Sociedade

Vírus: Grande ABC supera com
folga Brasil em número de mortes

DANIEL LIMA - 15/05/2020

Na contabilidade fúnebre bruta que mais interessa porque é a mais correta ao envolver todos os endereços num mesmo invólucro estatístico, o vírus chinês já matou mais gente no Grande ABC do que no Egito, no Peru, no Canadá, na Argentina e em muitos países, e pode superar os Estados Unidos.

Só será possível preparar avaliação mais consistente do que se passa na região quando esse demônio for embora definitivamente, mas o que se lamenta e vou insistir nesse ponto é que o Clube dos Prefeitos segue com servidores públicos numa doce falta do que fazer ao invés de empenhá-los em apoio à sociedade.

A aferição mais correta pelo menos em quantidade (as especificidades dos endereços são outra história) é a divisão dos casos letais por um conjunto uniforme de habitantes. No caso que envolve países, é a divisão por cada um milhão de habitantes.

Dobro do Brasil

O Grande ABC seria um país de 2.800 milhões de habitantes. A incidência de mortes por milhão é de 119,28, porque já se registraram 344 casos fatais. Nos Estados Unidos são 261,7; no Brasil 66,8; na Rússia, 16; na China, 3,3; na Índia, 2,0; na Alemanha, 95,1.

Viram como estamos muito além da catástrofe nacional? Praticamente o dobro de casos letais em relação à população? Um dos custos da densidade demográfica está escancarado, claro. Outro custo é a periferização social.

Quantos moradores do Grande ABC morreriam por conta do Coronavírus? Já expus aqui duas projeções; uma de estudiosos brasileiros que chegaram a ensaiar mais de 17 mil óbitos, e outro de cientistas britânicos que apontaram 588.

Na verdade, quem metabolizou os números foi este jornalista, com base na metodologia aplicada pelas fontes já mencionadas. Antes de partir para uma terceira projeção, que dará suporte à arremetida que poderia colocar os Estados Unidos atrás do Grande ABC em números relativos de mortes pela pandemia, vou resgatar alguns trechos das matérias publicadas e que dão conta dos números letais. 

Coronavírus provocaria mesmo

17 mil mortes no Grande ABC? 

 DANIEL LIMA - 19/03/2020

Não custa especular sobre o potencial da contabilidade macabra do Coronavírus no Grande ABC ao fim e ao cabo da pandemia. Não me condenem. Dirijam baterias aos vermes oportunistas que, sob a desculpa esfarrapada de que estariam preocupados com o estágio da contaminação pelo vírus chinês, saíram janelas afora para gritar a favor e contra o governo de plantão. A questão aqui é outra. A doença propriamente dita. E a necessidade de se estabelecer a dimensão mesmo que superlativa do que pode vir. Morreriam 17 mil moradores do Grande ABC num total de dois milhões no Brasil. (...). Utilizo a frieza dos números e a quimioterapia de análises como antídoto aos invasores de sempre, os bandidos sociais cada vez mais à solta. Mas no caso da doença que está aí tenebrosa e assustadora acho que vale tudo no bem sentido da expressão. E, no caso, um estudo indicado por um amigo suficientemente ajuizado e comprometido com a sociedade. Repassei o material a alguns dos milhares de leitores que reúno em listas e grupos do WhatsApp. Agora dou conotação jornalística própria que chega à quantidade de vítimas fatais. (...). Vamos aos estudos, portanto. Transcrevo o artigo do site Tecmundo, escrito por Verônica Scheifer.   

Morrerão mesmo 588 no

Grande ABC e 24 em Salto?

