O inferno astral que a Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC viveu pouco antes de completar três anos de atividades, este mês, não arrefeceu os ânimos do organismo concebido pelo prefeito morto Celso Daniel. A saída em bloco dos Ciesps e das associações comerciais regionais e as limitações financeiras agravadas pelo quadro de inadimplência poderiam sugerir engessamento das ações e intenções da Agência, mas a realidade é completamente diferente. Ao mesmo tempo em que se aproxima de novas entidades para adensar o quadro de 29 filiados, a instituição ergue pontes com organismos nacionais e internacionais para superar a crônica deficiência de recursos financeiros. Afinal, a receita mensal de R$ 27 mil é modesta levando-se em conta o desafio de estimular e recuperar a economia de um Grande ABC fragilizado pela desindustrialização.
"Os recursos disponíveis para projetos econômicos e remuneração dos profissionais são inferiores aos vencimentos individuais de muitos executivos da iniciativa privada" -- observa o diretor-executivo José Carlos Paim, ex-professor da Fundação Getúlio Vargas, um dos fundadores do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais) do Rio Janeiro e com passagens profissionais pela Rhodia Têxtil de Santo André e Oxiteno, empresa de segunda geração do Pólo Petroquímico de Capuava. Paim explica que se os inadimplentes que se desvincularam da Agência estivessem com mensalidades em dia, as receitas atingiriam R$ 33 mil.
A falta de recursos para tocar projetos de monta leva a Agência de Desenvolvimento a adotar a mesma prática de empresas inseridas em mercados competitivos: apurar a produtividade para fazer mais com menos. E fazer mais com menos, no caso dessa organização não-governamental de economia mista, significa buscar parceiros e órgãos de financiamento para realizar ações em carreira solo. Foi seguindo essa receita que a agência implementou incubadoras de empresas em Mauá e Santo André com apoio das prefeituras e do Sebrae (Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa), formulou proposta de recursos a fundo perdido ao BID/Fomin (Banco Interamericano de Desenvolvimento), trouxe o maior seminário internacional sobre economia e regionalidade já realizado no Grande ABC em parceria com a ONU (Organização das Nações Unidas) e formalizou parceria com fundação alemã para levantar o potencial econômico do Grande ABC, entre outras iniciativas. "Quem diz que a Agência não faz nada não conhece nossas ações e limitações. Dadas as circunstâncias, a agência faz muito" -- desabafa Carlos Paim.
Incubadoras -- Num cenário regional marcado por desindustrialização e desemprego, incubadoras de empresas compõem uma das principais diretrizes da Agência de Desenvolvimento Econômico. A instituição articulou a implementação de incubadora em Mauá em dezembro de 2001, de Santo André em setembro último e viabiliza a criação da próxima em Diadema. "O projeto já foi encaminhado ao Sebrae" -- comenta Carlos Paim, que também pretende instalar berçários de empresas em São Caetano e Ribeirão Pires -- São Bernardo já conta com um.
A Agência não apenas coordena a criação de incubadoras com Sebrae (responsável por treinamento e liberação de recursos financeiros) e prefeituras (que concedem espaço físico) como cuida da gestão por intermédio de nomeação de gerentes. Paim contabiliza na incubadora de Mauá 120 empregos, dos quais 50 diretos e 70 indiretos. Entre as 12 incubadas há fabricantes de rodinhos de aço inoxidável, de uniformes esportivos, de softwares, de comunicação visual e tomate seco.
Diferentemente do empreendimento de Mauá, que é misto, a incubadora de Santo André é direcionada à área de tecnologia. As sete empresas que compartilham espaço de 500 metros quadrados se dedicam a negócios como softwares empresariais, programa para laboratórios médicos, cartões eletrônicos para árbitros de futebol, dispositivos automotivos de segurança e reator para lâmpadas elétricas. Pode ser o embrião do terciário de valor agregado idealizado por Celso Daniel para compensar a perda do tônus industrial do Município.
