiro que sai dos contribuintes esfolados em todas as esferas de governos, estão disponíveis (e podem ser um pouco mais até) e, portanto, não deveriam causar qualquer reação contrária. Basta os vereadores do Grande ABC, 150 no total, seguirem à risca o que o chefe deles, Danilo Lima, presidente do Legislativo de São Bernardo, levar adiante em forma de atuação determinada, não de demagogia calculada.
Danilo Lima anda se reunindo com outros presidentes locais dos Legislativos. Deveria encaminhar a ele uma cópia dessa análise para facilitar definições.
Outro dia fiz as contas de quantos votos esses 150 vereadores eleitos no Grande ABC no ano passado representaram de influência direta dos eleitores. Eles totalizaram votos que não passaram de 25% do total disponível. Nada menos que 10 pontos percentuais abaixo dos 35% em média recebidos pelos prefeitos eleitos. Tanto num caso quanto no outro, a maioria dos eleitores da região não votou em nenhum dos prefeitos e dos vereadores eleitos.
Por esses dados dá para entender a falta de representatividade para valer tanto de uns quanto de outros. Não se trata de um fenômeno regional. A esculhambação política é abrangente e nacional – e internacional. Pior que o mundo político polarizado é o mundo político desmoralizado. Temos uma mistura dessas duas porcarias. A segundo é pior que a primeira, porque a desmoralização da classe leva à inapetência da maioria dos eleitores.
Para que não se tenha uma gota de orvalho de dúvida sobre os recursos que sairiam dos cofres públicos, que são cofres do público, R$ 25 milhões são apenas e somente, repito, 10% do total mínimo que será gasto nesta temporada na manutenção das sete câmaras municipais que, em síntese, não passam de puxadinhos milionários e improdutivos dos prefeitos de plantão.
Dez por cento desse valor são os R$ 25 milhões aos quais me refiro. É dinheiro para caramba. Tanto o montante geral quando o fragmento. Imagine então quanto dinheiro é o restante, ou predominante, do orçamento dos vereadores das sete cidades. Ou você acha que R$ 250 milhões se encontra em qualquer cueca?
Se Danilo Lima e eventuais companheiros do que chamaria de Clube dos Vereadores não fizerem da participação no Clube dos Prefeitos uma peça da tapeçaria de interesses exclusivamente políticos, integrando-se ao cordão mais que visível de predomínio avassalador de um grupo político ecumênico que pretende controlar o Grande ABC por muitos anos, se Danilo Lima não preparar essa arapuca para, diferentemente da proposta, impactar ainda mais o frágil contraditório de forças na região, é improvável duvidar dos efeitos positivos.
Por isso, Danilo Lima, se coerente for, deveria mandar brasa na sugestão que, assim, ganharia fôlego, ritmo, ações e coroação de grandes feitos.
Não há impedimento legal para que a medida seja tomada ainda nesta temporada. A legislação permite que recursos não utilizados pelos Legislativos Municipais possam ser devolvidos ao Executivo. Faz parte da legislação, repito.
De vez em quando manchetes de jornais festejam presidentes de Câmaras Municipais que, em dezembro, quando não em janeiro, fazem marketing com a devolução de merrecas. No caso dessa proposta, o compromisso de devolução integraria o feixe de condicionantes à participação das lideranças dos Legislativos no Clube dos Prefeitos. Quem paga tem direito de participar.
Esta é a primeira vez na história de CapitalSocial, antes LivreMercado, revista de papel, que sugerimos direcionamento mesmo que indireto, mas não tão indireto assim, de recursos financeiros dos Legislativos ao Clube dos Prefeitos.
Ao longo da trajetória desta publicação, há contabilizadas 443 vezes a expressão “planejamento estratégico”. A maioria das análises faz referência exatamente ao que o Grande ABC sempre descartou, ou seja, ver-se com um conjunto de municípios a clamar por socorro econômica e por soluções práticas.
Pretendia nesta análise de hoje estender sugestões e conclusões históricas sobre a regionalidade do Grande ABC. Dispensável. O texto que se segue, publicado há 23 anos na revista de papel LivreMercado, está intocável diante do tempo, das circunstâncias e dos fatos. Uma leitura atenta (vamos lá, Danilo Lima, vamos lá, Marcelo Lima, prefeito dos prefeitos do Clube dos Prefeitos) mostra o quanto relevante e decisivo pode ser o passado diante de desafios atuais, todos herdados do passado que parece não ter passado diante da inoperância da Sociedade Servil e Desorganizada.
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17/02/2025 RACIONALIDADE AO INVÉS DE GASTANÇA