Já que ao longo da história o Clube dos Prefeitos do Grande ABC não teve capacidade, humildade, coragem ou sei lá mais o que para abrir as portas à sociedade, optando por consolidar-se como nicho do qual apenas o chefe de Executivo tem vez e voz, eis que entra em campo nova configuração da Região Metropolitana de São Paulo, sob inspiração do governador Geraldo Alckmin. Até um muito desejado Conselho Consultivo, composto por gente da sociedade, está no organograma da Região metropolitana.
O Clube dos Prefeitos sempre teve horror ao povo. Apenas Celso Daniel defendia a abertura às forças vivas de instâncias sociais e econômicas do Grande ABC. Naquele tempo ainda tínhamos forças vivas. Hoje temos mesmo é gente desfilando egocentrismo, botox e horrorosos modelos em colunas sociais. Pior ainda: muitos desses festeiros e festeiras lideram ou participam de projetos sociais mais que suspeitos. Diria que praticam benemerência de migalhas.
Muito se tem escrito sobre a nova diagramação institucional da Região Metropolitana de São Paulo, mas nada é novidade. Tem interlocutor cantando caçapas que já foram mais que exploradas no passado. Há quase duas décadas se projetava a regulamentação de propostas que pudessem dar amparo técnico, financeiro, político e institucional à integração dos 39 municípios da área mais populosa do País. São 20 milhões de habitantes. Tanto quanto o conjunto de mais de 800 municípios de Minas Gerais.
É claro que há fortes componentes políticos, partidários e eleitorais na execução do projeto de Geraldo Alckmin. Foi o que se evidenciou mal as urnas presidenciais e ao governo do Estado foram apurados nas eleições do ano passado.
Quando os tucanos observaram o mapa eleitoral e perceberam que a periferia da Grande São Paulo esparramava cores avermelhadas, retrato bem acabado da maioria das regiões metropolitanas do País, e que também apenas as áreas mais nobres de São Paulo e dos demais municípios apontam o azul como preferencial, já se falava em acabar com o marasmo que se prolongava havia muito tempo. Era hora de pensar eleitoralmente tendo como plataforma de embarque a regulamentação de práticas integracionistas de cunho administrativo da Região Metropolitana de São Paulo.
Causou surpresa mesmo que os tucanos tenham demorado tanto para descobrir a pólvora, ou seja, que há uma imensidão de pobreza e de baixa qualidade de vida na metrópole mais ensandecida do País. Estava na cara que um dia, principalmente durante um governo federal que decidiu olhar para valer pelos pobres, esse contingente iria mostrar as garras eleitorais.
Longe de mim qualquer ilação contrária à estratégia política a dar sustentação ao gerenciamento coletivo da RMSP. Muito pelo contrário. O PT provavelmente jamais foi adiante nessa proposta porque não teve a oportunidade de contar em algum momento com o governo da cidade de São Paulo e o governo do Estado. Se a tivesse, iria em frente com o mesmo objetivo.
Lembro que quando eleita prefeita de São Paulo, Marta Suplicy falou sobre a pretensão de consolidar um cinturão vermelho na Grande São Paulo. Mudou de planos por conta de que alterações na legislação dependem da aprovação da Assembléia Legislativa do Estado, sob controle tucano e de assemelhados desde a redemocratização do País.
Estou recolhendo todas as informações possíveis sobre a nova perspectiva da Região Metropolitana de São Paulo. Gato escaldado, prefiro ver para crer. Não faltam garotos-propaganda a desfilar projeções com tonalidades por demais deslumbrantes, quando, de fato, essa costura de regionalidade mais ampla, daí o termo metropolização, é muito mais complexa, delicada, inquieta, beligerante e lenta do que muitos imaginação.
Principalmente porque — e esse é o bom preço da democracia, que os chineses abominam na pressa que têm para tomar a dianteira do mundo — há contendores avermelhados do PT e azulados do PSDB que não medirão esforços para capitalizarem eventuais avanços. O que poderia ser sinal de multiplicação de virtudes, de fato ganha a forma de soma zero ou de algo parecido quando se for verificar o balanço social e econômico das medidas.
Não custa nada lembrar que ao destinar uma das cinco sucursais ao Grande ABC, à leste da Capital, a constituição da Região Metropolitana de São Paulo reduzirá o papel e a importância do Clube dos Prefeitos do Grande ABC. O que, sinceramente, não alterará praticamente nada, porque, 20 anos depois, os resultados são pífios.
Mais que isso: o Clube dos Prefeitos é uma fraude institucional quando confrontado com as demandas sociais e econômicas de um Grande ABC que viveu no período as mais profundas mudanças em sua história.
O risco que poderemos correr é ter um Clube dos Prefeitos ainda mais reticente e uma Região Metropolitana muito aquém da gravidade de infra-estrutura física, saúde, transporte, desenvolvimento econômico e meio ambiente, entre outras variáveis.
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