A impressão que o prefeito William Dib transmite como presidente do Consórcio Intermunicipal é de que não dará trégua ao agendamento sobre os pontos cardeais que poderão levar o Grande ABC a reencontrar próprio o Norte.
Dib surpreende a cada dia entre outras razões porque tem capacidade de desempenhar o papel que lhe cabe de acordo com as circunstâncias. Foi discretíssimo agente público durante perto de três décadas em São Bernardo. Desses que observam a tudo e a todos com precisão cirúrgica. Esperou o momento certo de virar protagonista. E o está fazendo de forma gigantesca, à altura da riqueza econômica e dos problemas sociais de São Bernardo.
A programação da próxima semana em Brasília, quando deverá estar acompanhado dos demais prefeitos para rediscutir a participação do governo federal no bolo de recursos do trecho sul do Rodoanel, mostra a cara de determinação do presidente do Clube dos Prefeitos.
É desnecessário comparar o quanto o Grande ABC já ganhou em dois meses de novo comando do Consórcio de Prefeitos em relação a períodos anteriores. Seria estupidez confrontar a breve e fluente trajetória de Dib à inapetência coletivista de Maria Inês Soares, então prefeita de Ribeirão Pires, versadíssima em fracionar o potencialmente multiplicável. Luiz Tortorello, a quem Maria Inês sucedeu, também não fez do Consórcio simbologia e operacionalidade de integração regional com organicidade e dedicação plena.
Se formos aprofundar detalhes históricos de desempenho dos prefeitos que se revezaram à frente dessa instituição teoricamente contestatória ao autarquismo da estrutura municipalista do País, apenas Celso Daniel se salva de fato. Se salva é forma de expressão, porque idealizou e, mais que isso, tentou fazer um jogo em que todos participassem mas foi, por razões diversas, muito pouco compreendido.
Embora os esforços do prefeito de São Bernardo sejam intensos para compartilhar passos evolucionistas tanto com o governo estadual quanto com o governo federal, há dúvidas sobre o empenho de pelo menos dois parceiros, João Avamileno, de Santo André, e, principalmente, José de Filippi Júnior, de Diadema. Eles estariam incomodados por motivos diferentes.
O incômodo por causa do governador Geraldo Alckmin teria motivos político-partidários, compreensíveis em qualquer instância municipal, de disputa por recursos, mas inadmissível quando se trata de instituição regional.
O incômodo por causa do governo Lula da Silva seria igualmente político-partidário, mas de variável específica: eles se sentiriam ameaçados de ter o poder de interlocução com Lula supostamente mitigado por força de combinações partidárias que ultrapassam o terreno relativamente plano de questões locais e ganham complexidades nacionais de sustentação no terreno pantanoso das eleições presidenciais do ano que vem.
A posição de João Avamileno seria menos desconfortável do que a de Filippi. Avamileno teria certo grau de preocupação não propriamente por vaidade administrativa, mas por eventuais pressões de petistas que o cercam. O caso de José de Filippi Júnior é mais complicado: ele tem sonhos políticos mais ambiciosos, não teria engolido o apoio de Dib ao oposicionista José Augusto da Silva Ramos, a quem derrotou por margem escassa de votos em outubro, e reúne doutrina esquerdista da qual Avamileno se já não descartou, há muito guardou no armário de ex-metalúrgico, compreendendo que, como administrador público, o bom senso indica que seja pragmático.
Os próximos tempos vão mostrar até que ponto a unidade do Clube de Prefeitos estará amalgamada, independentemente de questões pré-eleitorais e, também, de objetivos individuais de seus representantes. A possibilidade de reformulação do estatuto do Consórcio de Prefeitos, proposta em documento da Fundação Getúlio Vargas, demarcará de vez o caráter público de William Dib como agente público diferenciado.
O modelo do Consórcio precisa ser substancialmente modificado, mas também não pode escorregar na tinta fresca do assembleísmo proposto pela FGV, que prevê fórum de decisões amplo demais, em contraponto radical à blindagem autoritária imposta há 15 anos aos representantes da comunidade.
A grandeza explicitada por William Dib como agente regional está mais uma vez na manchete de ontem deste jornal, na visita que fez ao ministro dos Transportes, em Brasília. Enquanto isso, algumas páginas adiante, o ex-sindicalista Vicentinho Paulo da Silva e Wagner Rubinelli, dois dos quatro deputados federais petistas da região, preferiam tratar ações diplomáticas com representantes do Ministério da Fazenda para demover uma indústria química de deixar o Pólo de Capuava. Uma causa justa que, entretanto, não consegue assimilar o peso do representante da instituição regional que, a poucas quadras de distância, poderia ser requisitado a engrossar a reivindicação.
Quando a evangelização da regionalidade conseguir reunir um rebanho uniforme de crentes, tudo será menos complicado.
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24/10/2024 UFABC fracassa de novo. Novos prefeitos reagirão?