Imprensa

Reformismo solapado (10)

DANIEL LIMA - 06/03/2007

Acredito que é imperdível a reprodução do texto da newsletter Capital Digital Online que preparei à frente do Diário do Grande ABC em dois de setembro de 2004, 40 dias depois de ter assumido o cargo. Já naqueles momentos começava a colocar em prática muita observação sobre o rendimento individual e coletivo da Redação. Leiam com atenção.


Grande ABC, quinta-feira, 2 de setembro de 2004


Diário passa a contar a partir
de hoje com Editoria Especial


O Diário do Grande ABC passa a contar com uma novidade no organograma de Redação. Trata-se da Editoria Especial. O novo quadradinho vai ser exatamente o que diz a nomenclatura, uma Editoria Especial. O que significa isso? Significa que os profissionais que a integrarão terão todas as atribuições e responsabilidades dos editores, embora ocupem um degrau acima. Para que não haja dúvidas sobre o assunto, vamos a um pingue-pongue didático:


P — Quem comporá a Editoria Especial?
R — A Editoria Especial terá como componentes iniciais o Diretor de Redação e membros da Secretaria que atuam diretamente no dia-a-dia, casos de Eduardo Reina, Robinson Sasaki, Marcelo Moreira e Mauricio Milani. Também integrarão o time James Capelli, Danilo Angrimani e Antonio Cazzali.


P — Como será a atuação da Editoria Especial?
R — Desenvolverá e acompanhará pautas que procurarão dar suporte às demais editorias.


P — Qual será a área temática da Editoria Especial?
R — Os integrantes da Editoria Especial atuarão em todas as áreas do jornal e serão responsáveis por todas as etapas, da produção à edição. Poderão, diante de eventuais necessidades operacionais, delegar a fase de edição aos respectivos editores temáticos, repassando-lhes os conceitos do tratamento gráfico planejado para determinado texto.


P — Há previsão de novos integrantes da Editoria Especial?
R — Sem dúvida. Pretendemos dar à Editoria Especial um arcabouço de recursos humanos que seja capaz de oferecer-se permanentemente como suporte a todas as editorias.


P — A Editoria Especial vai trabalhar apenas com pautas especiais?
R — Não necessariamente. Teremos várias ações pontuais também, mas que nos permitirão acrescentar valor agregado ao cotidiano do jornal. Nosso maior problema editorial é a falta de informações sistemicamente fortes, densas, com matérias mais bem aprofundadas.


P — A Editoria Especial terá colaboração de free-lancers?
R — Sem dúvida. Contaremos com reforços. Teremos um corpo de atuação que não deixe dúvida sobre a importância do jornal.


P — Por que a Editoria Especial?
R — Porque precisamos elevar o nível médio de qualidade do jornal em todos os dias da semana. Precisamos ter um conjunto de pautas que nos dê sustentação de manchetes. Que as manchetes não sejam vulneráveis à qualidade, algo comum diante da falta de uma política específica de tratamento de primeira página como vitrine que não desencante o leitor.


P — Há alguma experiência prática que o levou a implementar a novidade?
R — Na Editora Livre Mercado temos profissionais de áreas operacionais com múltiplas funções do cotidiano mas que, quando dos eventos, integram força-tarefa especificamente dirigida para dar conta do recado. O Prêmio Desempenho é um evento integralmente sob responsabilidade da Editora Livre Mercado. Não terceirizamos a operação porque é por demais importante acompanhar todos os detalhes. E nos pontos que terceirizamos, como no caso da empresa que cuida de som e imagem, a coordenação é de nossa equipe. Os resultados são fantásticos. Formamos profissionais proativos, que não circunscrevem atividades à formalidade da função-eixo. Imagine um time versátil, que ataca e defende em bloco, que tem criatividade, que joga junto o tempo todo. É assim que fazemos.


P — Quem comandará a Editoria Especial?
R — O Diretor de Redação.


P — Já existe exemplo prático da Editoria Especial?
R — A Sabatina Diário é um exemplo. Foi formulada pelo Diretor de Redação e contou com amplo suporte e empenho da Secretaria de Redação. Tanto que nem tenho participado dos encontros. Aliás, meu sonho é que todos os profissionais do jornal tenham suas capacidades reconhecidas. A centralidade em torno do Diretor de Redação não é interessante para ninguém. Nem mesmo para o Diretor de Redação.


P — Outro exemplo de prática da Editoria Especial?
R — A divulgação da pesquisa Brasmarket/Diário, que, a partir de ação do Diretor de Redação, se espalhou seletivamente entre alguns dos atuais membros da Editoria Especial.


P — Mais um exemplo?
R — O projeto de cobertura do Quem é Quem poderia ser citado como possível exemplo de Editoria Especial, mas, de fato, acabou subdividido entre o Diretor de Redação e a Editoria de Economia. Os erros que ocorreram na edição não mais se registrarão. Aliás, aqueles erros de edição nos levaram a amadurecer a proposta e a definição da Editoria Especial.


