Seria muito injusto, injusto demais com as tartarugas, tartarugas que merecem respeito, dizer que o ritmo de atuação da nova diretoria da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC está devagar quase parando. As tartarugas que merecem todo o respeito, repito, é que andam devagar quase parando, porque a natureza assim o quis. A Agência está parada, paradíssima, desde que há dois meses o prefeito de Rio Grande da Serra, Adler Kiko Teixeira, e o presidente da Acisbec (Associação Comercial e Industrial de São Bernardo), Valter Moura, assumiram a presidência e a vice-presidência.
O prefeito de São Caetano, José Auricchio Júnior, e o médico pneumologista Fausto Cestari Filho fizeram bom trabalho à frente da Agência, mesmo com as limitações orçamentárias. Presidente e secretário-executivo, eles mostraram que é possível dar algum fôlego à regionalidade. Kiko Teixeira e Valter Moura chegaram há 60 dias e não conseguiram harmonizar um problema crucial: a indicação e a confirmação do secretário-executivo.
Há disputa acirradíssima à ocupação do cargo. Tucanos e petistas dividem o butim regional, apesar de outras cores partidárias transmitirem a impressão de que de fato existem e têm autonomia. Alguém acredita de fato que os petebistas Aidan Ravin e José Auricchio e o verde Clóvis Volpi não têm o mesmo alinhamento partidário e ideológico de Kiko Teixeira, o único prefeito da região de direito peessedebista?
Do outro lado, como se sabe, estão os petistas sem máscaras. Diferentemente, portanto, dos mascarados que dão sustentação ao governo federal petista, instância em que as denominações partidárias são um festival de dissimulações que confirmam a regra geral de que o Brasil se divide em duas partes, partes que vão para o embate maior no ano que vem, com José Serra e Dilma Roussef.
Voltando à Agência, o que mais escandaliza o bom senso e a inquietação de quem sabe que a maré não está para peixe nestes tempos de recessão globalizada, é o descaso ou a falta de prioridade, para ser mais suave, com essa ferramenta institucional que pode não ser uma Brastemp, como de fato não é, mas que requer um mínimo de atenção.
Até porque, a sustentação que o corpo técnico da Agência de Desenvolvimento Econômico oferece à direção executiva poderá fragilizar-se na medida em que não se sentir estimulado a promover incursões e estudos se o volume produzido não for avaliado e colocado em execução. Esse estágio exige mais que empenho da direção da instituição, mas também a boa vontade dos parceiros das empreitadas regionais.
É mais que provável, é certo, que tanto Kiko Teixeira quanto Valter Moura se sentirão melindrados com a revelação de que numa corrida com tartarugas eles perderiam feio, simplesmente porque de fato estão paralisados. Pode ser que tenham até alguma nesga de razão ao se defenderem. Certamente argumentarão que são presas das disputas políticas que imobilizam as peças de continuidade administrativa da Agência. Provavelmente dirão que não poderão mesmo botar fogo na canjica se os demais parceiros, ou boa parte deles, não oferecerem o combustível do entusiasmo e do comprometimento.
Tudo bem, tudo bem, mas nada consubstanciará de fato a transferência de responsabilidades. Tanto um quanto outro carregam maior ônus. Ainda mais que, pensando bem, o encaminhamento político que levou Kiko Teixeira à presidência de uma instituição que já teve tantos nomes bem mais apetrechados é o fim da picada de um jogo de xadrez que sacrifica as principais peças, deixando-as no banco de reservas da regionalidade já tão carente e desfalcada.
Aos desavisados, a impressão que se passa com a indicação de Kiko Teixeira para a presidência da Agência de Desenvolvimento Econômico, depois de ocupar a presidência do Clube dos Prefeitos, instância principal da busca de regionalidade do Grande ABC, é que se trata de um fenômeno intelectual, de um desbravador pragmático e de um espetacular articulista político.
Pura bobagem: Kiko Teixeira é simplesmente o fiel da balança de um jogo numérico de poder que concede aos tucanos a maioria dos votos no Clube dos Prefeitos. Sim, com quatro prefeitos azuis contra três vermelhos, o Clube dos Prefeitos, que exerce o controle da Agência de Desenvolvimento Econômico, tem uma maioria quantitativa que interessa. Liderados pelo ex-prefeito William Dib, engenheiro eleitoral de respeito, tucanos e assemelhados apadrinharam Kiko Teixeira oferecendo-lhe contrapartidas. O que Kiko Teixeira tem de melhor é o próprio apelido, matéria-prima que dispensa caricaturizar o que de fato o extratifica como agente público
Já Valter Moura, presidente há 20 anos da Associação Comercial e Industrial de São Bernardo, tem afinidade intensa com a articulação de conceitos econômicos, carro-chefe de intervenções sistemáticas na imprensa regional como comentarista da conjuntura sempre com olhar positivo, por pior que sejam os fatos e os cenários. Não é necessariamente ponta-de-lança de transformações, embora esteja à frente da principal entidade do Município de maior PIB no Grande ABC.
Nestas alturas do campeonato, somente um secretário-executivo com passado e presente de intervenções práticas poderia dar alguma fôlego operacional à Agência de Desenvolvimento Econômico. Sobretudo se ouvir atentamente os técnicos da instituição.
Mas, reconheçamos nada disso estaria à altura do passado de glórias da economia do Grande ABC. O que temos de contar é com infraestrutura humana e material do porte dos problemas que são muito, mas muito maiores que a montanha de positividades quase todas inerciais que acumulamos em 50 anos de industrialização portentosa.
Apesar de reconhecer as limitações de esferas municipais e regionais na plataforma de construtividade econômica, a banda não é tão estreita para justificar desculpas esfarrapadas de dependências insolúveis. Outras regiões do Estado e do País já deram mostras de que também sabem nadar contra a maré, até porque, nadar a favor da maré é moleza à qual nos acomodamos nos bons tempos. A paralisia da Agência, que não faz frente à mobilidade de tartaruga, é a antítese do desenvolvimentismo necessário.
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26/11/2024 Clube dos Prefeitos perde para Câmara Regional