 DANIEL LIMA - 07/04/2020

Do ponto de vista estritamente matemático é uma ilusão acreditar que corro menos risco de ser vítima do Coronavírus em Salto, Interior do Estado, a 130 quilômetros de São Bernardo, do que no Grande ABC. Mas a matemática mesmo enganadora ajuda quem está distante do Grande ABC a acreditar que conta com vantagem probabilística. Até porque não me fio apenas na matemática. Como os leitores poderão ler. (...). Entre as melhores projeções que detectei até agora a possibilidade de Salto registrar 24 mortes parece muito melhor do que estar no Grande ABC, onde estão previstas 588. Convenhamos que é uma senhora vantagem, mesmo que ilusória. O conforto psicológico atenua a pressão ambiental. Para cada quatro mortos em Salto, seriam 100 no Grande ABC. Vamos, portanto, à raiz dos números. Trata-se da equipe de epidemiologistas do Imperial College, de Londres. Eles analisaram o impacto da covid-19 em 202 países, entre os quais o Brasil. A última versão do cálculo foi tão contundente que levou o primeiro ministro, Boris Johnson, infectado pelo novo Coronavírus, a apertar o nó da estratégia de isolamento no Reino Unido. A observação, nestes termos, compôs ampla reportagem publicada no final de semana pelo jornal Valor Econômico. (...). Agora é que chegamos ao caso do Brasil, associado ao terceiro grupo de alternativas dos efeitos do Coronavírus. Os especialistas do centro britânico estimaram 44,2 mil mortes. No pior cenário, seria o total de um milhão. Vamos ficar com as 44,2 mil vítimas do vírus. Basta dividir o total pela população arredondada de 212 milhões de habitantes para se chegar a 0,021% de mortes. Como o Grande ABC participa com 1,32% do bolo nacional da população, a tradução em termos macabros seria de 588 mortes. Já Salto, com população relativa no País de 0,0055%, duas dúzias de moradores seriam atingidas. A população do Grande ABC é 41,5 vezes maior que a de Salto. 

Agora, novos números

Recorro ao jornal Estadão de ontem para apresentar uma terceira versão sobre a quantidade de possíveis casos letais no Grande ABC. Reproduzo alguns parágrafos:

 Pela primeira vez, o Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), um centro de pesquisa dentro da faculdade de Medicina da Universidade de Washiington, fez projeções sobre países da América Latina e chamou a atenção para a situação do Brasil. A previsão inicial do IHME é que o País tenha média de 88.305 casos de mortes até 4 de agosto, dentro do intervalo que estima mínimo de 30,3 mil mortes e máximo de 193,7 mil. As previsões são atualizadas conforme se divulgam dados, como número de infectados e internados, e também podem ser alteradas por mudanças nas políticas públicas adotadas em cada país. (...). Os momentos mais sombrios estão para chegar e o Brasil continua rumo a um pico das infecções. O modelo aponta que o País deve registrar mais de 1 mil mortes por dia entre 17 de junho e 9 de julho, com o pior momento no dia 24 de junho, como 1.204 óbitos. A partir daí, se confirmadas as projeções, o Brasil ficaria com essa média de mortes diárias até o início de julho, quando a curva começaria a baixar. Ainda assim, o patamar de mortes por dia se manteria elevado, com mais de 750 fatalidades a cada 24 horas ainda em agosto – escreveu o Estadão.

Agora, as contas

De novo sou generoso com os dados do Grande ABC. Vou pelo caminho numérico do meio. Nem tanto aos céus, nem tanto à terra. Vamos arredondar a projeção do IHME norte-americano e fixar as bases em 90 mil mortes ao fim da pandemia. Um pouco mais que as 42.400 dos britânicos (na versão mais suave) e bem menos que os mais de dois milhões dos pesquisadores (ou terroristas) brasileiros.

Com 90 mil mortes no Brasil, nossa cota do latifúndio de mortalidade atingirá 1.188 pessoas. Esse é o resultado de uma conta simples: o Grande ABC tem 1,32% de participação na população nacional. Um pouco menos que o 1,79% de participação no PIB. Basta multiplicar 90 mil brasileiros mortos pelo fator 1,32 e estamos mal, com praticamente o dobro de casos fatais em relação à projeção dos britânicos. Com 1.188 casos fatais, o Grande ABC terá 424,28 mortes para grupo de um milhão de habitantes. Resultado? Ultrapassaremos os Estados Unidos e diminuiremos fortemente a distância da líder Bélgica, com 778,7 casos. Pouco abaixo das 585,8 mortes por um milhão de habitantes da Espanha, que ocupa a vice-liderança no ranking internacional.

Diante destes números, pensei até em alterar o enunciado da manchetíssima de hoje, ou seja, do título ali em cima. Preferi manter o original para não me chamarem de tudo que alguém chama alguém quando imagina ou tem certeza que esse alguém é um lunático ou bagunçador geral da região.



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