Regionalidade

Clube dos Prefeitos despreza
agenda para próximo presidente

DANIEL LIMA - 15/10/2010

A propósito do texto de ontem sobre o posicionamento do prefeito de Santo André Aidan Ravin no segundo turno das eleições presidenciais, ocorre-me omissão lamentável do Clube dos Prefeitos, instância regional que tem por missão planejar e executar o futuro. Como pode mais uma eleição presidencial se avizinhar e o Clube dos Prefeitos não ter tido senso de oportunidade para apresentar aos principais concorrentes, e agora aos dois finalistas, uma agenda que comprometa o vencedor com o destino de 2,6 milhões de habitantes?


A sugestão é tardia para o governo do Estado, possibilidade esgotada com a definição do pleito no primeiro turno. Geraldo Alckmin e secretariado olharão para o Grande ABC sem amarração efetiva com pelo menos um pacote de propostas formuladas por quem conhece os problemas locais. Ficaremos, portanto, no âmbito paulista, refém de iniciativas partidárias ou, pior ainda, individualizadas, conforme a proximidade do interlocutor com o Palácio dos Bandeirantes.


Quem conhece a abrangência de medidas sob o prisma de exclusivismos sabe quantas interrogações inoculam o ambiente regional. O que emana de contraditório propositivista de um grupo multilateral é sempre muito mais consistente do que ações enviesadas por cores partidárias ou conotações pessoais, por melhor que seja a intenção dos interlocutores.


Nem se pode argumentar em oposição ao agendamento de uma lista de prioridades que comecem e terminem na área econômica que não tenha havido possibilidade de encontros. José Serra e Dilma Rousseff estiveram várias vezes na região. Uma pena que tenha prevalecido compromisso político-partidário. Nada de missão interpartidária, regional, integracional, foram capazes de preparar os mandachuvas do Grande ABC. Não perdemos a mania de pensar pela metade, de agir fragmentadamente.


O Clube dos Prefeitos é a face mais visível da baixa sensibilidade de o Grande ABC pensar muito além das fronteiras municipais, mas não está sozinho no fundo do poço institucional. Há também um conglomerado de organizações que se protegem na mediocridade de olhar para o próprio umbigo.


Cadê as associações comerciais e industriais, cadê os clubes de serviços, cadê os sindicatos, cadê quem habita esse mundo muito especial de entidades sociais, econômicas e culturais, além de supostas camadas de verniz intelectual de acadêmicos? E o que dizer de deputados estaduais e federais?


Aliás, fosse o Clube dos Prefeitos muito além do Clube dos Prefeitos, fosse o Clube dos Prefeitos o que foi nos primeiros tempos a desativada Câmara Regional, o formato participativo abarcaria as lideranças setoriais. Está certo que lideranças setoriais é força de expressão. Quem comanda arbitrariamente uma entidade de classe não pode ser chamado de liderança nem aqui nem na China. Talvez na China possa.


Como o Clube dos Prefeitos está limitado ao Poder Executivo dos sete municípios da região, as demais instâncias arrumaram uma boa desculpa para se omitirem.


Tanto que só promovem mesmo encontros com candidato locais, sempre com viés municipalista e em muitos casos como extensão de interesses particulares, de aproximação nada republicana com instâncias de poder.


Essas entidades estão anos-luz distantes de um mundo globalizado, um mundo que influencia sobremaneira a sociedade regional da importação de autopeças chinesas à invasão da nova moda de comércio eletrônico, os clubes de compra, que começam a reordenar a cultura de consumo.


É chocante observar que o Grande ABC não desperta de um pesadelo chamado vazio institucional. E nesse ponto a pauta jornalística é esforçada, empenhada, mas muito pobre. Nivelaram as questões ao tamanho dos pigmeus que se meteram na disputa por espaços de poder. As manchetes dos jornais raramente fogem da superficialidade tosca e do dimensionamento temporal mais biodegradável que a própria folha de papel. As revistas raramente superam a barreira do calendário exposto na capa. O Grande ABC vive já há algum tempo na escuridão estratégica. A tática prevalece no terreno movediço de interesses mesquinhos.


Se não temos capacidade organizacional sequer para colocar os finalistas presidenciais em dias diferentes cara a cara com nossos problemas, aproveitando-se a maré alta da caça aos votos que agora faz a festa dos religiosos, o que esperar quando tudo estiver definido nas urnas?


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