Se quer saber se será possível, a partir de janeiro do ano que vem, contar com um novo Clube dos Prefeitos com novos prefeitos ou, reformulando a pergunta, com os atuais prefeitos elegíveis, minha resposta é reta, direta e contundente. Não, mil vezes não!
O drama da regionalidade jamais construída para valer no Grande ABC chama-se sociedade civil organizada, que não existe. O que temos, como já cansei de afirmar, é uma sociedade servil desorganizada e, mais que isso, conflitante nas redes sociais por causa de pautas endógenas e exógenas, ou seja, internas e externas. Bolsonaristas e Lulistas em primeiro plano, Moristas, Doristas, Ciristas e outros, em segundo plano. É um balaio de gatos e ratos. Que, quanto mais intenso, mais favorece os atuais mandatários locais.
Vendendo ilusões
Não adianta vender ilusão nem aceitar manobras ocasionais que procuram incensar supostos herdeiros de Celso Daniel, o Único: não existe macroambiente social ou qualquer coisa que lembre uma associação de interesses independente do municipalismo que inspire regionalismo. Quem vender essa mercadoria certamente pretende levar vantagem.
O que quero dizer com o título acima, da manchetíssima de hoje, e também com o enunciado complementar da abertura do texto (no sentido de que a ordem dos fatores dos ocupantes dos respectivos paços municipais do ano que vem não alterará o produto final de negligência e inapetência pró-regionalidade) passa necessariamente por um grupo relativamente numeroso de regionalistas. Existem muitos exemplares nesse sentido, mas estão distantes entre si. E dificilmente se juntarão.
Seria um enorme desafio juntá-los sem que prevaleça qualquer resquício conceitual de ações que lembrem partidarismo político. Que a cláusula pétrea seja série de ações incisivas que contemple tecnicamente a gestão pública, o comportamento da sociedade, o mercado e o sindicalismo como epicentro de atividades. Alguém é capaz de garantir que isso passaria pelo escrutínio da polarização ideológica destes tempos?
Domínio do Estado
Há desequilíbrio alarmante no Grande ABC no que sempre chamei de Capital Social, inspiração da marca desta publicação. Aqui o Mercado e a Sociedade estão distantes de definições do interesse comum. Prevalece espécie de ditadura do Estado, em forma de Municípios.
A Administração Pública manda e desmanda. Não existem opositores além das fronteiras políticas – e mesmo assim com malabarismos de conveniências que reservam à chegada das urnas gritos de libertação temporários e estratégicos. Depois, a maioria se arranja. Como o PT em Santo André com o tucano Paulinho Serra.
Nenhum dos prefeitos que tomará posse no primeiro dia do ano que vem terá compromisso com a regionalidade porque a regionalidade não elegerá nenhum deles. É com dor no coração e na alma que faço essa afirmação. Todos eles não estão nem aí com o que também se chama integração regional.
Somos uma fantasia de marketing desde que Celso Daniel descobriu que era um bobo na corte regional e decidiu, um pouco antes de morrer, que trataria de cuidar do próprio quintal.
Sonho de Celso Daniel
Antes de tomar essa decisão, após bater com a cara na porta de individualidades oficiais e também de penetras, Celso Daniel declarou a este jornalista que sonhava com a possibilidade de acrescentar ao organograma do Clube dos Prefeitos uma instância que seria mais que consultiva, formada por gente da sociedade do Grande ABC. Aliás, sobre isso, Celso Daniel respondeu a uma demanda deste jornalista, então à frente da revista LivreMercado.
A bem da verdade Celso Daniel não efetivou a ideia porque encontrou barreiras de outros prefeitos. Mas quando se tratou de criar uma secretaria voltada ao Desenvolvimento Econômico, também uma proposta deste jornalista, os demais titulares de paços municipais correram para atropelar o petista. Foi uma correria sem fim, instaurando-se guerra fiscal no setor de serviços que fez São Caetano de Luiz Tortorello decolar no setor.
Protagonismo infrutífero
A perspectiva de levar a sociedade aos interiores do Clube dos Prefeitos, notadamente ou exclusivamente no campo econômico, se mantém até hoje, mas nenhum dos sucessores de Celso Daniel saiu do quadradismo de versos municipalistas.
Os prefeitos do Clube dos Prefeitos temem perder o protagonismo com a chegada de profissionais com conhecimentos suficientes para botar fogo e aquecer os conceitos que costuram um município no outro. Seguem os prefeitos, portanto, a mediocridade batida e monocórdia de, entra ano, sai ano, mais grave o quadro econômico do Grande ABC se torna.
De vez em quando leio alguma coisa relativa ao Clube dos Prefeitos. Convém esclarecer que só leio de vez em quando porque apenas de vez em quando há alguma coisa do Clube dos Prefeitos a ser lida. A inapetência da instituição é alarmante. Só perde – e perde feio – para o diversionismo da agenda. O que isso significa? Que a direção executiva abraça a todas as demandas, das mais estranhas às mais eventualmente relevantes. Tanto num caso quanto no outro o destino é sempre o fracasso, ou a baixa capacidade resolutiva.
Economia, economia
Enquanto as autoridades da região não entenderem que o núcleo de atividades do Clube dos Prefeitos é o Desenvolvimento Econômico, estaremos perdendo mais tempo. Qualquer outra atividade da agenda que gere algum tipo de concorrência frente aos desafios da Economia em frangalhos do Grande ABC deverá ser catalogada como desperdício.
O carro-chefe econômico, caso imposto, tornaria a mesma agenda secundária mais factível numa sociedade minimamente organizada e sensível. O que o secundário vale nesta altura do campeonato para o futuro do Grande ABC passa obrigatoriamente pela prioridade econômica.
Tenho certeza de que o Clube dos Prefeitos no sentido sacrossanto que deveria ter não estará na agenda de nenhum dos candidatos a prefeito nos sete municípios do Grande ABC. A retórica será praticamente a de sempre enxertada pela pandemia do vírus chinês, cujos resultados na região são catastróficos quando se considera o total de mortos em relação ao número de moradores. Não adiante dourar a pílula. Os prefeitos atuais não fizeram corpo mole, não erraram propositalmente, não entregaram a rapadura, mas saem no prejuízo diante dos fatos. Eles cumpriram a tabela convencional. Deixaram de ser inovadores.
Exemplo do Rio
Querem um exemplo que coloca todos os prefeitos da região no saco de burocracia e mesmice? O conglomerado da Maré, um arquipélago social de áreas faveladas, mobilizou-se e organizou-se muito mais. Formou-se simbiose de comunidade, academia, institutos de pesquisa e tudo o mais. Não ficaram esperando o trem da prefeitura ou do governo fluminense chegar, embora o requisitassem.
No Grande ABC houve e mesmo assim com certo atraso algumas intervenções individuais extracampo, ou seja, de se consultarem e ter o apoio do entorno de especialistas, mas nada de ganhos de produtividade que se alcançaria com a aderência aos conceitos de regionalidade. E só houve reação para minimizar os estragos quando o risco de cruzamento de mortes e portas econômicas fechadas agravou-se. Ou seja: demoraram para mitigar o antagonismo entre saúde e economia e quando o fizeram não era o momento mais adequado.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!