Regionalidade

Dinossauros intocáveis

DANIEL LIMA - 26/11/2004

Há muito escrevo sobre a inapetência estrutural, conceitual e técnica das associações comerciais para atender necessidades mínimas do empreendedorismo privado. Os dirigentes detestam manifestações críticas porque querem apenas o bônus da exposição pública do cargo que ocupam.


Preferem, em grande maioria, sustentar o ego de exibir carteirinhas de diretores, de presidentes, de conselheiros. Se soubessem que isso os torna co-autores da carnificina do setor de comércio e de serviços do Grande ABC, invadido ao longo dos anos 90 sem que se esboçasse qualquer reação, certamente não seriam tão estúpidos.


Como as associações comerciais são lenientes com o quadro de exclusão empresarial! Até parece que não têm nada a ver com o abacaxi. O modelo há muito está saturado. Mas, seus representantes são historicamente espertos: aproximaram-se dos veículos de comunicação por meio de lobbismo regado a interesses nem sempre claros e com isso ganharam salvo conduto para permanecer na profundidade de descompromissos.


Para que não me acusem de escrever, escrever e não dizer nada, vamos aos fatos: onde estavam os dirigentes de associações comerciais do Grande ABC durante a década de 90 quando grandes conglomerados do terciário aqui aportaram em busca de nosso potencial de consumo e, livres, leves e soltos, sem amarras públicas, sem restrições éticas, tomaram-nos todos os melhores espaços logísticos?


A avalanche de investimentos de hipermercados e supermercados, por exemplo, foi extraordinariamente destrutiva ao equilíbrio socioeconômico. Há estatísticas que provam o tamanho do rombo. Só nos 60 meses compreendidos entre janeiro de 1999 e dezembro de 2003 o Grande ABC perdeu mais de 11 mil empresas do terciário formalizadas no Ministério da Fazenda. Antes, outra estatística captou implosão semelhante em período distinto.


O que fizeram as associações comerciais? Nada. Nenhum gesto, nenhuma iniciativa, nenhuma mobilização. Seguiram rigorosamente coletando dividendos de prestadoras de serviços industrializados pelo Estado burocrático. Seus dirigentes posam de expoentes da sociedade, frequentam os melhores ambientes, aparecem nos jornais com críticas ao governo federal, ao governo estadual, ao governo municipal, mas esquecem do próprio rabo.


Não vamos cometer o crime da generalização e condenar todos os dirigentes das associações comerciais. Há gente talentosa entre eles, mas incapaz de exibir dotes porque estruturalmente as entidades são dinossauros.


Costumo afirmar que a cultura de servilismo e de interesses difusos que permeia essas entidades de classe subverte os valores mais importantes do cooperativismo classista. A institucionalização de maus costumes, de arrogância, de proselitismo e de compadrismo domina essas instituições.


Todas, ou quase todas, são palcos de nem sempre dissimulados interesses político-partidários. Não faltam espertalhões que usam e abusam da logomarca para particularizar investidas sobre organismos oficiais e na superação de concorrentes.


O despreparo técnico-operacional além do burocratismo de atendimento que prestam é sim generalizado entre as associações comerciais. Enciumados, os dirigentes não trocam experiências, não provocam sinergia, não reformulam posturas. Experimentem buscar dados imprescindíveis ao fortalecimento dos quadros de empreendedores dos respectivos municípios locais. Sabem o que encontrarão? Nada vezes nada.


Os bons quadros individuais das associações comerciais da região que conseguiram resistir ao acúmulo de décadas de inoperância deveriam se manifestar de forma incisiva nestes novos tempos de um Grande ABC que tem na Presidência da República, pela primeira vez na história, um representante de fato preocupado com o futuro regional.


Será que não teremos alguns pares de dirigentes empresariais das associações comerciais para se mobilizarem em torno de um novo tempo? Há muito defendemos o pragmatismo da fusão institucional das sete entidades de classe empresarial do comércio e de serviços. O que vem a ser essa proposta? Dada a impossibilidade de se juntarem em atividades de prestação de serviços, pelo menos que construam espaço único de articulação que trate tanto de questões municipais como regionais. Os embaraços municipais são semelhantes e poderão ser resolvidos por meio de racionalidade de diagnóstico, ação e monitoramento operacional. Já as vicissitudes regionais só poderão mesmo ser superadas se regionalmente forem atacadas.


A fórmula sugerida é tão simples, tão direta, tão reta, tão exequível, que só existe uma explicação para não ser aplicada: a maioria dos dirigentes quer mesmo é continuar a vidinha de sempre, arrumando aqui e ali o bode expiatório da vez. Como o chamado Grupo dos 11, formado por associações comerciais e Ciesps da região, intentou há dois anos, num lance patético contra a Agência de Desenvolvimento Econômico.


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