Imprensa

Veja como encontrei o Diário que
Ronan Pinto comprou em 2004 (33)

DANIEL LIMA - 18/06/2019

A edição 32 de OmbudsmanDiário foi a mais densa em quantidade entre as 36 que preparei em 2004 para diretores, acionistas e editores do Diário do Grande ABC. Foram 24,5 mil caracteres, ou 4.854 palavras. Havia sido contratado à função de ouvidor do jornal, período que antecedeu meu desembarque como diretor de Redação. Um desembarque compromissado com o futuro do jornal, porque carregava no disquete o Planejamento Editorial Estratégico que utilizei durante 11 meses de um período contratual de cinco anos. Ou seja: uma reforma abortada.

De fato, a função de Ombudsman foi um ato preparatório à imersão no dia a dia do Diário do Grande ABC, de onde saíra em dezembro de 1986 para a sucursal do Grande ABC da Agência Estado, do Grupo Estadão.

A contundência das críticas que preparava diariamente tinha objetivo claro: não retroceder um milímetro sequer na missão de transformar um jornal que vinha em lento e inexorável processo de debilidade editorial. Acompanhem a edição de 12 de julho de 2004. Faltam apenas quatro para o encerramento dessa etapa.

Edição de número 32

Nem todo o material que selecionei das edições de sexta, sábado e domingo do Diário do Grande ABC, da Folha de S. Paulo e do Estadão faz parte desta edição. Alguns deixei para amanhã, juntamente aos assuntos que trafegarão pelos geralmente escassos jornais desta segunda-feira. Preferi deixar alguns pontos para a próxima edição porque já temos quilométrica newsletter nesta segunda-feira.

Creio que os leitores devem imaginar o quanto tenho me dedicado a essa função que, em princípio, me parecia menos extenuante. Sinto-me na mesma situação de um analista de futebol que vai aos jogos com a obrigação de desvendar os mistérios de cada um dos 90 minutos de bola rolando. Algo muito diferente de quem vai aos jogos apenas como torcedor.

Assim estava eu até recentemente: lia atentamente os jornais sem preocupação específica de ficar coletando referências, erros, acertos, buracos, avanços. Como ombudsman sou forçado a ser crítico o tempo todo, a cada linha consumida como leitor.

Meu entusiasmo corre na mesma mão de direção das efetivas respostas da corporação. Entenda-se como corporação a soma de acionistas, diretores, redação e leitores. Quando tiver certeza de que eventualmente há descompasso insuperável entre meu empenho e as tentativas de melhoria do produto, pego meu boné e dou no pé. Detesto enxugar gelo.

Completamos 19 edições desta newsletter especificamente de análise do jornal. Não estamos considerando o Planejamento Estratégico Editorial. Até agora, produzimos 207.056 caracteres em 20 edições diárias, o que dá a média de 10.352 caracteres por edição. 

 Primeira página (I)

A manchete de primeira página da edição de sexta-feira ("Polo Petroquímico terá termoelétrica") força a barra por causa da manchete principal do dia anterior sobre assunto semelhante. Levando-se em conta que a decisão de investimento não é algo sacramentadamente garantido, creio que o jornal se excedeu no desejo de construir um novo Grande ABC.

 Primeira página (II)

A chamada do decisivo jogo do Santo André na Série B do Campeonato Brasileiro -- todo jogo do Santo André será decisivo, depois de perder 12 pontos no tapetão -- mereceria colocação de primeira página muito melhor na sexta-feira. Infelizmente, entrou a reboque de um jogo inexpressivo da Seleção Brasileira. O melhor teria sido a inversão: a chamada do Santo André que jogou em casa e em segundo plano o jogo da Seleção. Até mesmo a foto poderia ser de preparativos do Santo André. Jornalismo regional não pode ser seduzido pela globalização.

