Regionalidade

DESEMPREGÔMETRO NO
CLUBE DOS PREFEITOS

DANIEL LIMA - 11/02/2025

A ideia me veio à mente durante a corrida de ontem, santa corridinha de oito quilômetros que oxigena o cérebro. Já imaginou se você passasse defronte à sede do Clube dos Prefeitos, em Santo André, e  tivesse a atenção voltada a um placar eletrônico que expusesse o saldo geral do número de trabalhadores industriais que perderam o emprego a partir de janeiro de 2015, só a partir de janeiro de 2015, quando se iniciou a maior catástrofe econômica da região? 

Acho que estou sendo pouco criativo. Já imaginou se, igualmente,  na fachada de outras instituições da região ligadas à Economia, casos de Associações Comerciais, Ciesp, sindicatos, réplicas conectadas daquele painel eletrônico também fossem tornadas públicas para massificar  um dos indicadores da cesta básica de definição do estágio econômico que vivemos?

A ação que não passa de imaginação diante da inação regional seria um choque anafilático autoimposto pelas próprias entidades exibidoras, porque, mais peso aqui, menos peso ali, todas, absolutamente todas, têm contas a prestar à sociedade. No mínimo porque permitiram que os governos locais, o governo estadual e os governos federais atuassem livres, leves e soltos.  Quando não o bajularam.

VAMOS LÁ, MARCELO!

Que tal o prefeito dos prefeitos Marcelo Lima, que disse estar disposto a zerar impostos municipais para garantir hipotético terceiro turno na Volkswagen, tomasse a liderança dessa proposta? Duvido que o faça.

Tanto Marcelo Lima quanto os demais dirigentes de instituições públicas e privadas que supostamente estariam interessados no futuro regional não vão meter a mão nessa cumbuca. Eles estão institucionalizados por uma cultura da acomodação e de arranjos pessoais e públicos. Não vão enfrentar o custo da inovação de pensamentos, propostas e ações. Fingirão que o farão. Como  tantos outros fingiram.

A especialidade do Grande ABC é esconder o Grande ABC real. Entre o anestesiamento e a procrastinação da crise regional que não tem fim os mandachuvas praticam as duas modalidades com a mesma destreza. Basta conferir o noticiário. Estamos, em resumo, nadando em dinheiro, como prova de vitalidade. Nadando em dinheiro dos outros, porque o Clube dos Prefeitos virou o Clube dos Pedintes. Acompanhem o noticiário.

NEGOLOGISMO PARA SEMPRE

Desempregômetro é um neologismo que criei tendo por base uma corruptela de Impostômetro, painel que mede o tamanho da carga tributária do País e que está diariamente à vista na fachada da Associação Comercial de São Paulo.

Desempregômetro é um neologismo que passará a ser frequentemente utilizado nesta revista digital, independentemente de o prefeito dos prefeitos Marcelo Lima e de outros mandachuvas da região, espalhados por diversas organizações coletivas, ou seletivas, decidirem ignorar a proposta exposta. Surpresa seria se adotassem. E bem que poderiam, porque essa turma do Clube dos Prefeitos não tem muita culpa no cartório de notas fúnebres da desindustrialização.

Desempregômetro é um neologismo de CapitalSocial que será constantemente expresso como alerta a qualquer tipo de negacionismo no mercado de trabalho da região. Negacionismo é um derivativo de tantos outros sintomas que sempre aparecem nas mídias em forma de comemorações de resultados circunstanciais a cada 30 dias em forma de balanço do Ministério do Trabalho e Emprego.

Pensei na possibilidade de engavetar no cérebro e esperar o momento mais propício para expor essa sugestão. Temia e temo que oportunistas de plantão ou mesmo os acomodados, para não dizer triunfalistas, deturpem a proposta. Mas como não sou bobo nem nada, estando que estou mais para o idiota convicto, eis que me meto a traçar algumas linhas básicas para evitar adulterações perniciosas. Vivemos uma atmosfera regional que não se desprende do ambiente nacional em forma de fake news despudoradas. Atribui-se às redes sociais o monopólio ou o domínio de fake news. Prestem mais atenção no que dizem autoridades de vários calibres. A diferença é que eles não correm risco algum. A impunidade persevera.

REGRAS BÁSICAS

Primeiro e indispensável medida cautelar dessa proposta: o placar denunciatório de que a economia do Grande ABC entrou no modo desastre desde muito tempo será restrito ao emprego industrial com carteira assinada, carro-chefe da mobilidade social que escasseia exatamente porque o indicador sofreu reveses terríveis ao longo de 40 anos, com alguns respiros ludibriadores da boa-fé. Daqui a pouco, mais embaixo, dou o placar que constaria do painel eletrônico ou dos painéis eletrônicos.

Retiro da contabilidade quaisquer outros tipos de empregos formais, de serviços, da Administração Pública, da Construção, porque todos perdem de goleada para a abrangência de distribuição de riqueza da indústria de transformação. Os salários médios provam isso. E o espalhamento dos benefícios sociais do mercado de trabalho industrial é imensurável.

A desindustrialização do Grande ABC é prova disso. Perdemos, ao longo dos anos, em todas as dimensões. Tanto no emprego formal quanto na geração do Valor Adicionado. Santo André, por exemplo, não viu a média salarial geral (de todos os setores) desabar nos últimos 30 anos por mero acaso. É a indústria fugidia que determinou a transformação. De Viveiro Industrial e Viveiro Assistencial, não custa repetir.

