Regionalidade

Imes continua em
busca de soluções

DANIEL LIMA - 05/12/1999

O Imes (Instituto Municipal de Ensino Superior) de São Caetano está rompendo antiga e perversa tradição, segundo a qual academia e sociedade são porções distintas como água e vinho. O 2º Seminário Aberto de Gestão da Sociedade Regional, que a autarquia de São Caetano promove neste 11 de dezembro, é mais uma atividade do Laboratório de Gestão da Sociedade Regional, coordenado pelo professor Luiz Roberto Alves. A programação de um dia inteiro tem como tema-eixo Mudanças Políticas e Institucionais que Facilitem o Desenvolvimento Regional.


O Laboratório de Gestão da Sociedade Regional foi criado pelo núcleo de pós-graduação do Programa de Mestrado em Administração do Imes que, por sua vez, integra o Ceapog (Centro de Estudos de Aperfeiçoamento e Pós-Graduação), dirigido pelo professor Sílvio Minciotti. O curso iniciado este ano se encerrará em 2000 e se divide em duas turmas de 47 alunos, que têm como desafio o conhecimento e a aplicabilidade de gestões regionais num mundo que se globaliza. Os futuros mestres, particularmente os ligados à GSR (Gestão da Sociedade Regional), devem defender teses regionais, pois o sistema de informações localizadas visa a articular indicadores socioeconômicos e políticos.


A programação deste dia 11 prevê a partir das 9h30 conferências de Jeroen Klink e Nádia Somekh, executivos públicos com atuação na Câmara Regional, no Consórcio de Prefeitos e na Prefeitura de Santo André. O jornalista Daniel Lima e o professor André Rubens Didone atuarão como debatedores. À tarde, Jorge Hereda, assessor especial da Câmara e do Consórcio, falará sobre Desenvolvimento de Planejamento Estratégico; Carlos Augusto César Cafu, coordenador do Fórum da Cidadania, discorrerá sobre Identificação da Comunidade Cívica; e Sílvio Minciotti comentará o tema Viabilização de Parcerias Entre Universidades, Entre Universitários Regionais e a Sociedade. O temário tríplice, exposto em salas separadas, terá síntese no final do dia à plenária.


Global e local


O professor Luiz Roberto Alves explica o conceito da programação: “O momento de mudanças internacionais atinge cada vez mais rapidamente todos os cantos do planeta. É evidente que nossa região encontra-se amplamente envolvida nesse contexto, enfrentando novas realidades que vão da economia ao social, da política ao meio ambiente, da educação à cultura, entre outras”.


Para Luiz Roberto, existe nova necessidade de pensar a região como um todo, sem deixar de lado as especificidades de cada cidade: “Dessa forma, encontramos instituições que levam à frente preocupações e propostas para um modelo de desenvolvimento regional às quais podem vir a agregar aspectos de desenvolvimento estratégico com inclusão social e geração de pesquisa científica com capacidade de criar um novo conceito de empregabilidade” — acredita.


O coordenador do Laboratório de Gestão da Sociedade Regional do Imes afirma que a perspectiva de adoção de estratégia regional que possibilite a retomada do crescimento econômico de forma integrada, e com inclusão social, baseia-se em três ações fundamentais: desenvolvimento de sistema de planejamento estratégico, identificação da comunidade cívica regional e viabilização de parcerias entre universidades, centros universitários regionais e a sociedade. “Por isso, a proposta do seminário é chamar a atenção para a relevância dos aspectos político-institucionais do Grande ABC que, num âmbito geral, encontram-se ainda negligenciados e, portanto, deixando de facilitar o desenvolvimento regional” — avalia.


Para Luiz Roberto Alves, o desafio está em buscar modelos de políticas que combinem às novas exigências da economia urbana globalizada a regulação pública da produção da cidade e o enfrentamento do quadro de exclusão social. “Nesse sentido, é necessário processo de mobilização de forças públicas e privadas, a fim de proporcionar novas diretrizes para o desenvolvimento regional” — completa.


