Sociedade

Diferente, mas
muito promissor

WALTER VENTURINI - 05/02/2004

Mercado exclusivo de 200 mil consumidores -- muitos com alto poder aquisitivo -- é o que todo empresário sonha. A oportunidade existe e está no Grande ABC, onde a publicitária Tatiana Padron e a administradora Márcia Valiceli decidiram investir R$ 200 mil e abriram a Famatasy, primeira casa noturna assumidamente voltada ao público GLS (gays, lésbicas e simpatizantes). As sócias firmam na região uma tendência mundial de empreendedores atentos a esse nicho muito especial e extremamente atraente aos negócios.

"Somos um casal que decidiu trazer para o Grande ABC uma casa GLS do nível das que existem na Capital. Éramos apenas clientes e a idéia surgiu inicialmente como uma brincadeira" -- conta Tatiana, que nasceu em São Bernardo e há 10 anos vive com Márcia. A publicitária conhece por experiência própria as limitações de entretenimento para homossexuais do Grande ABC, por isso decidiu apostar no negócio. "O homossexual da região é acuado por não ter espaços e isso ocorre porque ninguém quer investir" -- avalia Tatiana.

É para esse tipo de consumidor que as duas empresárias reformaram um prédio com 500 metros quadrados na esquina da Avenida Caminho do Mar com Rua Leão XIII, em Rudge Ramos, São Bernardo, com dois ambientes, dois bares e 45 mesas. A Famatasy abre inicialmente de quinta-feira a domingo. O primeiro andar abriga duas mesas oficiais de sinuca, música ambiente e serviço de restaurante. O piso superior foi reservado para música ao vivo e um clima mais descontraído. A capacidade é para 600 pessoas, mas os salões podem abrigar até mil frequentadores.

São 15 funcionários uniformizados, estacionamento grátis e com segurança. O cardápio é eclético e varia do sushi à picanha na tábua. "Os clientes são tratados com respeito e todo o mimo que falta ao público GLS da região" -- garante a empresária, que faz questão de assegurar ambiente tranquilo a ponto de permitir a frequência também de heterossexuais. Tatiana Padron revela já ter sido procurada por empresários do Grande ABC interessados no negócio. "Acredito que hoje seja mais promissor investir no mercado GLS do que abrir mais um bar na Avenida Kennedy, em São Bernardo" -- avalia.


Mercado em alta -- Não é só impressão de empreendedora iniciante, mas uma tendência de mercado comprovada por inúmeras pesquisas. A Gay Lawyers, ONG que reúne advogados e juristas interessados na discussão e estudo do direito dos homossexuais no Brasil, estima em 16 milhões o número de homos no País, quase 10% da população. Se o cálculo for aplicado ao Grande ABC, com seus 2,3 milhões de habitantes de acordo com o Censo de 2000, são aproximadamente 200 mil gays, lésbicas, bissexuais e transexuais na região. 

Nos Estados Unidos, onde o mercado GLS é cuidadosamente estudado pelos empresários, os homossexuais ganham cerca de 15% a mais que a média dos trabalhadores. Um quinto desse público paga entre US$ 36 e US$ 45 em um jantar para dois e 31% gastam entre US$ 100 e US$ 199 por mês em restaurantes. "O público GLS não tem filhos e gasta com o bem-estar próprio, com roupa e lazer" -- afirma Tatiana Padron.

No Brasil o estudo do mercado GLS ainda engatinha, mas a pesquisa O Consumidor Saindo do Armário -- O Público Gay e a Mídia, de Fábio Mariano e Eliane Lima, indica que 73% dos homossexuais entrevistados viajam anualmente pelo País a lazer. No período de três anos, um terço dos pesquisados viajou ao Exterior, 89% vão ao cinema com frequência, 60% ao teatro e 57% visitam museus e galerias. Talvez o que expresse mais esse potencial enrustido que a cada dia desabrocha seja a Parada do Orgulho Gay, em São Paulo. Em 1999, foram 35 mil manifestantes. Em junho do ano passado a parada reuniu cerca de um milhão de pessoas, atrás somente da manifestação de San Francisco, nos Estados Unidos, considerada a Capital mundial dos homossexuais.


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