Imprensa

Uma entrevista histórica sobre
chegada ao Diário do Grande ABC

DANIEL LIMA - 15/05/2013

Quem não conhece minimamente a história do jornalismo da Província do Grande ABC jamais entenderá porque esse território de sete municípios virou essa mancha institucional sem eira nem beira. Por isso, resgato de meu acervo pessoal, e também da web, do site do jornal, a entrevista que concedi ao jornalista James Capelli e publicada em 20 de julho de 2004, um dia antes de assumir oficialmente a direção de Redação do Diário do Grande ABC.


 


Por que tomei essa decisão que alguns, os idiotas de sempre, os malfeitores de sempre, os vagabundos de sempre, vão interpretar provavelmente como uma volta ao passado de quem supostamente sente saudade do passado? Ora, porque, como sugeri acima, jornalismo na região é uma linha de montagem de informações que se une a outras atividades e cujo somatório ajuda a compreender porque somos o que somos.


 


Mas, confesso, há muito de preocupação com os leitores atuais e futuros desta revista digital que, provavelmente num horizonte no qual já não estarei presente fisicamente, acabarão por mergulhar em algum estudo sobre o que vivemos como sociedade nas últimas décadas. O que quero mesmo é mostrar aos leitores que não troco a camisa da regionalidade por nada. Mais que isso: que vestir a camisa da regionalidade numa sociedade dominada por oportunistas chega a ser estultice. O que se pode fazer se há o interesse público acima de tudo, inclusive do próprio jornalismo autofágico?


 


Poupando prevaricadores


 


Não recorri ao noticiário regional da época em que concedi aquela entrevista ao Diário do Grande ABC porque não pretendo provocar constrangimentos em muitos personagens que hoje ocupam manchetes de jornais, principalmente do próprio Diário do Grande ABC. Gente que troca de camisa como eu viro páginas e páginas de jornais e revistas todas as manhãs para me informar. Gente que não tem pudor algum em desdizer o que afirmou peremptoriamente num passado não muito distante. Gente que abraça e até beija quem antes excomungava.


 


Vou dar um refresco a esses prevaricadores éticos porque são todos desalmados em regionalidade. Não têm compromisso senão com os próprios interesses pessoais.


 


Já escrevi muito neste CapitalSocial sobre minha segunda passagem pelo Diário do Grande ABC – foram nove meses apenas, ante 15 anos no primeiro período – por isso não vou ser repetitivo, embora ainda exista muita história a ser contada. O principal mesmo é que quem perdeu uma barbaridade com a interrupção daquele projeto foi o próprio jornal, porque iniciamos uma revolução de costumes internos e de tratamento externo que marcou meus longos anos à frente da revista LivreMercado e segue nesta revista digital.


 


James Capelli, o jornalista que me entrevistou dois dias antes de minha maior perda pessoal – o velho seu Gabriel, meu pai, minha referência, minha paixão, minha fonte de coragem – desenlace que adiou por dois dias meu desembarque na Rua Catequese, foi um dos muitos parceiros de trabalho que provaram que a quase totalidade dos profissionais daquela Redação estava concentrada nas propostas de reestruturação. Propostas pacientemente impressas no Planejamento Estratégico Editorial que, pela primeira vez naquela organização, alguém se dispôs a apresentar com o estofo de execução prática em outro endereço midiático, não uma sucessão de pretensões fantasiosas.


 


Leiam atentamente a entrevista daquele julho de 2004 e acompanhem o planejamento que preparei e executei apenas em parte no Diário do Grande ABC, que está logo abaixo, no link.


 


A entrevista ao Diário


 


O jornalista Daniel Lima assume nesta quarta o cargo de diretor de redação do Diário. Ele deixa as atribuições de ombudsman do jornal, que serão ocupadas por outro profissional ainda a ser definido. “Ele terá de conhecer a região como eu conheço e precisará se guiar pelo meu Planejamento Estratégico Editorial”, disse. Lima continuará a escrever sua coluna Contexto, que poderá ter ampliada a sua periodicidade (atualmente sai às quintas-feiras e domingos). Ele também se manterá à frente da revista Livre Mercado, da newsletter Capital Social e Ieme (Instituto de Estudos Metropolitanos).


