Sociedade

Você acha que o Datafolha é
golpista? Entenda esse jogo

DANIEL LIMA - 22/04/2020

Seria exagero dizer que o Instituto Datafolha é golpista com pretensões de levar o presidente da República a uma renúncia construída num mosaico ardiloso com vários personagens mais que manjados da institucionalidade nacional? Quem seriam esses personagens sinistros? Os mesmos de sempre, que trouxeram para o presente tudo que explica a posição vexatória do Brasil nos mais diferentes rankings internacionais, econômicos e sociais.

Isoladamente o Datafolha não é golpista – até porque nem teria força para tanto. É preciso, portanto, dividir ou multiplicar essa conta entre os demais participantes do simulacro de democracia pretendida que, de fato, planeja recolocar as peças do xadrez de falcatruas que a Operação Lava Jato desnudou para o mundo inteiro. O Datafolha faz parte da Grande Mídia em ação.

Não vou viver o suficiente para ver não só o Datafolha como os demais institutos de pesquisas voltados especialmente a questões políticas sob a salvaguarda ética e metodológica de um grupo de especialistas independentes.

Pergunta viciadora

Isso mesmo: tanto ao Datafolha quanto o Ibope e passando pelos demais, o que falta é transparência. Fazem o que bem entendem com a confiança dos consumidores de informação.  Coloca-se o selo de garantia cientifica implícita de pesquisas para obstar desmascaramentos. Mais que isso: para legitimar manobras escusas no campo politico-estatístico.

Vou dar um exemplo prático que mencionei tangencialmente nesta semana ao destrinchar a pesquisa do Datafolha sob os efeitos do vírus chinês à governabilidade presidencial. 

Fiz referência específica a uma pergunta-chave da segunda rodada de pesquisas, aplicada no começo de abril e cuja resposta foi um safanão no espírito golpista da Grande Mídia.

Muitas interrogações

Trata-se do resultado de que 59% dos brasileiros não apoiam eventual renúncia do presidente. Esses 59% estão acima da margem de erro dos 55% que elegeram Bolsonaro no segundo turno, em outubro de 2018. Como a pergunta não foi levada às páginas da Folha de S. Paulo com a precisão necessária, não se sabe ao certo se a decisão de renunciar seria espontânea, induzida ou obrigatória. Parece bobagem, mas faz muita diferença. O enunciado de qualquer pergunta é um caminhão de sedução à resposta contaminada de entrevistados menos assertivos.

Além de tudo isso, a pergunta por si só foi um acinte. Não havia nada no respiradouro social que levasse a tal ponto, exceto claro, manobras de bastidores que saltam às páginas e às telas da Grande Mídia. Diferentemente, portanto, do que mencionou de passagem a Folha de S. Paulo (encomendadora do questionário) sobre o impeachment de Dilma Rousseff.

Naquela situação a pesquisa reunia fundamentação social, temporal e politica, porque se avizinhava formalmente o processo de votação. Coisas diferentes, tratamentos semelhantes.

O abuso do Datafolha não se limitou à questão propriamente dita, cuja defesa pode ser sustentada pela liberdade de expressão e liberdade de imprensa.  A democracia e o bom senso sugerem que o que vale para o presidente da República vale igualmente para o presidente da Câmara dos Deputados, para o presidente do Senado e para o Supremo Tribunal Federal, todos ocupantes da múltipla plataforma de decisões nestes tempos de parlamentarismo obscuro, para não dizer golpista, em que vive o País.

Caindo do cavalo

Seria demais acreditar que tanto a Folha quanto o Datafolha (além do Grupo Globo e Estadão) possibilitariam a transposição para o campo de pesquisa a mesma operação que pretendeu saber dos eleitores até que ponto estaria esticada a corda da renúncia presidencial.

Foi, como se sabe, uma operação de cartas marcadas. Que deu com os burros náguas. Burros náguas até a página três, a bem da verdade. Afinal, a simples introdução da pergunta induz eleitores e consumidores de informação (garantidos na repercussão instrumentalizada pela Grande Mídia) a metabolizarem a mensagem subliminar que pretende apear do poder um presidente eleito com quase 60 milhões de votos.

Alguém por acaso ou por curiosidade tem alguma dúvida de que se a mesma questão fosse ampliada aos alvos mencionados teria tido resultado que se assemelhasse aos níveis em favor do presidente da República?

Concorrentes frágeis

Quantos por cento de eleitores não querem ver os chefes dos legislativos fora da democracia pretendida? E do Supremo, então?

