O saldo das entidades integracionistas forjadas ao longo da década passada, a partir do visionarismo de Celso Daniel, é um monumental estoque de acertos e erros. Por isso, ao se vislumbrar a constituição do Conselho de Desenvolvimento Econômico da Região Metropolitana de São Paulo e seu braço operacional, a Agência Metropolitana, o Grande ABC sempre inferiorizado em relação à pujante Capital, pode dar contragolpe e impor-se pela experiência de década e meia no tratamento de questões intermunicipais.
Os prefeitos que assumiram os respectivos paços municipais neste primeiro de janeiro compõem a quarta turma de rodízio obrigatório das urnas. Entretanto, nem todos são marinheiros de primeira viagem no enxadrismo da regionalidade do Consórcio Intermunicipal, da Agência de Desenvolvimento Econômico e mesmo da ficcional Câmara do Grande ABC.
João Avamileno, de Santo André, acompanhou de perto o segundo e o terceiro mandatos de Celso Daniel, o idealizador do Consórcio Intermunicipal, e com ele agregou valores de integracionismo. O secretário Jeroen Klink, não só mantido como prestigiadíssimo no organograma da Prefeitura, é prova de que a compreensão dos valores metropolitanos está solidificada em Santo André.
William Dib, de São Bernardo, poucas vezes se apercebeu do potencial de racionalidade e produtividade de instituições entrecruzadas na disputa por espaços mais amplos. A condição de vice-prefeito o mantinha apenas na expectativa, o que é natural. E a envelopagem de substituto de Maurício Soares também o inibia. Agora, titular absoluto e do alto de 76% dos votos validos, não só vai para o jogo como decidiu assumir a condição de capitão do time regional.
Kiko Adler Teixeira, de Rio Grande da Serra, acompanhou à distância as idas e vindas do tango de reticências das entidades que emergiram na região, mas tem a vantagem da intencionalidade de participar para valer. Entre outros motivos, Kiko Adler sabe que, escanteado geograficamente, quase fora da cartografia regional, não resta alternativa a Rio Grande da Serra senão juntar-se aos maiores para não perecer como menor.
Clovis Volpi, de Ribeirão Pires, é caso à parte. Foi um dos precursores da ladainha da inserção do Grande ABC no conceito de metropolização. Como deputado estadual, chegou a apresentar projeto de lei para enquadradar legalmente o Grande ABC como espaço metropolitano à parte do restante da RMSP. Abriu caminho para a Baixada Santista e a Grande Campinas, enquanto ficamos a ver navios. Integrará o grupo com convicções sólidas e legado de intenções que o retiram da condição de noviciado.
José de Filippi Júnior inicia novo governo em Diadema, agora do terceiro mandato. As instâncias regionais não lhe são segredo. Comandou inclusive o Consórcio. Bebe da água da regionalidade entre outras razões porque Celso Daniel era seu espelho de políticas públicas compartilhadas numa região em que os limites geográficos se diluem na difusidade de conurbações.
José Auricchio Júnior, de São Caetano, diferencia-se de seu mentor e antecessor, Luiz Tortorello, entre outros pontos ao perceber que o brilho individual do Município de melhor qualidade de vida do País é tão sustentável no longo prazo como a Torre de Pisa. Ou seja: se não houver certas intervenções, o declínio pode ser até imperceptível aos olhos mais descuidados, mas que compromete a obra, não resta dúvida. E nada mais ajuizado do que a inserção regional para combater problemas especificamente da área criminal e, também, reprogramar medidas de desenvolvimento econômico longe do facilitarismo de uma guerra fiscal no setor de serviços, cujo prazo de validade já estourou.
Para completar, em Mauá de prefeito interino e de do suporte da equipe de William Dib, seja qual for o vencedor concebido pela Justiça Eleitoral ou pelas urnas retardatárias, o que teremos é uma adesão incontinenti aos pressupostos de regionalidade. Basta um exemplo para a compulsoriedade de adesão: o trecho sul do Rodoanel é uma obra de fora para dentro que não pode ter como contraponto o enclausuramento municipalista.
Com esses novos e antigos personagens mais conhecidos do público e também com um grupo seletivo de técnicos que atuam ordenadamente na captura de idéias, propostas, diretrizes e ações que ultrapassam o tradicional autarquismo municipal, é de se esperar por um Grande ABC respeitado na Agência Metropolitana.
A grandiosidade da Capital de 10,6 milhões de habitantes, e detentora de 28% do PIB paulista, é ameaça de fato à trajetória do Grande ABC na Agência Metropolitana. Se tropeçarmos no velho e batido Complexo de Gata Borralheira, perderemos a oportunidade de transferir para o campo metropolitano um modelo teórico de governança imprescindível à recomposição desse inferno urbanístico de 18 milhões de habitantes.
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