Mesa cultural


Pergunta para ser respondida sem pestanejar: quantas vezes os titulares das pastas de Cultura das prefeituras de Santo André, São Bernardo, Mauá e Diadema se reuniram para tratar de assuntos que interessam à regionalização de eventuais programas? Acertou em cheio o leitor que respondeu nenhuma vez. Se a pergunta fosse territorialmente ampliada e envolvesse também São Caetano, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, a resposta seria a mesma. Moral da história: o processo de integração regional, destilado nos trabalhos da Câmara do Grande ABC, do Consórcio de Prefeitos e do Fórum da Cidadania, não bateu nas portas do setor cultural.


A constatação de que Grande ABC é uma grande metáfora no setor de cultura foi o ponto mais significativo do encontro promovido pelo Laboratório de Gestão da Sociedade Regional reunindo Júlio Mendonça (São Bernardo), José Aparecido Barbosa (Mauá), Altair José de Moreira (Santo André) e Marta de Bethânia (Diadema). A exposição dos representantes das prefeituras, seguida de debates, contou com alunos do curso de mestrado de Políticas Sociais para a Administração da Cidade e integrou o seminário interno do Imes sobre Políticas Públicas de Cultura, coordenado pelo professor Luiz Roberto Alves.


Alguns intelectuais da comunidade acompanharam e, inclusive, participaram do debate. Caso dos escritores Dalila Teles Vera e Antonio Possidônio, além do professor Alexandre Takara, coordenador do 1º Circuito Teatral do Grande ABC, realizado em julho e que reuniu 96 encenações em quase todos os municípios da região. O circuito teatral poderia induzir à costura regional na área, já que teve como promotores o Consórcio de Prefeitos, o Sesc (Serviço Social do Comércio) e a Secretaria Estadual de Cultura, além das prefeituras da região. Mas não passou mesmo de atividade sem intersecção com o desejado planejamento estratégico regional, apesar de importante para o calendário.


Sem demonstrar descontentamento com a ausência de integração cultural, os representantes das prefeituras reunidos no Imes não conseguiram disfarçar a dificuldade de gozarem de autonomia funcional para desenvolver movimentos que rompam com os limites territoriais impostos pela tradição municipalista. Os administradores públicos da região ainda não perceberam que o temário regional vai além de questões econômicas e sociais que se desdobram nos chamados sete Eixos Estruturantes da Câmara do Grande ABC.


Vontade política


Apesar das especificidades municipais, há também extensa pauta de problemas regionais que debates exclusivamente voltados para rastreá-los poderiam proporcionar ações integradas. Enfim, enquanto não houver vontade política de quem comanda cada Paço Municipal da região, o aprofundamento de discussões e de resoluções que envolvam a cultura regional será sempre pura abstração. E Santo André continuará sozinha desfrutando de sua admirável Orquestra Sinfônica, Diadema permanecerá privilegiada nas apresentações de seus mundialmente conhecidos corpos de baile, São Bernardo manterá ociosos teatros de infraestrutura de nível e São Caetano seguirá isolada com palcos de renome como a Fundação das Artes e a espetacular agenda cultural do Sesc.


Fosse esse o único obstáculo, até que o horizonte não seria tão cinzento. Num momento em que planejamento estratégico e marketing são palavras de ordem nas atividades privadas e públicas, a estrutura das secretarias municipais de Cultura tem a mesma correlação de forças das equipes amadoras de futebol que pretendem competir com clubes profissionais reforçados por parcerias com grandes patrocinadores e investidores.


A situação é particularmente grave para o futuro da cultura na região, como de resto nas prefeituras do País, porque é o Poder Público que investe praticamente sozinho na área.


As prefeituras do Grande ABC não contam com secretarias de Cultura estruturalmente preparadas com profissionais que fazem a diferença na busca de recursos empresariais por meio de patrocínio de eventos, comunicação com a mídia e relações intergovernamentais, entre outras especialidades. Vivem na maioria dos casos de agentes culturais respeitados, apaixonados, mas improvisados em empreitadas e isolados do centro de decisões do Executivo.


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