Regionalidade

Passado e presente

DANIEL LIMA - 31/10/2004

Passadas as eleições desta temporada, os dirigentes públicos que atuam no Grande ABC vão ser instigados a alterar o rumo temático. E nesse ponto quem deverá imprimir ritmo diferenciado de abordagem é a comunidade mais responsável e comprometida com o futuro de cada uma das cidades da região e do Grande ABC como um todo.


Temos de alterar paradigmas sobre prioridades que nos interessam de fato. E nesse ponto, a competitividade econômica deve ocupar o topo do pódio, porque a própria origem da grandeza da região está na cultura do trabalho.


Fomos perdendo musculatura econômica e social invejável na medida em que nos tiraram muitos braços das empresas, notadamente indústrias.


Uma série de questões deve balizar a atuação da sociedade regional porque interfere diretamente no nosso futuro. Ou nos damos conta disso e intercedemos para retirá-las do escurinho do cinema de inaptidão de mudanças, ou seremos eternamente flagrados pelo lanterninha da realidade cada vez mais pungente de nossas periferias conflagradas pelo complexo de Gata Borralheira.


Sim, nossas bordas territoriais apresentam enfermidade social potencialmente mais elevada que a vizinha Capital, que nos enfia goela abaixo seus excluídos mais desligados de recuperação e sobrecarregam os orçamentos públicos por si só debilitados pela desindustrialização.


Em uma década acrescentamos a soma de Mauá e Ribeirão Pires de população, a maioria egressa de áreas ribeirinhas da Capital. Já somos 2,5 milhões de habitantes, não mais que 300 mil das classes A e B, de famílias que auferem rendas mensais de no mínimo R$ 6 mil.


Um dos desafios da sociedade regional é justificar a própria conceituação de sociedade regional que aqui se coloca apenas para compreensão da esfera de um poder que não se materializa de fato, exceto em ações pontuais ou específicas, de interesses localizados.


Nunca é demais lembrar que o turbilhão da globalização ensandecida patrocinada pelo governo Fernando Henrique Cardoso passou por aqui durante longos oito anos, nos tirou 39% de nossa riqueza industrial e nada, absolutamente nada, as supostas lideranças regionais fizeram para manifestar repúdio, quando não contrariedade. E quando se cita sem nominação as lideranças regionais pretende-se identificar todos aqueles que ocupam cargos públicos privados e não-governamentais. E aqueles que já ocuparam e também pouco fizeram por mudanças substantivas.


A herança cultural de apertar parafusos nos deu mobilidade social de fato, com migrantes e imigrantes somando aos esforços a recompensa de conquistas materiais. Entretanto, nos colocou igualmente em situação de subordinação à Capital sempre mais badalada. Estudos sociológicos mais aprofundados poderiam descer aos porões de nossa superficialidade existencial no campo de práticas cidadãs.


O próprio Novo Sindicalismo, como foi chamada a revolta do chão de fábrica de Lula da Silva e seguidores a partir do final dos anos 70, foi uma contrapartida exclusivamente corporativa de represália ao capitalismo selvagem. Jamais tivemos de fato a intersecção reformista entre governos locais, representantes econômicos, sociais e culturais.


A aproximação patrocinada pelo Fórum da Cidadania que, em seguida, gerou a Câmara Regional, foi lapso circunstancial e adredemente pensado para finalidades não tão nobres como se apresentou. Como se sabe, não se sustentou ao longo dos tempos e, pior dos mundos, dada a condição de estrelismos que o caracterizou, deixou marcas de desintegração ainda maiores que a dispersão sobre a qual lançou as bases conceituais de sua própria criação.


O divisionismo corporativista que predomina no Grande ABC é provavelmente a erva daninha mais resistente que precisa ser combatida com firmeza.


Primeiro, porque comprovadamente se interpõe como entrave ao desenvolvimento integrado.


Segundo, porque solidifica posturas discriminatórias.
Terceiro, porque inibe e desclassifica o espírito de regionalidade e de complementaridade que a geoeconomia oferece de bandeja aos sete municípios locais.


Quarto, porque contrasta com os princípios de cooperação que, mais que regiões, países de diferentes hemisférios há muito exalam não só como saída para o enfrentamento de concorrentes mas, principalmente, para a superação dos próprios tropeços, muitos dos quais derivados da pressão externa do jogo de dissolução de fronteiras.


Como se verifica, há um Grande ABC eternamente entregue ao próprio destino carente de planejamento estratégico. Não podemos mais perder tempo.


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