Além de buscar recursos financeiros no Sebrae, que só para a incubadora de Santo André contribuiu com aporte de R$ 100 mil, a Agência de Desenvolvimento empenha-se em garimpar recursos em outros órgãos oficiais de fomento para acelerar o desenvolvimento das incubadoras: prepara projeto para angariar R$ 1,5 milhão a fundo perdido da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). Profissionais da Agência já se deslocaram ao Rio de Janeiro, sede do órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, para acertar arestas do projeto. A partir da aprovação, os recursos serão liberados gradualmente, ao longo de 24 meses. Como a liberação está condicionada a contrapartidas, agentes locais terão de empenhar os mesmos recursos oferecidos pela Finep. "Se tudo der certo, teremos R$ 3 milhões para investir em treinamento, tecnologia e pesquisa e desenvolvimento" -- deseja Carlos Paim.
A linha de crédito da Finep foi vislumbrada por Jeroen Klink, secretário de Relações Internacionais de Santo André e diretor-adjunto da Agência. Também é resultado das buscas de Jeroen Klink o projeto enviado ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) pelo qual a Agência espera obter US$ 1 milhão a fundo perdido até o final de 2002.
Carlos Paim comenta que os recursos do BID serão convertidos em ferramentas de marketing e atendimento voltadas à atração de empresas para a região. Ele explica que a agência pretende desenvolver um guia de investimentos para divulgar características do Grande ABC a potenciais investidores. "O guia conterá informações para interessados em instalar empresas, como capacidade energética, de recursos hídricos, perfil da mão-de-obra e grade de impostos dos municípios" -- detalha.
A Agência também planeja criar uma central de informações via telemarketing para atender ligações geradas por intermédio do guia de negócios.
Quanto mais informações a Agência dominar sobre setores produtivos do Grande ABC, melhores condições terá para subsidiar eventuais novos empresários. Graças à parceria firmada com a fundação alemã Friedrich Ebert Stiftung, 25 representantes de sindicatos, empresas e universidades da região foram treinados para levantar informações sobre o Grande ABC na condição de agentes de desenvolvimento. Eles produzirão relatórios sobre a situação dos principais setores produtivos da região para auxiliar poderes públicos na adoção de políticas de fomento. "Os relatórios serão produzidos através de entrevistas com empresários e servirão de diretrizes para o desenvolvimento econômico setorial" -- afirma Paim, que espera a conclusão dos relatórios para daqui três meses.
Eventos -- Os eventos que a Agência promove para discutir a realidade e o futuro do Grande ABC também são viabilizados por meio de parcerias estratégicas. Foi assim que trouxe para Santo André o maior evento internacional sobre regionalidade que o Grande ABC já sediou. O seminário Cidades Produtivas e Inclusivas, patrocinado pela ONU e pelo Banco Mundial, atraiu perto de 500 participantes com especialistas dos cinco continentes.
O seminário da ONU foi realizado em junho e é apenas um entre os vários debates promovidos este ano. Em agosto, a Agência trouxe a ex-ministra Dorothéa Werneck para seminário sobre exportação com perto de 160 empresários. No mês passado, promoveu seminário sobre o setor plástico no Teatro Municipal de Mauá, Município que mais se beneficia da concentração de empresas de segunda geração no Pólo Petroquímico de Capuava, junto com Santo André. O evento realizado em parceria com a Abiplast (Associação Brasileira da Indústria Plástica) reuniu dois blocos em formato de talk show. Os jornalistas Daniel Lima, de LivreMercado, e Joaquim Alessi, do Diário do Grande ABC, coordenaram os debates com empresários do setor.
Outra iniciativa recente é a parceria firmada com a organização não-governamental Casa Canadá, que reúne empresários daquele país. "Pretendemos incrementar relações internacionais para atrair investimentos canadenses e incrementar as exportações do Grande ABC" -- explica Carlos Paim, agora em sede própria no ex-prédio da Justiça trabalhista de Santo André, de onde comanda equipe enxuta de quatro funcionários e desafios gigantes de ajudar a dar novos rumos ao Grande ABC.
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