 


O novo diretor afirmou que a reestruturação editorial do jornal estará embasada no Planejamento Estratégico Editorial por ele elaborado e que prevê um período de cinco anos para ser totalmente implementado, mas ressaltou que o jornal mantém-se em uma marca respeitada e satisfatória no mercado regional. “Nós vamos aguçar ainda mais nosso senso crítico de jornalistas para produzir um jornal que, aliado à generosidade do leitor, irá surpreender num curto espaço de tempo.” 


 


Um dos pontos prioritários de mudança, segundo Lima, é que os jornalistas se especializem nas áreas sobre as quais escrevem e que sejam profundos conhecedores da região. “Precisamos que o jornalista seja crítico, que conheça o Grande ABC e o assunto que aborda para poder se pautar e para evitar que fontes duvidosas ludibriem-no; ele precisa saber distinguir quem está interessado em aparecer de quem realmente está preocupado em fazer coisas produtivas para a região – esses sim serão reconhecidos. O jornal e seus jornalistas deverão se tornar protagonistas da transformação da região”, disse.


 


Ele também adiantou que o Conselho do Leitor do Diário será mantido, mas reformulado. “Vamos criar um conselho de especialistas de várias áreas. Eles serão convidados e terão seu papel na especialização dos profissionais Do Diário do Grande ABC. Serão fontes primárias, confiáveis, serão entrevistados especiais. Poderão, inclusive, escrever artigos para o jornal. Ainda estamos definindo nomes, mas serão personalidades representativas da região.”


 


Na entrevista a seguir, Lima fala sobre suas expectativas como diretor de redação do Diário.


 


DIÁRIO – O sr. se afastará do cargo de ombudsman?


 


LIMA – Evidentemente, depois de 30 dias de experiência. Acho que a minha função de ombudsman acabou abrindo espaço para este novo cargo que assumo na empresa. Foi muito interessante esse trabalho, porque fez com que eu fosse mais crítico com o produto Diário e também com os outros jornais. Foi um pré-vestibular para aferir o produto que nós temos. O cargo de ombudsman vai ser ocupado por outra pessoa.


 


DIÁRIO – Já foi definido o substituto?


 


LIMA – Tenho algumas idéias que vou discutir com a diretoria.


Mas há duas questões das quais eu não abro mão para o novo ombudsman: primeiro, que seja um jornalista que conheça o Grande ABC; segundo, que receba uma cópia do Planejamento Estratégico Editorial e faça o seu trabalho em cima disso.


 


DIÁRIO – E sobre o Conselho do Leitor?


 


LIMA – Vai ser reformulado. Mas ainda não temos o formato definido. Ouvirei meus companheiros de redação.


 


DIÁRIO – E o Conselho Editorial, o que será?


 


LIMA – Será formado por especialistas de várias áreas: infra-estrutura, saúde, educação, logística, economia, tudo o que tenha uma intrínseca relação entre economia, social e poder público. Nós vamos ter um Conselho Editorial com vários nomes. Esses especialistas vão dar assessoria ao jornal, vão ser um ramal da especialização Do Diário do Grande ABC. Os profissionais que vão fazer parte do conselho terão uma relação direta com os jornalistas para orientação. E mais do que isso, eles vão também escrever artigos. Serão fonte e entrevistados especiais.


 


DIÁRIO – Qual a linha mestra do Plano Estratégico Editorial a ser implementada a curto prazo?


 


LIMA – A linha mestra é atacar a regionalidade com especialização. Nós temos de ser especialistas no Grande ABC. Todos os profissionais do Diário – jornalista, repórter, fotógrafo – têm de ter um conhecimento maior da região, saber o que está acontecendo. E na medida em que você centraliza o trabalho de cada um numa respectiva pasta de atuação, ele vai produzir mais rápido e melhor.


