Regionalidade

Região perde
para o Interior

DA REDAÇÃO - 05/08/1998

Como 22 Associações Comerciais e Industriais podem conseguir a integração técnico-operacional do SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito) e do Telecheque que as sete entidades congêneres do Grande ABC insistem em manter separados? O exemplo de integração, o primeiro em todo o Estado de São Paulo, está na Região Administrativa de Araçatuba. O programa, inicialmente lançado no Grande ABC pelo vice-presidente da Facesp (Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo), Wilson Ambrósio da Silva, ex-presidente da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André), acabou atropelado por idiossincrasias regionais. Exatamente o que as 22 entidades da região Noroeste do Estado superaram com bem delineado projeto. Resumo da ópera: enquanto Araçatuba e região já começam a colher os frutos da unificação do sistema de crédito, o Grande ABC mantém-se dividido e vulnerável. 


Para entender a importância da integração, que tem o estímulo do presidente da Facesp e da Associação Comercial de São Paulo, Élvio Aliprandi, nada melhor que verificar o entusiasmo de Nivaldo Albani, empresário que ocupa a vice-presidência da Associação Comercial e Industrial de Birigui e igual cargo regional da Fapesp. Há 18 anos diretor da associação de Birigui, período no qual ocupou um mandato como presidente, Nivaldo é o responsável pelo sucesso da integração do sistema de informações de crédito que une 22 entidades. 


A Região Administrativa de Araçatuba congrega 42 Municípios e tem um terço do tamanho demográfico do Grande ABC -- 800 mil habitantes. As 22 entidades filiadas à Fapesp eram ilhas de ineficiência com registros de proteção ao crédito e telecheques restritos aos seus respectivos territórios geográficos. Uma situação que incentiva a malandragem, segundo explica Nivaldo. Consumidores especialistas em aplicar golpes -- esse é apenas um exemplo -- faziam compras em Araçatuba, mas residiam em Birigui ou em outro Município cujo SCPC registrava a folha corrida de mau pagador. Como o lojista não solicita comprovante de residência, a consulta se limitava ao banco de dados de Araçatuba. Resultado: lá se ia uma compra para o vinagre. Esse tipo de golpe foi descoberto justamente quando as associações comerciais decidiram colocar num mesmo programa de informática todos os dados de que dispunham; isto é, aumentaram o cerco contra os espertalhões travestidos de clientes.


O que se encontrou com a unificação foi um horror em matéria de solvência. Nada menos que 180 mil nomes estavam negativados, ou seja, passaram a ter o crédito bloqueado pelo sistema centralizado. Com o faro fino da informática a serviço de todos, os lojistas encontraram motivação para filiar-se às respectivas entidades, velho drama das associações comerciais do Grande ABC. Nivaldo Albani explica que cresce além da conta a relação de comerciantes e prestadores de serviços interessados em associar-se às entidades. "Estamos vivendo situação inusitada, em que se verifica não a procura da associação por novos associados, mas o inverso" -- comenta.


Dieta de dados -- Enquanto isso, o Grande ABC sofre com a dieta de dados conjuntos. Situação que gera desconfiança dos empreendedores associados, desestimula novas filiações e abre flancos para o crescimento de duas grandes organizações privadas especializadas em rastreamento de inadimplentes -- a Serasa e a SCI. Se um dia resolverem fundir seus dados, as seis associações comerciais do Grande ABC vão descobrir as mesmas falcatruas da região de Araçatuba. Para se precaver, a Aciscs (Associação Comercial e Industrial de São Caetano) já interligou seu banco de dados ao da Associação Comercial de São Paulo. É uma maneira de fechar boa parte das brechas contra a malandragem. 


Mais vantagens de dar água na boca do Grande ABC estão se registrando em Araçatuba, Birigui e outros Municípios do Noroeste paulista. Economicamente, também o peso começa a aparecer. O sistema é operacionalmente mais racional, porque dispensa a sobreposição de tarefas e de profissionais que se verificava com a fragmentação por entidade. O custo para o lojista e prestador de serviço também é mais vantajoso. A informação regionalizada custa em média R$ 0,70, enquanto no sistema anterior o patamar mínimo, para consulta estritamente em um Município, chegava a R$ 0,45. Bastava desmembrar a consulta de crédito a outros dois Municípios, para estreitar a taxa de risco de inadimplência, para o valor da consulta subir para R$ 3,45. Tudo porque na planilha de custo o tempo dispensado ao atendimento pesa muito. Quanto mais informatizado, menos tempo para obter resposta à consulta. 


