Celso Daniel prometeu pessoalmente a mim que abriria o Clube dos Prefeitos a representantes de verdade da sociedade, gente que não teria razão alguma para ser politicamente correta, forma mais estúpida de manter o errado ou o inadequado. Mas Celso Daniel morreu e tudo ficou como dantes no quartel de ociosidades institucionais daquela entidade historicamente medíocre.
Há duas décadas o Clube dos Prefeitos enrola o distinto público. Faz de conta que existe. Atribuem-lhe algumas conquistas que não passaram mesmo de ações individuais de um e outro prefeito, preocupados com o próprio quintal municipalista. Caso do esticadinho do trecho sul do Rodoanel em Mauá, conquistado pelo prefeito de então, Oswaldo Dias.
Agora, na esteira de uma novidade anunciada pelo prefeito Fernando Haddad, de São Paulo, quem sabe Luiz Marinho, prefeito dos prefeitos, resolva sair da pasmaceira.
Um Conselhão segue a ser uma boa pedida. Cansei de utilizar essa inovação nos veículos de comunicação que dirigi, sempre com bons resultados.
Por que será que os prefeitos da região há 20 anos relutam em abrir as portas daquela instituição, sem contar que mantém as mesmas portas igualmente cerradas à Imprensa?
A resposta provavelmente mais ajuizada é porque eles ficariam constrangidos com a dimensão e a profundidade da inoperância que a cada nova eleição municipal os titulares dos paços municipais retroalimentam naquela instância, num processo tão contínuo como embromador.
Temário antigo
Já escrevi trilhões de artigos sobre o Clube dos Prefeitos desde que tratava o Clube dos Prefeitos de Consórcio Intermunicipal. Adotei a nomenclatura não de forma pejorativa como um ou outro político ruim da cabeça imaginou. Trata-se apenas de uma marca mais palatável do ponto de vista jornalístico e de comunicação com a sociedade. Clube dos Prefeitos diz tudo. Consórcio Intermunicipal conduz a variadas interpretações, até que caia a ficha do entendimento. Os arquivos desta revista digital capturam muitos dos trabalhos sobre as atividades do Clube dos Prefeitos. Outros estão sendo gradualmente incluídos.
Por isso, ao ler a notícia sobre o Conselhão do prefeito da Capital, uma experiência já aplicada pelo governo Lula da Silva e em fase de aplicação pelo governo Dilma Rousseff, não resisto a retomar essa pauta.
Estaria o prefeito dos prefeitos Luiz Marinho preparado para a gestão coletiva, de verdade, do Clube dos Prefeitos, ele que administra São Bernardo com a mulher supersecretária e um grupinho fechadíssimo de colaboradores sempre dispostos a dizer sim à primeira e poderosa dama?
Quem não estiver bonitinho e quietinho sob as asas do casal Marinho em São Bernardo sabe que o destino não será dos melhores.
Como esperar, portanto, um gesto de ousadia, de luminosidade, de determinação para revirar do avesso o estado de letargia da institucionalidade regional extratificada no Clube dos Prefeitos se o prefeito dos prefeitos Luiz Marinho não enxerga nada além do próprio umbigo municipal?
O Conselho Regional do Clube dos Prefeitos seria um passo importante para quebrar a monotonia que rege a regionalidade da Província do Grande ABC, mas quem seria capaz de demover o casal que administra São Bernardo da ideia fixa de que para reinar é indispensável concentrar todos os poderes e com isso transformar o entorno em unanimidade burra, como toda unanimidade?
Colunismo social, não!
É claro que o Conselhão do Clube dos Prefeitos não poderia se fixar no conceito paulistano da Administração Haddad que levará os chamados vips aos holofotes. Um bom Conselhão deve contar com gente que normalmente não consta da lista de colunistas sociais, porque o conceito de que quanto mais aparecem menos têm a oferecer não é uma desconfiança deste jornalista, é uma constatação. As inutilidades em todas as praças costumam povoar o colunismo social.
É preciso estar amarradíssimo ao status quo, salvo as exceções de praxe, para garantir um lugarzinho em revistas e jornais que tratam dessa baboseira social. Há gente qualificadíssima que não integra a corriola dos chamados notáveis.
Tanto o Conselhão do Lula quanto o Conselhão de Dilma Rousseff, que também existe embora poucas saibam, não preenchem nem de longe às necessidades críticas evolutivas de que o Brasil padece para encarar o futuro sem o triunfalismo vadio de sempre.
Tomara que Fernando Haddad não replique aquele desenho ordinário de baixa frequência, de falta de objetividade das pautas e de tantos outros elementos que poderiam encaminhar o País rumo a uma agenda produtiva de verdade. Exatamente o que falta à Província do Grande ABC, como se sabe.
Um Conselhão do Clube dos Prefeitos, feito por gente interessada em suar a camisa, provavelmente seria demais para o prefeito Luiz Marinho e sua vocação de agrupamentos fechados, formado que foi nas lides sindicais, notoriamente avessas a compartilhamento de decisões, embora as assembleias com trabalhadores induzam a interpretações contrárias porque são muito bem delineadas como uso da massa.
A democracia da Administração Luiz Marinho e de tantos outros prefeitos que passaram e estão no comando dos paços municipais é a democracia do seletivismo que contempla os amigos do peito em primeiro lugar, os amigos do peito em segundo lugar, e os amigos do peito em terceiro lugar.
Por isso, mesmo que Luiz Marinho anuncie uma réplica do Conselhão do Haddad, que não passa de uma extensão do Conselhão do Lula e do Conselhão da Dilma, o melhor mesmo é ficar de orelhas em pé.
Conselhão de verdade se faz com quem não tem rabo preso com os detentores do poder econômico e político, por gente que não será uma extensão bovina de quem quer passar a impressão de que está a revolucionar os usos e costumes do gerenciamento público mas que, de fato, não altera um milímetro sequer a rota já manjadíssima de uma caminhada rumo a lugar nenhum.
Palavras de quem de conselhos editoriais entende um bocado e sabe o quanto são incômodos àqueles que sequestraram a pauta da regionalidade.
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