 


DIÁRIO – Quais as diferenças que o leitor verá no jornal?


 


LIMA – O nosso objetivo no Diário é transformar todo profissional de redação em especialista, e como tal ele vai ser protagonista também das transformações que a região precisa passar. O jornalista vai ter um compromisso muito maior com a região. Ele não vai ser apenas um repassador de informação de terceiros, ele será protagonista. Não vamos mais aceitar das fontes de informações pouco confiáveis. Vamos questionar mais. Vamos ancorar e pautar as questões regionais. O jornal vai fazer com que as lideranças sociais, econômicas e políticas se pronunciem. O aspecto do Consórcio Intermunicipal de Prefeitos, a Bancada do ABC, associações comerciais, Ciesps, Câmara Regional, questão de tributos municipais, do ICMS, da saúde, educação – todos esses pontos vão ser esmiuçados. O jornal vai pautar-se com compromisso e com resultados. E aqueles que apresentarem resultados vão ser devidamente valorizados. Através desse trabalho de apuração das fontes de informação, o leitor automaticamente vai começar a entender quem, de fato, dentro da sociedade regional, está comprometido com mudanças.


 


DIÁRIO – O Diário mantém afinidade com o leitor?


 


LIMA – O Diário é uma marca respeitada, apesar de todos os problemas societários e econômicos que atingiram o jornal – e que também atingiram o Grande ABC como um todo, por uma desindustrialização irresponsável do governo Fernando Henrique Cardoso. O Diário mantém uma imagem satisfatória no mercado. Eu vejo o jornal como elemento decisivo para tudo aquilo que eu imagino de bom para o Grande ABC. Isso aumenta a nossa responsabilidade. Por isso, os resultados positivos que vierem, vão ser do ponto de vista de repercussão, mais ágeis e de maior ressonância do que se fosse uma outra empresa. Nós temos condições de fazer um bom trabalho e acelerar a identificação que já existe do Diário com a sociedade regional. Se nós mantivermos nosso grau de criticidade de jornalistas com relação ao produto, vamos encontrar resultados muito favoráveis do mercado. Não podemos, de forma alguma, observar o jornal pela ótica do leitor comum. Temos de observar o produto final pela ótica crítica.


 


DIÁRIO – O sr. imagina uma mudança de visual no Diário?


 


LIMA – Vai ser sempre um processo gradual, tanto no aspecto gráfico, quanto editorial. Leva-se no mínimo cinco anos para fazer isso, se começarmos a mudar já. Esse processo não vale só para o Diário, vale para qualquer jornal. Não existe no Brasil, hoje, nenhum jornal que mereça mais do que nota 7, no máximo 8. Então nosso objetivo em cinco anos é atingir a nota 7.


 


DIÁRIO – O Planejamento Estratégico Editorial vai se estender até 2008?


 


LIMA – Até o 50º aniversário do Diário, 2008 exatamente. Há toda uma lógica temporal aí.


 


DIÁRIO – O sr. continua na revista Livre Mercado e na newsletter Capital Social?


 


LIMA – Na Livre Mercado eu continuo como diretor executivo; no Capital Social On-Line, vou dar uma reconfigurada, porque não posso ter o mesmo nível de trabalho.


 


DIÁRIO – Qual sua expectativa com a volta ao jornalismo diário depois de 15 anos afastado?


 


LIMA – Sair dessa roda viva dos jornais diários foi muito importante para mim. Aproveitei esse distanciamento físico e isso me ensinou exatamente o que vou levar para o Diário: é fundamental que se quebre essa mesmice do jornalismo de achar que os profissionais de comunicação são apertadores de parafusos. Essa industrialização do processo de fazer informação diária é desumana. Como tive a experiência de ter participado disso durante 15 anos e de estar fora disso por outros 15 anos, chego à conclusão de que é preciso alguém de fora, no caso sou eu, para colocar um paradeiro nesse processo.


 


Leiam também:


 


Cinco anos para o Diário se adaptar aos conceitos de regionalidade


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