SEM MALABARISMOS

O período também precisa ser rigidamente obedecido, para evitar manipulações que redundariam no afrouxamento do caso de gravidade econômica do Grande ABC. O marco zero da catástrofe é mesmo o último ano do primeiro de dois mandatos incompletos de Dilma Rousseff. Entre janeiro de 2015, tendo por base de comparação o resultado de 2014, até dezembro de 2024 são exatamente 10 anos.

Malabarismos dos triunfalistas poderiam levar os painéis eletrônicos do Desempregômetro a ilusionismos conhecidos. Basta um recorde de mau- caratismo no tempo de pesquisa para se alterar a magnitude do problema. Dez anos para começar – no período já exposto – e daí por diante, ou seja, 11, 12 e tantos anos mais adiante, seria um intervalo de tempo suficientemente esclarecedor ao enquadramento de deterioração ou recuperação do emprego industrial na região.

Fosse este jornalista radicalizador, tomaria como base de cálculo o ano de 1994, quando o Grande ABC contava com 276.650 trabalhadores industriais. Então, nesse caso, esticando o período de comparação até dezembro do ano passado, o saldo negativo alcançaria 95.265 carteiras de trabalho.  Também poderia encurtar o período tendo agora como base o encerramento do segundo mandato do presidente Lula da Silva, quando o saldo de trabalhadores industriais no Grande ABC registrava 249.472 carteiras assinadas. Comparando com dezembro do ano passado, o passivo seria de 67.906, portanto maior que o contabilizado a partir do segundo mandato de Dilma Rousseff.

MARCO  DILMISTA

É importante lembrar que não é obra do acaso nem de perseguição tampouco de arbitrariedade com conotação deletéria dar a largada do painel eletrônico do Desempregômetro a partir do primeiro ano do segundo mandato de Dilma Rousseff.

Qualquer iniciativa que se tome na região, em caráter acadêmico ou com o pragmatismo voltado à mensuração do impacto do mercado de trabalho no conjunto de indicadores econômicos, deve levar em conta a linha inicial dilmista. Afinal, durante os anos de 2015 e 2016, quando o governo federal viveu tormentosas consequências da gastança desenfreada iniciada no segundo mandato de Lula da Silva, o Grande ABC perdeu 22% do PIB Geral. A conta sobe para 30% quando se trata de PIB per capita. O emprego industrial, sem contar o ano de 2024, sofreu queda de 24% em forma de carteiras assinadas.

O impacto dos anos Dilma Rousseff na economia do Grande ABC foram os piores possíveis no cenário nacional. Não encontro até hoje outra região ou mesmo Estado que tenha sofrido tanto. O Brasil como um todo viu, nos dois anos, um rebaixamento de 8%, em números redondos, no PIB Geral. Os maiores municípios do Estado de São Paulo e as capitais não chegaram, em média, a 10%. Aqui o estouro foi mais destrutivo.

SILÊNCIO ENVERGONHADOR

Só existe outro fator mais escandaloso do que a derrocada do Grande ABC sob Dilma Rousseff: nenhuma instituição, nenhuma liderança política, econômica, social, nenhuma, nenhuma, exceto CapitalSocial, se deu conta ou teve o mínimo de coragem para apontar os estragos. Pior que isso? Até hoje, vejam só, 10 anos depois, não há uma viva alma pessoal ou institucional disposta a  produzir qualquer coisa em forma de artigo, de declaração, que informe a sociedade sobre os rescaldos provocados pela maior recessão regional de toda a história.

O que temos é mesmo um grupo organizado no pensamento provinciano, mesquinho, desonesto até, de circunscrever o rebaixamento de empregos industriais ou, sobretudo, de unidades fabris, que debandaram da região, a determinados mandatos de Executivos municipais.   

Exatamente para evitar que a manipulação de dados por conta de temporalidades manifestamente inapropriadas às verdades dos fatos, o ideal seria definir o marco regulatório dos números que seriam expostos no painel a partir da data já mencionada e sem limite de tempo, até que ocorra duas possibilidades: a primeira, mais que inviável, de zerar a conta; e a segunda, mais que provável num horizonte de 10 novos anos, ver a escalada deficitária ganhar tração.

VEJA O QUANTO FALTA

Quase esqueço o placar que constaria do painel eletrônico do Clube dos Prefeitos e de outras instituições que nem mesmo fingem preocupação  com a região porque simplesmente desdenham das complicações decorrentes da desindustrialização sem fim: entre janeiro de 2015 e dezembro de 2024, o setor industrial do Grande ABC contabiliza exatamente 58.875 carteiras de trabalho decepadas. Divida esse total, para efeitos referenciais, por 550 postos de trabalho que a Toyota fechou em São Bernardo recentemente. Deu quanto? Exatamente 107 vezes Toyota.

Outras comparações poderiam ser feita. Aliás, no painel eletrônico que se espalharia por cidade da região, além do número absoluto regional de perdas de postos de trabalho regional, poderia ser acrescentado o número de empregos industriais com o respectivo percentual de rebaixamento do estoque de cada cidade. Dessa forma, o municipal e o regional seriam vinculados de maneira esclarecedora e definidora de que temos vasos comunicantes também na Economia, por mais que cada cidade tenha identidade produtiva.



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