Sociedade

Um festival de interesses mais
preocupante que o próprio vírus

DANIEL LIMA - 26/03/2020

Recluso numa cidadezinha do Interior do Estado, a 130 quilômetros de São Bernardo, assisto estarrecido na Globonews e mais tarde no Jornal Nacional um festival de demagogia e de irresponsabilidade que supera em larga escala os estragos epidemiológicos do Coronavírus. O braço de assinantes do Grupo Globo e o telejornal líder de audiência fazem parte de uma confraria coordenada para transformar a crise na saúde mundial em estilete golpista contra a gestão federal. Romper a barafunda de iniquidades num País afeito à podridão é uma missão dificílima. Que Bolsonaro, eleito para tanto, insiste em dar munição aos opositores.

Não pretendo estabelecer juízo de valor do governo federal entre outros motivos porque esse é um ponto que conduz à idiotice juramentada de contendedores extremistas como observo nas redes sociais e nos próprios jornais impressos.  Quando um presidente vira inimigo número um do entourage da imprensa, a verdade dos fatos é exacerbada, quando não manipulada, quando não fabricada.

Prefiro, por isso mesmo, optar por algumas observações que mais de meio século de jornalismo e um passado virginal que se junta ao presente também virginal de isenção partidária. Vou, portanto, fazer algumas anotações.

Os leitores que façam bom proveito do que se segue. Levem a sério ou joguem na lata de lixo. Vou ser objetivo dentro das possibilidades que a situação permite.

Cartel golpista

Está mais que evidenciada uma distorção clamorosa: os principais conglomerados privados de jornalismo do País já fizeram opção preferencial pelo esvaziamento dos poderes do Presidente da República.

Para bom entendedor, um anúncio específico em primeira página falsa dessas publicações nesta semana (O Globo, Folha de S. Paulo, Estadão, Valor Econômico e Extra) supostamente de combate ao vírus esconde uma conjugação de acordos intramuros entre as empresas para derrubar Jair Bolsonaro. 

Basta acompanhar a linha editorial dessas publicações, três das quais do Grupo Globo. Consultem a massa de publicidade que governos federais anteriores destinaram a essa tropa de choque dos mandachuvas nacionais.

O Coronavírus é o cavalo de troia da tropa da elite do jornalismo brasileiro. O objetivo é recompor as peças do xadrez de vantagens corporativas que sempre impuseram ao País. Não é obra do acaso o estágio falimentar da economia brasileira e, sobretudo, o Estado putrefato reincidente em seguir décadas a fio entre os últimos colocados em qualquer ranking sério que leve em conta o guarda-chuva da qualidade de vida.

Fugindo da responsabilidade

Governadores de Estado encontram a salvação da lavoura para dar um drible da vaca fatal nos compromissos supostamente rígidos da Lei de Responsabilidade Fiscal, iniciativa lançada há duas décadas pelo governo Fernando Henrique Cardoso. Quando digo supostamente é que, com o suporte de pusilanimidade de tribunas de contas de Estados e Municípios, a LRF converteu-se em trampolim legal rumo à gastança dissimulada. Um inevitável encontro marcado com a moratória ou a incapacidade de dar respostas às demandas sociais. Demorou, mas o bicho pegou para governadores e prefeitos.

Também está na mira mais que indisfarçável da seleção brasileira de corporações midiáticas que querem a cabeça do governo federal o desbaratamento da credibilidade de mídias sociais, sobremodo do aplicativo Whatsapp. Essa ferramenta técnica de comunicação que levou um obscuro deputado federal a virar o que virou vem sendo demonizada diariamente pelo noticiário do Jornal Nacional e os jornais mencionados. Tudo saído da boca do forno daqueles encontros intramuros.

Whatsapp na mira

O presidente da República foi deputado federal sem expressão porque os postos legislativos são assim no País, independentemente de qualquer outro fator. É redundância afirmar que os deputados são inexpressivos. Eles só ganham notoriedade quando ocupam cargos relevantes, de turno, e também quando servem de ponte a essas mesmas corporações jornalísticas na função de paus mandados para converterem em forma de democracia o que muito se pretende por debaixo dos panos. Dos políticos que frequentam os calabouços de corrupção não é preciso falar.

Desacreditar o Whatsapp tem sido uma mensagem subliminar, quando não explícita. O aplicativo, a par de usos e abusos que ultrapassam o limite da responsabilidade social, são tiros certeiros no que mais se sustentam com a força do argumento: a classe politica que ajudou a afundar o País ao longo de décadas. E mais que isso: o aplicativo colocou em xeque a forma como a mídia de grande porte faz o diabo para dar ares de profissionalismo a ordens encomendadas dos donos do poder de comunicação no País.

Entrevistas encomendadas

Também participa da ordem seletiva e unida para minar as bases do governo federal (uma empreitada jamais vista em tempos de paz, quanto mais desmesuradamente em tempos de guerra contra o vírus chinês) a escolha a dedo de entrevistados de várias áreas, mas sempre sob o mesmo prisma de aliados. Todos ou quase todos os entrevistados são hábeis profissionais e desfilam argumentos que, sem contraditórios, parecem irretocáveis na avaliação de temáticas que estão na ordem do dia dos brasileiros.