Há momentos em que a regionalidade deve falar mais alto. Com substância. A edição precisa levar em conta, também, o acréscimo de expectativa que se destila num jogo de futebol. Já escrevi sobre isso nesta newsletter. Uma foto e uma boa chamada de capa para um jogo de um time recentemente incensado pela população levariam mais torcedores ao estádio. Podem acreditar.

 Primeira página (III)

O título de primeira página de sexta-feira sobre o Festival de Inverno de Paranapiacaba, sobreposto à foto, ficou um horror.

 Primeira página (IV)

Um exagero a manchete principal da primeira página da edição de sábado. Alçar o Festival de Inverno de Paranapiacaba ao topo da página é um exagero. Qualquer outra manchete seria melhor. Manchete de primeira página deve ser reservada a algo extremamente impactante, instigante, revelador, provocante, audacioso. O Festival de Inverno é cronologicamente aguardado. Só teria sentido subir ao topo se agregasse alguma informação extremamente importante.

 Primeira página (V)

Como vou deixar para a edição de amanhã a matéria que deu origem à manchete principal de primeira página da edição de domingo, transfiro o comentário também para depois.

 Editorial (I)

O editorial de sábado "Sociedade Civil na Universidade" comete série de pecados. Leva para o campo do democratismo o que é essencialmente uma ação de especialistas em competitividade regional. "Chegou a hora de se incorporar o vigor da sociedade civil na criação da UFABC, levando a discussão para as sociedades de bairro, clubes de serviço, entidades de classe e empresários" (...) "Enquanto não houver essa mobilização, as intervenções em defesa da universidade serão pontuais, o que não transfere ao projeto uma justa dimensão regional" (...) "A população precisa assumir a responsabilidade de participar ativamente na busca dessa conquista para o Grande ABC, que será um marco histórico em diversos sentidos" (...) "Nesse sentido, a abertura das discussões à sociedade civil dará maior solidez e objetividade à definição do perfil que a região exige na atual fase de desenvolvimento" (...) "Os candidatos às eleições municipais deste ano não podem ser omissos no debate, mas essa participação deve necessariamente ter caráter suprapartidário".

Tudo isso que está entre aspas faz parte do editorial. Um jogo de palavras sem qualquer relação com senso de diagnóstico, de planejamento, de ação. Uma parafernália léxica que estaria perfeita na autoria de algum candidato a alguma coisa. Menos à consecução de um projeto que recomenda racionalidade, conhecimento e responsabilidade.

 Editorial (II)

O editorial do Diário de sábado sob o título "Polo social", que faz crítica ao distanciamento social das empresas do Polo Petroquímico de Capuava, escorregou no tomate. Se há um setor no Grande ABC cujos representantes moveram-se em direção à comunidade nos últimos anos é exatamente o de Capuava. Esse desconhecimento é dose cavalar, porque até suplementos o Polo Petroquímico encartou no Diário sobre ações econômicas e sociais. Sem contar que vários representantes daquelas unidades estão inseridos em organizações regionais. Jorge Rosa, executivo da Petroquímica União, é diretor-geral da Agência de Desenvolvimento Econômico. Nívio Roque, da Polietilenos, está nos quadros da Acisa.

A barbaridade do editorial não está restrita a atirar o Polo Petroquímico na vala comum dos insensíveis. Quando o editorial escreve que "O ideal é que sejam alimentados vínculos afetivos permanentes, como se constata em relação a outras instituições identificadas com a região, como é o caso das montadoras", o sacrilégio é imensurável, porque as montadoras, estas sim, são absolutamente arredias e desinteressadas na sorte institucional do Grande ABC. Aliás, já escrevi muito a respeito disso.

Quem não conta com agregado de informações sobre o Grande ABC deveria ter mais cuidado com incursões históricas. O deslize enobrece os agentes comodistas e deslustra a biografia dos protagonistas comprometidos com a sorte da região.

 Festival de Paranapiacaba

O Diário fez ótima apresentação da abertura do Festival de Paranapiacaba na edição de sexta-feira. Talvez tenha sido pelo volume e pelas abordagens que se seduziu o espaço nobre de primeira página.