P — Quer dizer que em determinados eventos a Editoria Especial acabará assumindo a responsabilidade de cobertura?
R — Sem dúvida. Vamos ter agora em setembro a festa do Prêmio Desempenho e essa cobertura será de responsabilidade da Editoria Especial. Do começo ao fim. Também a cobertura das eleições exigirá coordenação-geral da Editoria Especial. Aliás, esse será um trabalho de fôlego que vai envolver profissionais de várias editorias.


P — Se já há na prática a ação de uma Editoria Especial, porque a formalização nesta newsletter?
R — Exatamente para que todos estejam antenados com as transformações que passarão a aprofundar as relações neste jornal e que não vejam, na ação dos integrantes da Editoria Especial, qualquer movimento que fira a autonomia e o território das editorias. Até porque, se nada é mais estanque no mundo, nem mesmo o próprio mundo, por que as editorias convencionais deveriam considerar-se inexpugnáveis? Sobretudo porque todas serão reforçadas.


P — A quem devem ser dirigidas as dúvidas sobre a atuação da Editoria Especial?
R — Primeiramente aos membros da Secretaria. Em caso de eventual dificuldade de resolução, o Diretor de Redação deverá ser acionado.


P — Como será possível medir a eficiência da Editoria Especial?
R — Pelos evidentes resultados editoriais que apresentará. Trabalharemos sempre sintonizados com a produção cotidiana das demais editorias. Ofereceremos também a oportunidade de complementar pautas entre membros da Editoria Especial e das demais eventualmente envolvidas na pauta em questão.


P — Como se explica que o Diário, em fase de contenção de despesas, quando não de cortes de despesas, agora apareça com essa tal de Editoria Especial?
R — Salvo excepcionalidades, a Editoria Especial não vai provocar despesas à companhia, porque se trata muito mais de pôr em prática um plano de ação editorial baseado em diagnósticos que realizei do que propriamente no aporte de recursos financeiros. Ou seja: depois de 40 dias de trabalho e da experiência de 30 dias como ombudsman, cheguei à conclusão de que é imperioso que se estabeleçam medidas organizacionais para encaixar sob o mesmo teto profissionais que hoje, por falta de metodologia, estão desgarrados.


P — O que significa esse desgarramento?
R — Improdutividade, sobreposição funcional, ciumeiras nem sempre justificáveis, tudo que é substancialmente nocivo ao ambiente da corporação. Não estamos providenciando nada que não seja sob o ponto de vista organizacional o mínimo que se espera de estratégia voltada à melhoria do jornal.


P — E que jornal vamos ter?
R — Nosso compromisso é que o jornal seja respeitado pelas classes A e B do Grande ABC, mas que também atinja a classe C mais preparada. Precisamos de qualidade editorial que nos leve a tornar o jornal imprescindível aos tomadores de decisão e aos formadores de opinião. Não podemos ser um jornal maria-vai-com-as-outras. Precisamos elevar o número de assinantes a um patamar expressivo e isso só será possível quando o jornal sensibilizar as cerca de 20% de residências e moradores da região que estão disponíveis para tornarem-se assíduos leitores. Outros 30% da população virão naturalmente. A outra metade das famílias tentaremos capturar com vendas em bancas. Só estaremos satisfeitos quanto tivermos pelo menos 80 mil assinantes em nossos cadastros. Para isso, não adianta fórmula mágica: o jornal precisa ir além da superficialidade permanente, recheada de profundidade eventual. Precisamos inverter essa equação: profundidade permanente, superficialidade eventualmente.


P — É por isso então que a revista LivreMercado passará a ser encartada no jornal?
R — Essa é uma das muitas estratégias para sensibilizar os leitores do jornal. Todos sabem o quanto a revista é respeitada como produto editorial e o quanto poderá, agora, complementar a linha editorial do jornal. Precisamos fidelizar os leitores do jornal e a revista é um dos instrumentos que utilizaremos nesse sentido. Quando fizemos a sociedade com o Diário imaginávamos que essa obviedade seria aplicada, mas questões que não valem a pena ser dissecadas nos levaram a caminhos diferentes. Agora, porém, chegou a hora.


P — O que será do Diário do futuro?
R — Será o melhor jornal regional do País. Quem participar desse projeto vai ser gratificado e usufruirá dos benefícios da revolução que ajudar a empreender. Quem não participar, lamentará muito.


CONTEXTUALIZANDO
Acredito que a entrevista que formulei e que eu mesmo respondi não deixa dúvida alguma sobre nossos propósitos no comando daquele jornal. Lamentavelmente, tudo foi para o ralo tempos depois.


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