Com a informatização e a centralização de dados, as consultas, além de mais confiáveis, são mais ágeis. Lojistas que se mantêm ligados online com a central operacional obtêm informações em três segundos. Os demais encontram do outro lado da linha uma atendente que dispõe de terminal de computador acionado após o registro do nome, endereço, filiação, data de nascimento e números do CIC e do RG. A central está instalada em Araçatuba não necessariamente porque é a sede administrativa do governo do Estado, mas porque as bases das redes de telecomunicações estão em seu território. Um dos problemas que dirigentes das associações comerciais do Grande ABC enfrentaram para operacionalizar a centralização de dados foi uma guerra de nervos que envolveu Santo André e São Bernardo pela sede da atividade.  


A distribuição dos valores das consultas de crédito na central de Araçatuba, conta o dirigente de Birigui, se dá de forma harmoniosa: metade fica para a gestão do sistema e metade para o Município de origem da consulta. Simples como dois e dois são quatro. 


Depois de acusar esperado déficit durante os dois primeiros meses, o sistema já encontrou o ponto de equilíbrio, segundo Nivaldo Albani. E vai começar a dar resultados financeiros positivos -- avalia -- à medida que a segurança das informações se cristaliza e se propaga entre antigos e novos associados. O sistema eletrônico, que independe de atendente, está 24 horas no ar. É utilizado à noite principalmente por postos de gasolina.


Depois desse consórcio técnico-operacional, as entidades do Noroeste paulista já estão se preparando para novos saltos. Farão promoções em conjunto, com sorteio de veículos e também incursões comerciais para favorecer os associados em forma de planos de assistência médica, seguro patrimonial e outras ações em que o volume reduz o custo unitário.


Embora esteja à frente da integração regional, consumada institucionalmente no final do mês com uma festa em Araçatuba, Nivaldo Albani lembra que todo o processo foi profissionalizado, com a contratação de um especialista em informática. Outras regiões do Estado, cujos representantes se reúnem uma vez por mês na sede da Associação Comercial de São Paulo, estão desenvolvendo projeto semelhante. A expectativa do presidente Élvio Aliprandi é de que em dois anos as 370 associações comerciais paulistas estarão interligadas entre si e com o banco de dados da entidade paulistana. 


Bairrismos -- A expectativa de que o Grande ABC participará para valer desse projeto não é exercício inútil. Embora o assunto cause certo constrangimento aos dirigentes das associações, a união é questão de sobrevivência. A vulnerabilidade dos dados municipais não resiste às necessidades de solidez de informações e à concorrência privada. Wilson Ambrósio da Silva, o idealizador do projeto, afirma diplomaticamente que faltou vontade política para o sucesso que Araçatuba e região experimentam. Filipe dos Anjos Marques, ex-presidente e atual membro do Conselho Superior da Associação Comercial e Industrial de Diadema, lamenta que tenham prevalecido o que chama de visões bairristas. 


Wilson Ambrósio critica o individualismo de alguns, sem nominá-los. Sua saída do grupo de coordenação do Grande ABC, em setembro do ano passado, por falta de ação dos presidentes das associações no andamento dos processos discutidos e aprovados em reuniões mas não executados por falta de vontade individual, criou um vácuo de integração. Wilson Ambrósio integra hoje o grupo de trabalho que cuida da regionalização estadual, nomeado pela diretoria da Facesp, além de ocupar o cargo de diretor-financeiro. 


Outros dirigentes preferem até não falar sobre o assunto. Mas um presidente parece constar da lista de todos os demais como maior opositor ao processo de integração na região. Trata-se de Valter Moura, da Associação Comercial e Industrial de São Bernardo. Frequentadores de reuniões programadas para a criação da central de dados afirmam que Valter Moura não conseguiu vender a idéia a seus pares de diretoria. Outros dizem que nem ele mesmo se convenceu da importância da integração, pois não se empenhou para valer como os demais. 


Valter Moura voltou de viagem no final do mês a tempo de falar sobre o assunto. E, como os demais, de forma cifrada. Ele disse que diferenças técnicas e políticas acabaram prevalecendo, mas não fez acusações diretas. Não confirmou e nem desmentiu dificuldades de relacionamento com a diretoria da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André). Disse apenas que as negociações acabaram ferindo suscetibilidades. Por fim, considera a regionalização menos importante que a estadualização do SCPC. Isto é: espera acertar com a Associação Comercial de São Paulo o que não foi possível no Grande ABC. Se as demais entidades, como já procedeu São Caetano, agirem da mesma forma, a regionalização se dará de forma indireta, com todos os dados centralizados na Capital. As informações serão mais completas do que hoje, mas o ganho em escala de Araçatuba e região não se repetirá por causa da manutenção de estruturas individuais. 


De qualquer modo, o pioneirismo interiorano deve mexer com os brios do Grande ABC. As associações comerciais e industriais, propulsoras da criação do Fórum da Cidadania, que introduziu mecânica de união e dinamismo institucional na região, simplesmente não conseguiram formatar um modelo bem mais simples de integração do que Araçatuba e vizinhança mais numerosa e distante entre si. 


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