 Eleições Municipais (I)

O Diário publicou boa matéria na edição de sábado ("Candidatos apostam em showmícios") sobre a contratação de cantores e cantoras para animar comícios. Todos do PT. E os outros partidos, como ficam? Por que só o PT consegue encantar a classe musical?

 Eleições municipais (II)

Embora não seja inédita -- muito diferente disso --, a pauta sobre as candidatas aos Executivos do Grande ABC vale pela sempre providencial aferição da presença feminina nos quadros partidários.

 Eleições municipais (III)

No caso específico de Santo André, a candidatura de Ivete Garcia a vice de João Avamileno reúne ingrediente que o Diário preferiu ignorar desde a homologação da decisão: Ivete abre as portas do Paço, em caso de vitória, a seu tutor político, o deputado federal Luizinho Carlos da Silva. Ou seja: em caso de vitória de Avamileno, Luizinho terá plantado os dois pés no Paço Municipal, mesmo estando em Brasília. Não é por outra razão, aliás, que ele tanto exalta sua liderança na criação da Universidade Federal do Grande ABC -- pelo visto, a senha para a campanha a prefeito daqui a quatro anos. Um direito dele, sem dúvida. Mas não custa situar o leitor.

 Caso Celso Daniel (I)

A Folha de sexta-feira publicou em Tendências/Debates um artigo ("Inquérito policial sem polícia") bastante esclarecedor sobre a participação do Ministério Público nas investigações criminais. Assinado por Saulo Ramos, ex-consultor-geral da República e ex-ministro da Justiça do governo Sarney, o artigo reforça a garantia de que o MP usurpou espaços da polícia judiciária.

 Caso Celso Daniel (II)

O Estadão de domingo aborda outra vez a questão do Ministério Público, desta feita com resgate histórico. O jornal paulistano se manifestou contrário à constitucionalidade de o MP ficar fora de investigações, mas nem por isso sequestra uma pauta indispensável. Só o Diário não acordou.

 Polo Petroquímico (I)

O Diário ressuscitou na edição de sábado, na esteira da edição anterior de investimentos no Polo Petroquímico, assunto que parecia destinado ao esquecimento, sob o título "Investimento no Polo deverá resgatar projeto de térmica". A notícia da construção de uma usina termoelétrica no Polo Petroquímico transmite a sensação de que houve uma forçada de barra.

A matéria ouve também vários protagonistas a respeito dos investimentos voltados ao aumento da produção do Polo e retira importante informação sobre o uso de polietileno linear, correlacionando a ausência do insumo à suposta obsolescência industrial no setor. No que é rebatido pelo executivo Nívio Roque, da Polietilenos União.

 Polo Petroquímico (II)

A matéria publicada sábado pelo Diário ("Investimento no Polo corrige injustiça, afirma sindicalista") é uma boa repercussão sobre assunto que interessa demais ao Grande ABC. Poderia ter sido mais bem tratada graficamente, com foto do protagonista.

 Conselho do Leitor (I)

Maria Olindina faz referência na coluna de domingo do Conselho do Leitor do Diário ao artigo "Grande ABC Troiano", do Contexto assinado pelo jornalista Daniel Lima. Membro do Conselho do Leitor, Maria Olindina tem toda razão quando afirma que precisou ler o artigo várias vezes para entender a mensagem. Quando entendeu, disse ela, sentiu-se plenamente satisfeita. Aquele texto foi propositadamente enigmático para quem não tem por hábito acompanhar meus escritos sistemicamente históricos.

Quem pegou o trem andando, como ela, sentiu mesmo dificuldade de compreender à primeira leitura. Fui realmente sutil e delicado, contrariando meu próprio estilo, porque, infelizmente, se escrevesse de outra forma, sem acrobacias semânticas, o Diário e seus protegidos não escapariam da turma de troianos que se juntaram aos helenos. Preferi a dificuldade de compreensão à exumação pública de uma jornada infeliz do jornal, que patrocinou e acobertou um festival de bobagens econômicas e institucionais que permearam a vida regional nos últimos 10 anos.

