Sociedade

Morte de Celso Daniel salva
mais de 11 mil vidas na região

DANIEL LIMA - 09/05/2019

Se o número de assassinatos no Grande ABC de 2001 fosse mantido nos anos seguintes até a temporada passada, teriam sido empilhados 16.116 corpos. Como houve uma morte que abalou o País no começo de 2002, o número foi rebaixado para 4.911. A diferença de 11.205 vítimas poupadas, ou de 69,53%, pode não ser exatamente uma relação precisa do que os números poderiam emergir no período de 17 anos, mas é simbólica de uma reviravolta na política de Segurança Pública do Estado de São Paulo. 

O que quero dizer com isso é que o assassinato do prefeito Celso Daniel em janeiro de 2002 oferece uma contra face criminal já abordada aqui há muito tempo, mas cuja atualização numérica sempre é oportuna quando se observa que o Grande ABC reduz os casos de homicídios dolosos a cada temporada. Já flertamos com a Baixada Fluminense no passado, é bom que se lembre. 

É claro que o Grande ABC não foi o único território paulista a usufruir de melhora criminal. O Estado como um todo melhorou muito. Seguindo o mesmo critério contábil, por assim dizer, nos 17 anos a partir de 2001 os paulistas tiveram nada menos que 117.903 vidas preservadas. Seriam 212.075 se prosseguisse a matança de 2001, mas, com as medidas tomadas, chegou-se a 94.172. Uma queda em números relativos de 55,59% no período. 

O histórico de criminalidade no Estado de São Paulo e no Grande ABC pode ser dividido antes e depois do assassinato do prefeito de Santo André. O governo do Estado excessivamente complacente com os marginais por conta da política de Direitos Humanos implantada pelo então governador Mario Covas, cedeu à demanda por segurança para valer naquele janeiro de 2002 sob o comando de Geraldo Alckmin. Covas morreu sete meses antes. 

Troca de comando

Tanto é verdade que tudo começou a mudar que um efeito imediato pós-morte de Celso Daniel foi a troca na direção da Secretaria de Segurança Pública do Estado, no dia seguinte ao enterro do corpo do petista encontrado um dia antes numa estrada vicinal de Juquitiba, Município da Grande São Paulo. O comando da Secretaria de Segurança Pública. Saiu Marco Vinício Petrelluzzi e entrou Saulo de Castro Abreu Filho. A diplomacia cedeu lugar ao enfrentamento.

O que quero dizer com isso, entre outras observações sobre o assassinato do prefeito de Santo André, é que, muito além da estratégia político-eleitoral de imputar ao PT a responsabilidade pela morte de Celso Daniel, o governo tratou de corrigir a rota de uma degringolada até então incontrolável nos índices de criminalidade. 

Cheguei ao número de 11.205 vidas poupadas ao proceder a contagem simples. Primeiro, multipliquei pelos 17 anos posteriores os 948 assassinatos no Grande ABC em 2001, ano anterior ao crime contra Celso Daniel. Resultado? 16.116 corpos. Em seguida, somei os homicídios que de fato se consumaram em cada um dos sete municípios da região a partir de 2002. Resultado: 4.911 mortos. A diferença entre mortos e poupados de morte, de 11.205 vidas, foi registrada em seguida. 

Sei que forcei a barra ao congelar os assassinatos de 2001, multiplicando-os por 17 temporadas seguintes. Mas quem garante que, não fossem os estragos na imagem do governo do Estado com a morte de Celso Daniel, tudo permaneceria como antes ou mesmo teria se agravado?  

Efeitos macroeconômicos

O Grande ABC destes tempos na área criminal não pode ser comparado com o Grande ABC dos cinco anos anteriores ao assassinato de Celso Daniel. Havia sincronia macabra entre a queda do estoque de trabalhadores industriais e do PIB (Produto Interno Bruto) e o aumento da criminalidade na região. Vivíamos anos terríveis do governo de Fernando Henrique Cardoso. Paralelamente a isso, o governo Mario Covas impunha restrições de ordem supostamente humanitária na área de Segurança Pública. Havia desmotivação entre os policiais civis e militares, saudosos dos tempos de bandido bom é bandido morto de governos conservadores. 

Os 948 cadáveres contabilizados no Grande ABC em 2001 foram menos que os 1.149 do ano anterior. Nada que sinalizasse qualquer mudança na política do governador do Estado. A morte de Celso Daniel, depois de sequestro, determinou a fermentação de mudanças. O sequestro do publicitário Washington Olivetto, libertado no começo de fevereiro de 2002, foi bem menos importante.  

Para se ter ideia do quanto foi vigoroso o cavalo de pau na gestão da Segurança Pública pós-assassinato de Celso Daniel basta lembrar que Santo André sozinha em 2001 registrou mais assassinatos (213) que o Grande ABC inteiro no ano passado (168). No período de 17 anos, sempre considerando como base os assassinatos em 2001, Santo André poupou 2.165 vidas, Ribeirão Pires 97, São Caetano 256, Diadema 2.722, Mauá 1.901, São Bernardo 2.969 e Rio Grande da Serra 48. 

Especulação emblemática 

Os dados sobre homicídios cumulativos a partir de 2002 no Grande ABC são projeção respaldada pela especulação numérica. Essa situação pode ensejar contestações que não retiram o eixo da gravidade criminal que dominava o Grande ABC na virada do século. Por outro lado, quando se trata de taxas de homicídios dolosos por 100 mil habitantes, a realidade se impõe de forma incontestável. Não são projeções com base num determinado cenário. São dados reais. 

O que quero dizer com isso é que, quando se calcula o quanto cada Município da região reduziu de taxa de homicídios dolosos desde 2001, sempre considerando o efeito-Celso Daniel, utilizando-se para tanto metodologia consagrada internacionalmente, chega-se a resultados igualmente impactantes. 

O caso mais emblemático de redução da criminalidade letal no Grande ABC é de Diadema. Em 2001, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo apontava o registro de 65,76 assassinatos para cada grupo de 100 mil moradores. Na ponta da pesquisa, em 2018, o índice chegou a 8,42%. Uma diferença de 57,334 pontos percentuais. 

Já os homicídios dolosos por 100 mil habitantes em São Bernardo caíram de 37,23% em 2001 para 4,70 em 2019. Em Santo André eram 32,62 e passaram para 7,22. São Caetano contabilizava 14,17 assassinatos em 2001 e não registrou nenhum caso no ano passado. Ribeirão Pires caiu de 20,87 para 7,58. Mauá caiu muito mais, de 49,85 para 7,69. Rio Grande da Serra, por causa de população que não chega a 100 mil habitantes, não entra na estatística da Secretaria de Segurança Pública do Estado. Já no Estado de São Paulo os 33,10 assassinatos para cada grupo de 100 mil habitantes em 1999 foram reduzidos para 6,70 em 2018. 



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