Querem um exemplo quentinho na praça: a aplicação de uma variável do Plano Marshall para conter os estragos do Coronavírus no Brasil é inadiável, certeira, indispensável, mas não pode ter como referência métrica, em valores proporcionais, o que Donald Trompa prepara para os Estados Unidos.

As razões são múltiplas, que os adoradores do Estado gastador esquecem. Uma das quais, irrebatível, é que os Estados Unidos fabricam uma moeda aceita, respeitada e mobilizadora em todo o mundo, enquanto temos o Real, melhor que tantas moedas do passado, mas apenas uma ferramenta monetária tupiniquim.

Como são oportunistas por natureza, além de competentes no sentido de que são coerentes tecnicamente dentro da visão que defendem, os entrevistados dessa turma de sabotadores do País não perdem a ocasião para garantir a próxima entrevista.

Ombudsman para elite

São esses alguns pontos interessantes a expor em meu retiro protetivo agora que a Internet se faz minha companhia, além, claro, de minhas cachorras. Posso, com isso, retomar o contato diário com os leitores. Sem contar, claro, minha permanência constante no Whatsapp, único aplicativo de que faço uso no mundo digital portátil.

Houvesse tempo para me dedicar a questões que ultrapassam os limites diretos do Grande ABC, juro que voltaria a atuar como ombudsman. Mas, desta vez, ficaria no cangote mais sofisticado mas nem por isso respeitável dos principais jornais do eixo São Paulo-Rio -- não por acaso o Estadão, a Folha e o Globo.

Mostraria tecnicamente, sustentadamente, intransigentemente, os horrores das manchetes, das manchetíssima, das entrelinhas e nos colunistas geralmente militantes. Há um jogo sórdido não só em relação ao governo federal como a qualquer governo que cruze o caminho dos poderosos de sempre. 

Manipulação das pesquisas

Talvez na edição de amanhã escreva sobre as últimas pesquisas de avaliação do presidente da República e do governador João Doria, além do prefeito Bruno Covas. O tratamento dos jornais paulistas já mencionados foi um show de parcialidade. Negaram os próprios dados fabricados por institutos de pesquisa que, como se sabe, são outro instrumento a serviço de quem quer vender o Brasil democrático. Uma farsa, como se sabe.  

Se fosse produzir uma nova versão do livro Meias-Verdades, que tratou diretamente dos equívocos e outras coisas mais da imprensa, sobrariam, como sobraram na primeira edição, matérias que ganharam destaques e se comprovaram delinquenciais. Para situações exatamente iguais, ou semelhantes, utilizaram tratamentos radicalmente diferentes. Tudo em nome do interesse mesquinho do momento.

Quando, por exemplo, a mídia largou a carcaça do PT de Lula e de Dilma Rousseff, acreditem os leitores que não se teve em primeiro lugar o compromisso com a sociedade. Em casos de extrema necessidade corporativa, há articulação prévia que, como ocorre agora, procura criar um ambiente de comoção dos formadores de opinião e tomadores de decisão para, insidiosamente, introduzir uma nova modelagem institucional, que, no fundo, é a mesma de sempre. O atual presidente, com todos os pecados de que é portador, não fazia parte desse enredo. E parece que está decidido a não fazer.

Caminhos inconciliáveis

Tudo isso que alinhavei em poucos minutos como espécie de reintrodução ao mundo digital, depois de dois dias de distanciamento do computador (o que se leu nesse período foi previamente preparado), faz parte do conjunto da obra de pensamentos que têm como lastro profissional, entre outros pontos, a independência ideológica e partidária.

Conheço de cor e salteado os profissionais de imprensa que fazem da profissão uma conversão ao altruísmo e à responsabilidade, assim como aqueles que buscam o enriquecimento e o sensacionalismo a qualquer preço. Corporativista jamais fui. E sempre honrei minha profissão. Basta perguntar a quem conviveu comigo nas redações.

O Brasil está caminhando para um imbricamento aparentemente inconciliável e que vai muito além da escolha de Sofia de menos distanciamento social ou quebradeira geral. Isso tudo é apenas cortina de fumaça.

A mídia poderosa e os extremistas estão cultivando uma guerra que vai além da metáfora. E a Rede Globo chefia essa orquestração com panelaços que têm tudo de fake news na medida em que janelas não se abrem a manifestantes em número suficiente para corresponder ao som de laboratório ou a gritinhos isolados. Vejam os vídeos dos panelaços. Olhem as janelas e sacadas quase desertas. Olhem as luzes apagadas ou acesas, mas poucas a piscar como sinalizadoras de engajamento.  Comparem com os italianos que foram às sacadas em manifestação de confiança e solidariedade.

Os panelaços da Globo são a face dissimulada de uma orquestração sorrateira que, ao atingir o governo federal, pretende colocar o Brasil de joelhos.



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