 Conselho do Leitor (II)

O editor-chefe Antonio Ximenes errou ao se expressar na coluna Conselho do Leitor de domingo. Ele afirma, sobre a manchete do Diário de quarta-feira passada referente à contratação de 561 trabalhadores pela General Motors: "Tivemos uma informação sofisticada, qualificada de fonte segura, para podermos caminhar nessa direção, que foi a direção de cravarmos a contratação de 561 trabalhadores pela GM. Foi muito bom porque nós tivemos coragem".

Na mesma data, a Folha publicou a informação no pé de matéria sob o título "Exportação de carro bate recorde e cresce 53%". Para não haver dúvida sobre o caso, transcrevo o texto da Folha, à página B7: "A GM vai contratar 420 funcionários para a unidade de São Caetano e efetivar 141 empregados terceirizados, segundo informou o Sindicato dos Metalúrgicos da cidade (filiado à Força Sindical) -- a empresa não comentou as informações da entidade. É a segunda montadora a anunciar contratações nesta semana. Na segunda-feira, a DaimlerChrysler informou que está contratando mais 108 trabalhadores para São Bernardo por prazo determinado de um ano".

Sou bastante cético quanto ao conceito tradicional de furo de reportagem, porque entendo que o furo conceitual é muito mais valioso. Agora, quando se trata de furo nágua, francamente, nada a acrescentar.

 Bilhete único

Na edição de sexta-feira o Diário voltou ao assunto "bilhete único" cobrindo a aplicação da novidade em Mauá. Mas ainda não ouviu um especialista no assunto não só para retirar dúvidas, como para traçar as diferenças em relação ao modelo em uso na Capital.

 Bailarino na praça 

Deu no Informediario de sexta-feira que o filho do consagrado bailarino Ruslan Gawriljuk está em férias em Santo André com sua mulher. Ambos são bailarinos de sucesso internacional. Cultura & Lazer não pode deixar de destacar a dupla. Gente do Grande ABC que faz sucesso internacional será sempre ótimo reforço à autoestima regional.

 Universidade do Empreendedor

A Gazeta Mercantil de quinta-feira publicou matéria de que está em fase de conclusão o projeto da Universidade do Empreendedor. O material seria entregue ao presidente do BNDES. A assessoria do deputado federal Vicentinho Paulo da Silva informou àquele jornal que o BNDES trataria de financiar o projeto. Não li nada no Diário a respeito do assunto. O cuidado que se deve tomar é evidente -- Vicentinho é candidato à Prefeitura de São Bernardo e é de seu interesse, como de todos os candidatos, propagar propostas.

 Universidades estaduais

O Estadão de sábado publicou um editorial ("A greve nas universidades estaduais") que vale a pena ser acompanhado principalmente por quem tem a responsabilidade de pautar, editar e escrever sobre questões educacionais.

 Pequenas empresas 

O Estadão de sábado publicou matéria ("Pedidos de crédito ao BNDES crescem 144%") que poderia se regionalizada. Deveríamos ouvir especificamente a Agência de Desenvolvimento Econômico sobre o fato de que o total de desembolsos do primeiro semestre às pequenas, médias e microempresas somou R$ 5,6 bilhões, 46% acima dos números do mesmo período do ano passado. Será que conseguiremos aferir o volume de pedidos nos sete municípios do Grande ABC e confrontá-los com o montante nacional, destrinchando o porte das empresas beneficiadas?

 Shopping center (I)

O Estadão de sábado publicou matéria ("Shoppings: a classe média vai ao paraíso") que mostra entre outras observações pertinentes uma forma diferenciada de se referir a um final de semana prolongado sem recorrer a fórmulas antigas, viciadas. O texto assinado por Aluízio Falcão é um primor. Indispensável a leitura para quem é de Setecidades.

