A dualidade contida em República-Republiqueta do ABC, vitrine do próximo livro que lançarei (na noite de 28 de outubro, de novo uma terça-feira), é tão proposital quanto provocativa.
Há muito pretendia aproveitar parte do material que escrevo diariamente neste espaço e acho que a oportunidade chegou. A âncora-conceito de que devemos mostrar o contraponto entre República e Republiqueta parece a ideal.
Fiquei surpreso, entretanto, com um problema que acabei por encontrar: só neste ano que está pela metade já produzi de Editorial deste CapitalSocial 980 mil caracteres. Daria para publicar três edições de livros semelhantes a Meias Verdades.
Escrever -- ou melhor, selecionar os artigos já impressos virtualmente -- República-Republiqueta do ABC exigia como base de entendimento a definição da linha editorial. A obra não poderia ser preparada com o viés manquitola de distanciamento dos capítulos em objetividade estrutural. Nada mais óbvio e nada mais facilmente superável, porque se há algo que temos feito neste CapitalSocial ao longo de mais de dois anos é observar com acuidade e determinação os movimentos sociais e principalmente econômicos e institucionais do Grande ABC. Aliás, é o que temos feito também com nossa equipe à frente da melhor revista regional do País, LivreMercado.
Será o Grande ABC mais República ou mais Republiqueta?
Primeiro é preciso definir sociologicamente a terminologia República e o derivativo Republiqueta. República significa unidade, união, espíritos entrelaçados, capital social. Como o Grande ABC é uma pizza dividida em sete pedaços de sabores diferentes e mal-ajambrados obscurecidos pelo oitavo, a glamourosa Capital, não é difícil chegar à constatação de que somos mesmo uma Republiqueta. O livro Complexo de Gata Borralheira trata desse assunto de forma alegórica e bem pedagógica.
Mas, convenhamos, também temos nossos espasmos de República. É isso que também procurarei resgatar nos escritos que já pontificaram nesse espaço e que, como dedicado ourives, comecei ontem à noite a perscrutar no computador, depois que minha companheira de trabalho Carla Fornazieri separou em dois disquetes lotadíssimos tudo que andei escrevendo nestes tempos.
Provavelmente cometi um erro de planejamento ao ter começado a resgatar os textos a partir de janeiro de 2002. Como não tem mais jeito de matar a curiosidade de relembrar o que escrevemos, só voltarei a 2001 depois que completar o material disponível no disquete, deletar o que considero precário e imprimir o que julgar merecer formato de livro.
Como temos feito desta abertura de Capital Social Online um tratado solene de interpretação do Grande ABC, e diante do volume inesperado armazenado nos disquetes, não tenho dúvidas de que talvez sejam necessárias três edições diferentes para reproduzir nossas inquietações regionais.
Pouco do que estou selecionando foi publicado originalmente na revista LivreMercado. A maioria mesmo do trabalho foi redigida por volta de 40 minutos de cada manhã, de vez em quando de noite, às vezes no domingo que antecede uma segunda-feira recheada de compromissos. Reli ontem e evidentemente selecionei um dos textos sobre a morte do prefeito Celso Daniel. Mais exatamente na segunda-feira em que, chocado com o acontecimento, trabalhei sob intenso trauma psicológico e dedilhei algumas dezenas de linhas sob forte emoção.
Jamais me arrependo do que escrevo, porque só o faço depois de meditar muito. Geralmente, quando as questões são mais candentes e têm grau maior de combustão, deixo o texto impresso num canto e o releio algum tempo depois. Tenho medo de escrever com a bílis alterada. Recentemente, apenas para dar um exemplo de que tomo cuidado especial com as palavras escritas, digitei a análise sobre os artigos dos deputados Vanderlei Siraque e Luiz Carlos da Silva publicados pelo Diário do Grande ABC em resposta ao questionamento deste CapitalSocial. Como se sabe, tiramos ambos do muro quanto às eleições em Santo André. Embora eles tenham recebido correspondência protocolada para se posicionarem oficialmente, preferiram o Diário do Grande ABC como tribuna. Uma espécie de represália por terem sido cobrados publicamente durante quase 30 dias. Um direito constitucional de optarem pela mídia que bem entenderem, da mesma forma que temos o direito constitucional de apeá-los da obliquosidade partidária.
Ao ler os dois textos na data da publicação no jornal -- sábado retrasado -- cumpri o mesmo ritual de sempre: sublinhei com minha caneta de tinta preta os pontos que considerava mais relevantes, reli o material com calma e refleti. Estava em casa. Subi até o escritório domiciliar e, em 30 minutos, respondi a ambos, em texto publicado neste espaço segunda-feira da semana passada. Antes de enviar o disquete pelo motoboy, reli o que escrevi no sábado de manhã. Não introduzi qualquer mudança. Não me arrependi de uma só vírgula e não precisei acrescentar um ponto sequer.
Certamente terei o bom senso de transformar o artigo -- e também o anterior, de cobrança aos dois deputados -- em capítulos de República-Republiqueta do ABC.
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