Os sete municípios do Grande ABC bem que poderiam aprender uma lição coincidentemente de sete megacorporações privadas, várias das quais concorrentes entre si: Intel, IBM, HP, Microsoft, Telefônica, Cisco e Time Warner decidiram jogar a competição predatória na lata do lixo do desperdício e se juntaram num clube que deveria servir de inspiração renovadora ao Consórcio de Prefeitos.
Detentoras de valor de mercado próximo de US$ 974 bilhões, perto de dois terços do PIB brasileiro neste ano, as sete multinacionais vão discutir em conjunto com governos de países da América Latina políticas públicas para estimular o desenvolvimento econômico e social sob a perspectiva tecnológica.
Está aí na concentração de esforços num determinado foco o ovo de Colombo que as sete multinacionais oferecem de bandeja aos sete prefeitos do Grande ABC. Aliás, esse conceito não é nada revolucionário. Ainda recentemente o prefeito de Paris esteve em São Paulo, em encontro no qual se debateram problemas metropolitanos, quando deu gratuitamente uma lição de praticidade com o suporte de experiência vivida.
Disse aquele prefeito que é gigantesco o risco de se perder tempo, disposição e mobilização quando se apresenta uma imensidão de metas. O Consórcio de Prefeitos é a crônica anunciada de exageros verbais e programáticos sem a necessária contribuição prática. Por isso poucos representantes que gravitaram em sua órbita triunfalista enxergaram o boi na linha da desindustrialização.
As multinacionais que compõem o Flitic (Fórum Latino-Americano da Indústria de Tecnologia da Informação e Comunicações) não esfregam na cara do Consórcio de Prefeitos apenas o princípio do tiro certeiro de um determinado objetivo a ser superado. Vão mais longe, muito mais longe.
Em vez do centralismo burocrático dos chefes de Executivos públicos, donos absolutos do poder de decisão em contraponto com o distanciamento do cotidiano das ações do Consórcio, o Fórum Latino-Americano da Indústria de Tecnologia da Informação e Comunicações coloca em primeiro plano um comitê executivo formado de um ou mais representantes indicados pelas empresas associadas. É o comitê que vai conduzir as operações do dia-a-dia. A instância dos executivos-chefes de cada empresa será o Conselho de Administração, cuja própria inclusão hierárquica explicita a importância que as companhias dão à instituição cooperativada.
As multinacionais do Flitic estão inquietas com algumas questões vitais para seus negócios, casos da propriedade industrial, do custo do acesso à tecnologia, normas e estruturas legais e também o papel do investimento em tecnologia no desenvolvimento do País.
Insistindo no núcleo gerador dessa cooperação — o desenvolvimento tecnológico — chamamos a atenção para o fato de que as sete megacorporações já se armaram da munição da informação qualificada para sensibilizar o Estado. Citam que enquanto países ricos destinam 5% do PIB à tecnologia da informação e os asiáticos aplicam 3,5% em média, na América Latina o investimento anual é de 2,5%.
Uma das veredas pelas quais pretendem elevar o índice é a inclusão do Brasil na Alca. Os membros do Fórum, afirma um manifesto da instituição, estão convictos de que a Alca pode acelerar a adoção da tecnologia e torná-la mais barata à população.
Sem qualquer juízo de valor sobre a inserção do Brasil no acordo comercial liderado pelos Estados Unidos, até mesmo para que não se desvirtue o objetivo destas linhas, está impactantemente claro nessa analogia entre o G-7 empresarial e o G-7 municipal o quanto há de diferença entre a objetividade privada e a tortuosidade pública quando há exigência de coletivização de diagnóstico, planejamento e execução.
Nem mesmo é possível execrar as multinacionais da cruzada em favor da tecnologia como estrategistas de poder porque também está no horizonte das propostas o estímulo à área educacional. Pretende-se atuar vigorosamente na massificação e na redução do custo dos equipamentos, software e serviços, sempre respeitando a propriedade intelectual.
Há muito tempo defendemos um Consórcio de Prefeitos completamente diferente do paquiderme que está por aí entre outros motivos porque despreza o núcleo programático sintetizado em competitividade. Estaremos todos fritos se a roda da competitividade não girar além dos muros das empresas automotivas e petroquímicas que se modernizaram à revelia de políticas públicas.
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24/04/2025 GRANDES INDÚSTRIAS CONSAGRAM PROPOSTA