 Shopping center (II)

Muito fraca e superficial a matéria do Diário de sábado "Shopping e parques da região concentram famílias no feriado", entre outros motivos porque, além de a pauta estar envelhecida, foi confusamente destrinchada.

 Dia da pizza

A impressão que o Diário deu na edição de sábado ao publicar "Pizza no ABC: sirva-se à vontade" é de que a pauta foi tão apressadamente sugerida quanto o texto aplicado. Algo só para cumprir tabela.

 Eixo Tamanduatehy

Demorou, demorou, mas o Diário voltou ao assunto, na edição de sábado, sobre o projeto de lei que pretende alterar o plano de ocupação do chamado Eixo Tamanduatehy, uma das heranças futurísticas de Celso Daniel. Desta vez a matéria conseguiu explicar que, no caso específico do Eixo, a administração de Santo André pretende permitir a construção de condomínios habitacionais horizontais. Acho que valeria ir mais fundo ao assunto, para saber o potencial desse novo espaço imobiliário que se abriria no Município. E, principalmente, quais as características pretendidas. Empreendedores imobiliários poderiam ser ouvidos.

É uma pena que um assunto dessa importância só retorne às páginas do Diário porque a informação atrela-se ao cronograma do Legislativo. O Diário segue amarrado demais às pautas oficiais.

 Toyota exagerada

A matéria de sábado do Diário "Toyota: melhor semestre da história no país" comete o exagero de afirmar que a multinacional japonesa tem uma fábrica no Grande ABC, sem, entretanto, dimensioná-la à realidade prática. "A Toyota, que tem fábrica em São Bernardo, teve o melhor primeiro semestre de sua história", escreve o Diário na abertura da matéria. Só ao final do texto esclarece a situação, ao dizer que a fábrica da Toyota que produz os modelos Corolla está em Indaiatuba. Em São Bernardo resta apenas uma unidade de peças de reposição e de alguns itens da família Corolla. A isso batizei há tempos de triunfalismo.

 Legislativo (I) 

Artigo assinado por Fernando Rodrigues na Folha de sábado sobre o Congresso Nacional ("O ritmo do Congresso") precisa ser lido com atenção -- principalmente para quem faz parte da Editoria de Política.

 Legislativo (II)

O texto de Fernando Rodrigues nos remete a uma investigação sobre o comportamento dos legislativos municipais neste primeiro trimestre. Quantos projetos substantivos foram aprovados?

 Legislativo (III)

Por falar em legislativos do Grande ABC, continuo esperando posição sobre o que acontecerá com o orçamento de São Caetano, principalmente, e dos demais municípios, subsidiariamente, após o corte do número de vereadores. Será que essa pauta não interessa ao Diário, embora seja fundamental aos contribuintes?

 Criminalidade (I)

Deu na Folha de sábado que o número de presos dobrou nos últimos oito anos no Brasil, sete dos quais sob o governo tortuoso de Fernando Henrique Cardoso.

 Criminalidade (II)

Qual será a realidade da população carcerária do Grande ABC hoje? Será possível resgatar dados históricos?

 Criminalidade (III)

Continuo aguardando que o Diário providencie balanços mensais da criminalidade no Grande ABC. Jornais diários de Campinas, Sorocaba e Baixada Santista deram na semana passada matérias sobre o assunto com base em dados da Secretaria Estadual da Segurança. Como escrevi ainda outro dia, o Diário tratava essas estatísticas com zelo até recentemente quando, infelizmente, houve desmonte da equipe da editoria.

 Campeonato Brasileiro (I)

A Folha de sábado fez a apresentação do jogo entre Corinthians e Paraná ("Confusão tática move Corinthians") que dá show de bola no concorrente Estadão ("Corinthians quer presentear torcida com vitória"). É a diferença entre uma Ferrari e um Fusca. A Editoria de Esportes do Diário deve espelhar-se nas ações inovadoras da Folha na área esportiva.