Pesquisas cujos resultados não são revelados para evitar constrangimentos institucionais dão conta de que a presidência da República ganha de goleada em termos de confiabilidade, por pior que Jair Bolsonaro tenha se apresentado nesse período do Coronavírus no campo sanitário e por mais trapalhadas antecedentes – tudo amplificado como nunca pela Grande Mídia tão condescendente com os bandidos sociais que infestaram o País nas últimas décadas.

Está equivocado quem acha que o pior da pergunta do Datafolha já se esgotou como peça de um tabuleiro orquestrado pela Grande Mídia sempre disposta a dar foro de ciência às pesquisas encomendadas.

O Datafolha induz o entrevistado a colocar em dúvida a governabilidade presidencial. Isso é inegável. Recorro a um exemplo simples, mas didaticamente esclarecedor, para traduzir o que pretendo dizer e talvez não tenha deixado claro sobre o objetivo oculto na questão. 

Imagine o leitor instado por alguém sobre a reputação moral daquela mulher contraditória do bairro.  “Você é favorável a uma investigação sobre as atividades filantrópicas dela?”. A pergunta lança densa camada de desconfiança, de descrédito, de suspeição.

Se novas perguntas forem feitas na sequência, como o foram no caso de Bolsonaro, os resultados estarão contaminados pelo viés de subjetividade detrator. Talvez a imagem da personagem ao fim do questionário seja de prostituta ou de agente do crime organizado.

Verticalização organizada

Foi assim provavelmente que se desenvolveu a pesquisa de campo do Datafolha quando inquiriu entrevistados sobre a possibilidade de renúncia do presidente da República. As demais respostas foram referenciadas pelo eixo do malabarismo indutivo.

Essa é uma das táticas mais comuns dos institutos de pesquisa ao pretenderem forçar a barra para extrair respostas que se encaixem num projeto de manipulação de parte da opinião pública.

O Datafolha é o principal instituto do País porque age em conjunto com a Grande Mídia. E está sob o controle do jornal Folha de S. Paulo. Uma verticalidade que alcança repercussão nacional.

Não vou especular sobre quantos por cento dos eleitores brasileiros são suscetíveis às artimanhas técnicas dos institutos de pesquisa. Farei isso em outra situação. O que interessa agora é que, da mesma forma que sou amplamente favorável ao escrutínio das mídias sociais, como se está iniciando, porque é preciso, mais que isso, é indispensável, barrar os meliantes que a infestam com fake news, também os veículos de comunicação precisam passar por tratamento semelhante de curadoria, sem que se fira a liberdade de imprensa, porque, de forma mais profissional, é verdade, fazem gato e sapato de informações. Dão o tratamento que mais interessa a projetos corporativos, os quais, em muitos casos, vinculam-se à velha política de roubalheiras.

 Tanto é verdade que Rodrigo Botafogo Maia (é apenas um exemplo, mas outros poderiam ser rebocados) tornou-se o xodó da Grande Mídia. 

Revelação assinada

Vou escrever ainda muito sobre institutos de pesquisa. Tudo indica que as rodadas do Datafolha estão sincronizadas a um projeto de derrubada do presidente da República. E essa avaliação não é alarmista. É a constatação diária da atuação da Grande Mídia. Perderam a discrição da banda mais esperta do jornalismo profissional especializada em fazer as coisas sem dar na cara.

Os 59% de eleitores que não arredam pé do apoio a Jair Bolsonaro e os 36% que marcham com o presidente no caso do Coronavírus estão deixando a Grande Mídia e o aparelhamento intelectual de esquerda malucos. Alguma dúvida?

Veja o que escreveu na edição de ontem da Folha de S. Paulo Pablo Ortellado, professor do curso de gestão de políticas públicas da USP, doutor em filosofia e frequentador assíduo das páginas do jornal paulistano: “Sem capacidade de persuadir os fanatizados, seremos obrigados a tomar uma decisão difícil – que talvez seja melhor tomar antes cedo do que tarde. Em algum momento podemos ter que deflagrar um processo de impeachment contra um presidente com 30% de apoio. Não vai ser apenas traumático, vai ser também perigoso. Mas tanto a inação quanto o retardamento parecem cada vez mais capitulação.”.

Quem entender que se trata de voz isolada à esquerda está redondamente enganado. A premissa da deposição move os autointulados integrantes do “campo democrático” do País. Os mesmos que detestam ouvir falar na Operação Lava Jato.

Por isso não há exagero algum em entender que o Datafolha faz parte de uma engrenagem sólida, embora desesperada, de golpismo.

A mim não interessa a cor do gato que ocupe o Palácio do Planalto, desde que cace os ratos que querem retornar ao velho ninho.



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