Economia

Entenda porquê o governo do
estado arrecada cada vez mais

DANIEL LIMA - 05/01/1997

O governo do Estado de São Paulo tem comemorado o aumento da arrecadação de impostos, especialmente de ICMS. Segundo Clóvis Panzarini, coordenador do sistema tributário paulista, 1996 deverá contabilizar crescimento de 8% na arrecadação, já descontada a inflação, ou quase 40% acima da evolução de 5% prevista para todo o Grande ABC, anunciada com cândida inocência pela Secretaria de Planejamento de Santo André.


Os apressados de sempre, e isso os há na mídia paulista em profusão, insistem em confundir arrecadação fiscal com crescimento econômico, quando se sabe que o Plano Real, a despeito da estabilidade monetária, já preocupa renomados especialistas internacionais pelo esgotamento da capacidade de evolução do PIB em níveis que possam ser interpretados como indicativos de desenvolvimento econômico.


À parte os efeitos diretos da melhoria de processos de arrecadação de impostos, incluindo-se a contratação de fiscais, investimentos tecnológicos e seletividade geoeconômica que prioriza o Grande ABC pelo forte adensamento de empresas, o que também tem contribuído para o avanço dos números que as autoridades estaduais tanto propagam é a realidade macroeconômica que estimula a terceirização.


O arco estatal em suas várias formas, Município, Estado e União, só tem a ganhar numa primeira fase com a desverticalização das empresas. O contingente de trabalhadores que conseguiu substituir o emprego formal pela criação de micro ou pequena empresa prestadora de serviços para atender o antigo patrão ou nichos de mercado perdeu a tranquilidade do salário garantido todo final de mês e ganhou o desafio de empreender.


Entre eles há vencedores e vencidos. Não se contam os desempregados que se meteram na informalidade. A terceirização, implantada em larga escala e que se espalha por atividades não necessariamente clássicas como segurança, transporte, limpeza e alimentação, favorece quem a introduz, mas não beneficia o ex-empregado que consegue virar patrão. Ganha a santíssima trindade estatal pela simples razão de que as relações comerciais formais se multiplicam e geram impostos, recolhidos pelos terceirizados.


A terceirização que transforma ex-empregado em patrão contribuinte ou que simplesmente substitui parte dos funcionários por novos fornecedores de serviços e produtos reduz substantivamente a massa de salários e de consequentes encargos sociais com o corte sistemático de cabeças, enquanto infla os indicadores de impostos municipais, estaduais e federais.


Todo o cipoal de recolhimentos obrigatórios que cada mão-de-obra gera para o sistema de seguridade social e que, afirmam especialistas, ultrapassa a 100% dos salários em forma de FGTS, 13º, aviso prévio, férias e outras conquistas trabalhistas, acaba substituído pelo ISS, IRPJ, ICMS e IPI. Sem contar a precarização da qualidade de vida também pela eliminação de benefícios sociais conveniados em acordos coletivos, casos de seguro-saúde, vale-refeição, cesta básica e outros apetrechos que os Sindicatos arrancaram a fórceps das empresas durante o período de autarquia econômica e de inflação despudorada.


Com a terceirização, destroem-se salvaguardas sociais e fortalecem-se barricadas tributárias. As empresas, evidentemente, não podem ser responsabilizadas pela adoção da alternativa da terceirização, fórmula encontrada para reduzir custos, apurar o foco do negócio e enfrentar a globalização sem que o ultimato da desativação prevaleça.


O que se lamenta é a frequência com que a turma do gargarejo aplaude e dá destaque aos anúncios dos resultados da arrecadação tributária do Estado, quando se sabe que o custo desse desequilíbrio é o aprofundamento das desigualdades sociais.


A sinfonia macabra que tem as notas do crescimento da arrecadação tributária e a letra da redução do nível de qualidade de vida ainda não foi devidamente entendida pela platéia de contribuintes e de (de)formadores de opinião.


A reverência histórica ao regime fiscalista prevalece. Com o acovardamento dos empresários, a omissão dos sindicatos de trabalhadores e a irreverência do Estado em suas várias esferas. Além, é claro, do quase que completo alheamento da mídia.


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