 Campeonato Brasileiro (II)

A mesma Folha fez a apresentação do jogo entre Santos e São Paulo, também no sábado, sob o título "Clássico vê rivais na bola e inimigos nos negócios", mais um show de bola sobre o Estadão. Existe por parte da Folha, insisto, grande preocupação em dar à apresentação dos jogos característica distinta do que a mídia, de maneira geral, apresenta. Para isso, utiliza-se muito bem de banco de dados e de informações que vão além da superficialidade. Nesse ponto, o Diário também está muito distante do ideal.

 Campeonato Brasileiro (III)

A apresentação do jogo de sábado entre São Caetano e Fluminense, disputado no Rio de Janeiro ("Azulão luta contra crise no Rio"), está muito aquém do interesse do leitor e do nexo. Diz a abertura da matéria do Diário: "O São Caetano tem se tornado o amigo do rebaixamento. O time do Grande ABC não saiu de um empate sem gols na última rodada no Mangueirão contra o Paysandu, que está na lanterna do Campeonato Brasileiro, com 10 pontos, e próximo de disputar a Segundona em 2005. A equipe sofre nas mãos dos times de menor expressão e, depois de perder do Botafogo, até então na lanterna, na penúltima rodada, não conseguiu bater os paraenses. Agora o desafio é o Fluminense, com 18 pontos, um a menos que o Azulão, que se distanciou da liderança".

Um amontado de informações contraditórias. Afinal, que tem o Fluminense de "sem expressão" e de "ameaçado pelo rebaixamento", se além da tradição histórica estava a apenas um ponto do São Caetano? A apresentação da matéria poderia remeter o leitor para o fato de o São Caetano não ganhar há, então, cinco jogos. Me parece que é um fato raro na história do clube no campeonato. Agora são seis jogos, já que a equipe perdeu no Rio. Será que o jornal conseguirá resgatar a história e tirar a dúvida: houve outra sequência de resultados tão ruins desde que o Azulão apareceu nos céus do Brasil?

 Campeonato Brasileiro (IV)

O Diário publicou sábado matéria sobre a vitória do Santo André diante do América de Minas, pela Série B do Campeonato Brasileiro, com pelo menos duas falhas: primeiro, não deu ênfase a um fato decisivo à característica épica do resultado -- o fato de o Santo André ter sido reduzido a 10 jogadores quando perdia por 2 a 1, no segundo tempo; segundo, ao fato de o adversário jogar espécie de final de Copa do Mundo contra o campeão da Copa do Brasil.

Traduzindo: o que se viu no Bruno Daniel foi um América mineiro correndo e disputando cada palmo de gramado como se fosse o jogo da vida de cada jogador, já que o Santo André ganhou notoriedade depois de superar o Flamengo na semana anterior.

Sobre o fato de ter-se reduzido a 10 jogadores, a informação consta marginalmente do texto. Sobre o empenho dos mineiros, vale a pena ouvir o técnico e os jogadores sobre o assunto. Fui aos vestiários ao final do jogo e todos se referiam à característica do adversário. Os próximos adversários deverão repetir a dose.

O fato é que a matéria foi tratada burocraticamente. Poderia acrescentar um condimento tão óbvio quanto desnecessário que deveria ancorar todas as matérias da equipe no campeonato: o Santo André disputa cada jogo que lhe resta na Série B como se fosse um acesso à Série B. Isso mesmo, Série B. O presidente Jairo Livolis definiu com absoluta precisão o que se passa com a equipe e que esquadrinha como mote motivacional ao grupo: "Falei com os jogadores que a CBF nos rebaixou para a Série C e que temos de subir para a Série B".

