Todos os textos que prepararei a partir de hoje para a revista digital CapitalSocial vão tratar da Província do Grande ABC. Decidi ontem de manhã, antes da corrida de alguns quilômetros, que a melhor maneira de protestar por falta de regionalidade do Grande ABC é denominar esse território de Província do Grande ABC. No sentido mais pejorativo que o leitor possa imaginar e pesquisar.
Só vou mudar a decisão quando entender que temos alguma perspectiva sólida de inserção organizada numa metrópole desvairada. Estou cansado de viver nessa barafunda de enganação completa.
Somente durante algum tempo, quando Celso Daniel era prefeito de Santo André e o maior regionalista destas plagas no âmbito público, obtivemos alguns avanços em integração dos sete municípios. Mesmo antes de morrer caímos numa pasmaceira irritante.
Conseguimos a mágica de transformar boas individualidades municipais em individualidades regionais pouco produtivas.
Sorte dos moradores de Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, que vou preservá-los da marca dedicada à Província do Grande ABC. Não vou me referir à Província de Santo André, à Província de São Bernardo, entre outras.
Não se trata de nenhum favor. Em termos municipais, território por território, não somos diferentes da maioria dos municípios brasileiros, com acertos e desacertos. Encontramos até casos excepcionais.
Entretanto, como temos obrigação, pela conurbação entre os sete municípios, pelo histórico de cidade única que se dividiu em sete partes, de apresentar muito mais que fragmentos de aproximações que não se traduzem em alterações sociais, econômicas, culturais e econômicas significativas, Província do Grande ABC é a melhor definição a utilizar.
Não vou chegar ao ponto de sugerir ao empresário Ronan Maria Pinto que mude o nome do jornal que dirige, o Diário do Grande ABC, adotando Diário da Província do Grande ABC, mas que cairia como uma luva, cairia.
A escolha da marca Diário do Grande ABC foi um achado de marketing dos pioneiros Edson Danilo Dotto, Fausto Polesi, Ângelo Puga e Maury Dotto, bravos rapazes que criaram o News Sellers, marca típica da subalternidade cultural, e o transformaram em preciosa denominação num período em que aumentativos e superlativos correspondiam aos sonhos de desenvolvimento.
Havia do que se orgulhar do Grande ABC como economia forte e comunidade mobilizada em sociedades de amigos de bairros e uma rede de assistencialismo social. Hoje, o que não faltam são candidatos a celebridades locais e uma abundância de colunismo social em revistas. Tudo muito próprio da Província do Grande ABC.
Acreditem os leitores que não será fácil nem confortável escrever Província do Grande ABC em vez de simplesmente Grande ABC, mas é o que tenho a fazer para tentar impactar a consciência de gente que não está nem aí com o cheiro da brilhantina da regionalidade. Gente do bem-bom, gente do bico doce.
Gozo do conforto assegurado de que a maioria dos formadores de opinião que consta do Conselho Editorial desta revista digital apoia essa decisão, porque se manifestou ainda recentemente, em enquete, totalmente desencantada com a baixa sensibilidade de ações conjugadas nesta Província.
Precisamos perder a mania de grandeza e nada melhor que Província do Grande ABC para chamar a atenção dos leitores em cadeia que se multiplicará.
É preciso que frequentadores assíduos ou circunstanciais deste espaço jornalístico tenham a atenção tomada pela iniciativa que não pode se confundir com golpe de marketing para atrair audiência.
Não sei como demorei tanto tempo para chegar à conclusão que Província do Grande ABC é um tiro certeiro na arrogância e no sentimento gataborralheiresco dessa Província.
Explico o paradoxo: a arrogância é de sangue municipalista autêntico, combustível que retira as forças de potencial de regionalidade que poderia modificar completamente a realidade, enquanto o Complexo de Gata Borralheira é sentimento regional, pela proximidade da exuberante mas problemática Capital.
Vou ter de me policiar para inserir a marca Província do Grande ABC em todos os textos a partir de hoje. Não faço outra coisa desde que cheguei jovem a Santo André, no final dos anos 60, senão adotar a expressão Grande ABC. Sinto-me em situação semelhante a de torcedores organizados que, em protesto contra a má campanha da equipe que tanto apoiam, exibem de cabeça para baixo faixas dos nomes que as identificam.
Tomara que não demore muito para que possa escrever de novo a marca que não faz por merecer que sequer a cite como identificação circunstancial. Só não apagaremos dos arquivos desta revista digital aquela expressão dos textos produzidos até a data de ontem porque não podemos alterar a história. Ficaria feliz se os leitores também tomassem providências práticas para tentar mudar a realidade de subserviência, anomia, preguiça, desinteresse, apatia e tantas outras enfermidades que atacam há muito tempo o organismo regional.
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