Vou fazer com o governo de oito anos do presidente Lula da Silva o mesmo que fiz com os oito anos do presidente Fernando Henrique Cardoso. Há numerologias que precisam de tempo para depuração e integralização, embora indicadores sejam fartos de que há abismo entre os dois administradores do País nos últimos 16 anos. Antecipadamente, asseguro que os moradores do Grande ABC deveriam agradecer e muito pela gestão lulista. Uma pena, entretanto, que o mesmo Grande ABC não tenha se preparado institucionalmente para obter resultados muito melhores. Entre os quais uma Universidade Federal do Grande ABC que não fosse o que é, autêntica barriga de aluguel, como bem a definiu o especialista Valmor Bolan.
O presidente da República que volta a São Bernardo nos retirou do afundamento regional de FHC. Lula da Silva não foi um presidente perfeito para o Grande ABC, à parte a avaliação que façam sobre a gestão em nível nacional, mas evitou que escorregássemos ainda mais na casca de banana da desindustrialização incontrolável.
Com todo o respeito que me merecem os críticos locais que arbitram questões nacionais, onde o buraco é bem mais embaixo, quem cometer o crime de dizer que Lula foi mais do mesmo de Fernando Henrique Cardoso ganha inscrição compulsória no Clube dos Detratores Empedernidos.
A recuperação e a alavancagem da indústria automotiva sob o presidencialismo de Lula da Silva já seriam suficientes — e de fato o são — para instalar o ex-operário numa plataforma diferenciada da de Fernando Henrique Cardoso.
Seria importante lembrar o que FHC perpetrou contra a economia regional a partir de meados da última década do século passado?
Fernando Henrique Cardoso patrocinou a maior carnificina de produção física e de desemprego industrial da história. Nenhuma outra região do País passou por tamanhas vicissitudes. Foram 36% de rebaixamento do Valor Adicionado e 82 mil empregos industriais com carteira assinada. Valor Adicionado é espécie de PIB da produção de riqueza de uma determinada localidade. FHC foi um terremoto haitiano que passou pela economia do Grande ABC.
Quem reclamar de Lula da Silva que o faça democraticamente levando em conta os percalços gerenciais, políticos e institucionais mais que conhecidos e lamentados. Aí sim o homem que arrebatou o maior apoio popular da história democrática do País pode e deve ser contestado.
Entretanto, quando direcionarem baterias à geografia regional, os críticos precisam tomar cuidado porque podem cair na tentação da desmoralização. Conto já com alguns números mas não vou revelá-los agora. Deixarei para o ano que vem. Nem seria preciso, porque os benefícios do crescimento do Produto Interno Bruto se espalharam por todos os cantos do País. O Grande ABC não seria exceção como sede do maior centro de produção de veículos. Com Lula da Silva voltamos a respirar desenvolvimento econômico. Mesmo sem contar com reestruturação induzida pelo Estado em suas três dimensões, o governo do Estado, os prefeitos e a União. Ainda vivemos o dualismo do encantamento e do flagelo automotivo.
Este é o último texto que produzo neste 2010. Nos últimos dois meses acumulei a assiduidade deste espaço e o compromisso de coordenar a retomada da revista LivreMercado. A sobrecarga não alterou meu humor. Jornalismo é minha vida há tanto tempo que não saberia o que fazer se me visse afastado do dia a dia. Trabalho, como disse certo dia Antonio Ermírio de Moraes, não mata ninguém; o que mata é a raiva.
A sobreposição de tarefas talvez só pese mesmo àqueles com os quais travo luta intestina em busca de regionalidade com responsabilidade social. E também àqueles que colocam a ideologia e o partidarismo acima de tudo.
O Grande ABC não soube explorar institucionalmente o bilhete premiado materializado em Lula da Silva na presidência da República. O ex-torneiro mecânico poderia ter sido melhor para a região. Mesmo assim, melhoramos bastante, embora não o necessário quando se estende a linha do horizonte para os próximos 20 anos.
Repararam os leitores que não mencionei uma vez sequer qualquer agremiação política neste texto? É para que não haja dúvida de que a análise não tem vínculo político-partidário algum. Como jamais teve mesmo quando, em outras ocasiões, explicitei os clubes aos quais Lula e FHC pertencem.
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