Ou seja: o Santo André está consciente de que não existe outra saída: ultrapassa os previstos 36% de aproveitamento de pontos ou será rebaixado. O Diário ainda não conseguiu traduzir a preocupação dos torcedores e dos dirigentes nesse sentido. Um box, publicado diariamente e bem explicativo, poderia servir de suporte para direcionar a torcida no apoio à grande empreitada salvacionista. O rebaixamento à Série C do Campeonato Brasileiro seria um desastre mercadológico para o Santo André. A Série C não oferece nada aos competidores. É o quarto de despejo da CBF.

 Campeonato Brasileiro (V) 

O Diário burocratizou a cobertura do Santo André que está fazendo das tripas coração para evitar o desmanche que sua diretoria anunciou. A matéria de domingo "Santo André garante Sandro Gaúcho" sintetiza a superficialidade. O interessante desse trabalho é mostrar os bastidores para segurar os principais jogadores. Uma entrevista com o presidente, com o vice-presidente, com vagar, com esclarecimentos, mostrará facetas importantíssimas, as quais conheço como jornalista que frequenta vestiários, que fala com dirigentes todos os dias, mesmo sem ser da área.

A operação para manter Sandro Gaúcho foi uma verdadeira blitz. Envolveu do presidente ao técnico, do supervisor aos amigos mais próximos. Bem trabalhado, o assunto sobe para o topo da página e retira o jornalismo esportivo da obviedade.

 Campeonato Brasileiro (VI)

O Diário publicou sexta-feira matéria solicitada nesta newsletter, sobre a venda de jogadores do São Caetano ao longo dos últimos anos. A pauta poderia ter sido trabalhada com mais calma, com mais pesquisa, para que as informações não fossem reticentes em vários pontos. Sinto que os setoristas das duas principais equipes da região encontram problemas em manter atualizados dados sobre seus respectivos quadros. A Folha dá um show de bola nessa seara. Com mais vagar e mais informações, a matéria poderia ser editada com valor editorial-gráfico muito mais acentuado.

Cada vez mais futebol e negócios se fundirão. Por isso, quanto mais os dois setores forem qualificadamente unidos, melhor para os leitores.

 Investimentos na região (I)

O jornal poderia ter produzido e editado conjuntamente, ou seja, sob o mesmo guarda-chuva, os investimentos do governo federal e do governo estadual, na edição de domingo, em vez de separadamente. O temário seria levado, automaticamente, à manchete principal de primeira página.

 Investimentos na região (II)

Tanto no caso dos investimentos federais quanto dos investimentos estaduais os textos são muito mais expositivos do que interpretativos. Ainda não conseguimos atingir o nível da Folha e do Estadão. Preferimos repassar a terceiros posicionamentos que poderiam ser melhor instrumentalizados pelo próprio jornal. Abdicamos da ancoragem. Preferimos a claque.

 Investimentos na região (III)

Dados sistêmicos -- e que, portanto, não ficariam limitados a emendas de parlamentares -- dariam mais consistência aos valores que os governos estadual e federal endereçam ao Grande ABC. Para isso é preciso contar com banco de dados, uma vulnerabilidade do jornal em todas as editorias -- há 300 anos.

 Investimentos na região (IV)

A carta assinada por Emerson Figueiredo, secretário-adjunto de Comunicação do Governo do Estado, e que consta da Palavra do Leitor, poderia ter sido deslocada como informação para a matéria que trata do respectivo assunto, na mesma edição de domingo.

 Rodoanel no Estadão

Por falta de especialistas em infraestrutura, a matéria sobre Rodoanel publicada no Diário de domingo tem como matriz a Agência Estado. Espero que haja desdobramento e regionalização do assunto. A Ecovias não parece estar seduzida pela privatização pretendida por um governo do Estado sem recursos financeiros. Tenho afirmado que o Rodoanel vai-se transformar em novela para o Grande ABC.

 Sobe e Desce

Tarso Genro subiu e Nagashi Furukawa desceu no quadro de Cena Política, de domingo. Nada mais correto, pelas circunstâncias regionais que os envolveram. Um, da Universidade Federal do Grande ABC, sempre falando com rigor; outro, comandante de uma segurança pública que é caótica no Grande ABC.

