É muito difícil deixar de admitir que está aquém do esperado o gerenciamento do Consórcio de Prefeitos na definição das vocações curriculares da UFABC (Universidade Federal do Grande ABC). Tem-se a impressão de que as trapalhadas jamais se esgotarão porque se retroalimentam da improvisação. Agora, o que se programa no festival de desvio do foco recheado de populismo disfarçado de democracia são audiências públicas nos legislativos da região.
Deliberadamente, pretende-se expandir para platéias provavelmente ávidas por participação, mas parcas de conhecimento específico, um temário que deveria estar acondicionado em invólucro seletivo, formado de especialistas em competitividade educacional e econômica. Sim, especialistas em competitividade porque é exatamente esse o facho de luz que deve nortear a identificação de preciosidades teóricas que nos retirem da escuridão prática em que nos encontramos.
Temos de fugir da pasmaceira histórica de perder tempo enquanto o mundo gira e a Luzitana roda. Até quando vamos andar em círculos institucionais? Será que ainda não caiu a ficha do desconfiômetro de que planos não enchem a barriga dos excluídos sociais e assembleísmos cada vez mais esquálidos em representatividade não matam a fome de desenvolvimento econômico sustentável?
Menos mal, ou melhor, graças a Deus que o ministro da Educação, Tarso Genro, está atuando como sentinela do perfil com que será concebida a UFABC. Aos eventuais prevaricadores da objetividade, Tarso Genro já mandou recados menos sutis do que se esperava, inclusive através deste Diário. A junção academia-mercado, queiram ou não os essencialmente burocratas do convencionalismo, será cláusula pétrea no investimento que o governo Lula da Silva resolveu liberar para o Grande ABC.
Por isso, algumas acrobacias diversionistas expostas nos encontros dirigidos pelo Consórcio de Prefeitos não passam, de fato, de derrapagens típicas de quem despreza a racionalidade na aplicação de recursos públicos e não compreende o histórico da última década e meia de mudanças radicais neste território.
A profissionalização dos debates sobre a Universidade Federal do Grande ABC apresenta-se como abre-te-Césamo. Colidirá essa postura com o populismo assembleístico escondido sob a democratização de debates para supostamente apurar o perfil da instituição. Não faltará quem eventualmente apontará o indicador do simplismo em direção aos supostamente elitistas. Ótimo que isso aconteça, porque assim se estabelecerá o confronto positivista de verso e reverso.
Diferentemente de um ou outro protagonista do jogo econômico do Grande ABC incapaz de perceber o aporte de novos insumos químicos e petroquímicos que estará na alça de mira dos investimentos no Pólo de Capuava, escancara-se a porta de uma vocação compulsória da UFABC.
Sim, a transformação de insumos petroquímicos em material plástico, cujo aproveitamento industrial é subestimado no Brasil, é o mapa da mina da reação do setor de transformação do Grande ABC sob bases empregatícias, não apenas de geração de tributos. O consumo de material plástico no Brasil não chega a 40% da média dos países mais industrializados. Temos, portanto, uma ampla e confortável pista para imprimir velocidade e romper a fita de chegada num horizonte de década, década e meia.
Tão importante quanto a distância que nos separa do Primeiro Mundo na utilização de insumos plásticos são as correntezas de benefícios que poderemos canalizar para fazer girar os moinhos de vento da diversificação industrial. Sim, na medida em que o Grande ABC se aparelhar de novas cargas de insumos petroquímicos e se preparar estrategicamente para abastecer as pequenas e médias empresas do setor, ao mesmo tempo em que poderia incrementar a atratividade de empreendedores de outros setores menos vinculados às montadoras, mais estaremos próximos da recuperação sistêmica.
Por isso, a prioridade de destinar os primeiros cursos da UFABC à modernização da indústria transformadora de plástico, prevalecentemente de pequeno porte, é tão óbvia que pode até mesmo desprezar ênfase. Mas, quando se sabe que o Consórcio de Prefeitos tem vocação para a complexidade, o melhor a fazer é repetir à exaustão: olhem para o plástico, ou vamos continuar a suportar as dores da compactação metalúrgica e seus insidiosos efeitos colaterais.
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24/04/2025 GRANDES INDÚSTRIAS CONSAGRAM PROPOSTA