Quer saber quem está ganhando (ganhando, não, perdendo) o jogo de letalidade do Coronavírus no Grande ABC? Pois vou dar o resultado. E o resultado é surpreendente para quem vai atrás de números absolutos de óbitos por Município, desconsiderando, portanto, dimensões demográficas diferentes.
A contagem geral é simplória para efeitos analíticos. A equação precisa ser bem-feita para se chegar a resultado líquido razoável. E já vou adiantar: o jogo está empatado nos cinco principais municípios da região, aqueles mais povoados. Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra ficam de fora.
Ora, ora, bolas! Se o jogo está empatado, isso quer dizer, e diz com todas as letras, que o vírus chinês chegou onde as autoridades públicas, os agentes privados, os sindicatos, os formadores e os deformadores de opinião jamais chegaram desde que se criou o Clube dos Prefeitos: o vírus chinês é integralmente regionalista. E nesse caso, a regionalidade é aparentemente óbvia. Não haveria como o vírus respeitar fronteiras no ataque fatal que já atingiu 229 moradores da região. A contabilidade oficial é informada pelo jornal Repórter Diário de hoje.
O vírus é regionalista porque entrega em cada Município o respectivo peso de representação. Os leitores vão entender na sequência.
Divisionismo incentivador
Chega a ser engraçado, não fosse completamente trágico, que o vírus chinês nos dê a todos uma lição a ser aprendida: a separação cartográfica e administrativa do que no século passado chegou a ser um único Município não pode ser levada ao pé da letra por cabeças vazias.
Precisamos cair na real de que sem integração regional que a revista LivreMercado bradou antes mesmo de Celso Daniel liderar a fundação do Clube dos Prefeitos (a revista LivreMercado é de março de 1990 e o Consórcio Intermunicipal de dezembro do mesmo ano) é questão de sobrevivência econômica – e agora também sanitária.
Pois vamos aos fatos: como medir com justeza e sem mistificações o placar de mortes por Coronavírus no Grande ABC de sete municípios?
População versus casos
Para começar, desprezem e joguem no lixo estatístico os casos detectados. A subnotificação (como alertei aqui faz tempo), distorce qualquer análise. Como no caso de criminalidade não se medem tentativas de homicídios, apenas os homicídios, no caso do vírus chinês mede-se apenas e exclusivamente para efeitos explicativos o total de casos fatais.
Vamos ao indigitado, portanto: houve 229 mortes até agora nos sete municípios. Pela contagem convencional e burra, quando não nutrida de manipulações políticas, São Bernardo ocuparia a liderança indesejada com 75 casos fatais, contra 66 de Santo André, 31 de Diadema, 28 de Mauá, 20 de São Caetano, sete de Ribeirão Pires e dois de Rio Grande da Serra.
Como então, perguntariam os leitores, cheguei à regionalização mais pura e cristalina da letalidade do vírus?
Vamos lá. Correlacionei o percentual de casos à participação relativa da população de cada Município. Esse é o caminho mais honesto e aparentemente irrebatível para a aferição. Desta forma, vejam os resultados:
Santo André conta com 25,69% da população do Grande ABC.
São Bernardo conta com 30,07% da população do Grande ABC.
São Caetano conta com 5,77% da população do Grande ABC.
Diadema conta com 13,54% da população do Grande ABC.
Mauá conta com 12,23% da população do Grande ABC.
Agora vamos ao placar geral até agora com base nos números absolutos e números relativos de casos fatais do Coronavírus:
Santo André registrou 66 casos fatais, com 28,82% de participação regional.
São Bernardo registrou 75 casos fatais, com 32,75% de participação regional.
São Caetano registrou 20 casos fatais, como 8,73% de participação regional.
Diadema registrou 31 casos fatais, com 13,53% de participação regional.
Mauá registrou 28 casos fatais, com 12,22% de participação regional.
Agora vou explicar porque o jogo está tecnicamente empatado. Basta comparar os números:
Santo André tem participação populacional na região de 25,69% e sofreu a perda de 28,82% dos casos de letalidade.
São Bernardo tem participação populacional na região de 30,07% e sofreu a perda de 32,75% dos casos de letalidade.
São Caetano tem participação populacional na região de 5,77% e sofreu a perda de 8,73% dos casos de letalidade.
Diadema tem participação populacional na região de 15,20% e sofreu a perda de 15,20% dos casos de letalidade.
Mauá tem participação populacional na região de 17,01% e sofreu a perda de 15,20% dos casos de letalidade.
Empate técnico
O jogo está tecnicamente empatado, como se observa, porque há semelhanças entre os resultados de cada Município. Entre a representação populacional de cada Município e a participação relativa dos casos letais da doença não há desgarramento expressivo.
No caso de Santo André, por exemplo, são três pontos percentuais de casos letais acima no confronto entre participação populacional e mortes. Em São Bernardo são 2,68 pontos percentuais. Em São Caetano, 2,96 pontos percentuais. Os casos de Diadema e de Mauá são levemente diferentes, porque em termos de participação, o percentual de população é levemente maior que o de letalidade do vírus. Nada, entretanto, que altere a ordem das coisas. A periferização das mortes deverá encaminhar os dados a um sentido coletivo único.
Para que o pessoal de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra não se sintam ofendidos, decidi neste final do texto fazer o cálculo e incluir os dois municípios na contabilidade letal do vírus.
E para provar que a regionalidade é mesmo um bicho de sete cabeças, ou seja, com a participação dos sete municípios, por mais diferenças que existam, Ribeirão Pires participa com 4,42% da população geral do Grande ABC e com 3,06% dos casos fatais do Coronavírus. Já Rio Grande da Serra, com 1,83% da população regional, conta com 0,09 de casos letais. Está bom assim?
Teto de 588?
Como escrevi ontem, parece cada vez mais provável o acerto do diagnóstico dos britânicos quanto ao volume de casos fatais no Grande ABC por causa do Coronavírus.
Devo explicar que aqueles estudiosos não se referiram especificamente à região. A manobra matemática, no bom sentido, é minha, adaptada rigorosamente aos preceitos publicados. Serão 588 mortes ao fim da jornada (o número de casos fatais serve como referência, não como contundência de acerto, porque não se trata de megacena).
O interessante mesmo, a seguir o roteiro que especifiquei agora, é que nenhum prefeito poderia avocar para si algo a mais de suposta competência em ações contra o Coronavírus. No fundo, todos sairão derrotados porque o vírus regional deu de frente com ações municipais.
Aliás, já estão derrotados como desdenhadores que são da premência de dar ao Clube dos Prefeitos a importância estratégica devida. Tanto é verdade que conseguiram fragilizar a instituição nas três últimas temporadas. As piores temporadas em 30 anos da instituição.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!