 Lulacá, Urgente!

O minicomentário de abertura de Cena Política de domingo, sob o título "Meio discurso", que compara o governo Lula e o governo FHC no Grande ABC, é síntese de uma realidade: o filósofo perde feio para o sindicalista. Qualquer coisa que Lulacá, Urgente! fizer, será sempre mais que o desastre provocado pela política econômica de FHC. O jornal não pode ter receio de afirmar isso porque não se trata de partidarismo, mas de realidade, pura realidade.

 Universidade Pública (I)

Diário publicou domingo na capa de Setecidades "Universidade chega ao Congresso". A informação é muito importante, sem dúvida, mas o texto não consegue resgatar minimamente a incipiente travessia regional desse projeto, desde o anúncio em 18 de maio. O comando regional entregue à prefeita Maria Inês Soares tem-se comprovado desastroso.

 Universidade Pública (II)

Na edição de sábado o Diário publicou "Deputado propõe emendas a projeto da universidade" depois de ouvir o deputado federal Ivan Valente. O parlamentar condena o ensino semipresencial e defende cursos de saúde. "Insisto que a universidade deve prever a totalidade dos campos de conhecimento" -- disse Valente, do alto de evidente falta de vivência sobre as agruras econômicas do Grande ABC.

Seria interessante se a matéria tivesse abordado a ojeriza do deputado à integração universidade-mercado que consta de seu site -- exceto se ele retirou a bobagem do ar.

Uma leitura sobre a integração academia-empresas em São Carlos, em matéria publicada domingo pelo Estadão, poderia ser interessante para quem participa do projeto UFABC.

 Logística, que logística?

O Valor Econômico de sexta-feira publicou "Volkswagen usa porto do Rio para exportar" que é um chutaço na ideia de que o Porto de Santos é aliado do Grande ABC em logística exportadora. A empresa deixa claro que busca alternativas para melhorar a competitividade. Esse assunto interessa demais ao nosso futuro. Ainda mais quando o tratamento que se dá ao Rodoanel e ao Ferroanel é de salvação da pátria. Pobres fazedores de marola da região. Já escrevi sobre esse mito no CapitalSocial Online.

 Administração pública

A Folha de sexta-feira publicou "Empréstimos salvam Marta de novo déficit" que, mesmo sem ser um primor de qualidade, deveria inspirar pautas mais contemporâneas de Setecidades ou Política Grande ABC, ou seja, uma abordagem mais profunda sobre as contas das prefeituras da região. O ideal é que se trace um raio-x de cada Prefeitura. Como estão as finanças públicas nos sete municípios da região neste final de mandato de vários dos prefeitos?

 OmbudsmanFolha

O ombudsman da Folha ocupou ontem sua coluna para destacar o que definiu no título como "Imprensa, gênero masculino". Conviria aos editores do Diário lerem o material que descreve o predomínio masculino nas páginas de jornais. Só faltou escrever que, paradoxalmente, as redações estão cada vez mais embelezadas pelo sexo antigamente frágil.

 Metropolização

O colunista da Folha Gilberto Dimenstein escreveu na edição de ontem "Perto da incompetência, corrupção é um mal menor", artigo sobre a importância da metropolização gerencial. Dimenstein é um dos poucos profissionais da mídia que se preocupam com os problemas metropolitanos, especialidade de LivreMercado.

 Pelé eterno

A Folha de ontem publicou interessante "Pelé Eterno marca contra no cinema", que situa o fracasso de bilheteria do filme do maior jogador de futebol de todos os tempos. Entendo que é possível regionalizar o assunto. Quem está vendo Pelé Eterno no Grande ABC? Quantos já viram? Pelé pode não vender bilheteria de cinema, mas dá Ibope. Inclusive quando fracassa.



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