O momento é idealíssimo para que se compreenda sociologicamente a essência e a dimensão da expressão República do ABC e, com isso, se elimine qualquer conotação canhestra. Já abordamos o assunto em outras ocasiões, mas nos parece que agora ganha significado especial.
Não podemos embalar eventuais interpretações caricaturescas da expressão República do ABC, nem tampouco confundir seus pressupostos com incursões pontuais de agentes políticos e econômicos.
O Grande ABC jamais será a República do ABC dos sonhos somente porque, de repente, por força de um Presidente da República egresso de São Bernardo, descobrimos que temos nos labirintos do poder brasiliense mais de uma dezena de eventuais representantes regionais. Um exagero em boa parcela dos casos, convenhamos, atribuir essas ocupações de espaço à regionalidade porque vários deles estão mesmo é preocupados com suas biografias pessoais.
Tampouco o Grande ABC será República do ABC de fato apenas porque viramos palco de manobras e sondagens dos mais diferentes emissários do governo federal. Hoje, por exemplo, temos por aqui o ministro da Casa Civil e grande negociador político do governo Lula da Silva, o meticuloso José Dirceu.
Se ficar preso a paradigmas antiquados e fora do esquadro de encaixe na moldagem do significado de República do ABC, o Grande ABC de fato se tornará uma Republiqueta do ABC.
A diferença entre uma e outra é fácil de explicar.
República do ABC comporta capital social indispensável para a interlocução produtiva junto ao governo do Estado e ao governo federal, independentemente de cores partidárias, de vieses ideológicos, de compadrios políticos, de intimidade com o poder. República do ABC é, portanto, os representantes de fato da sociedade regional voltados a equilibrar o jogo de atenção e respeito nas relações com Geraldo Alckmin e Lula da Silva.
Republiqueta do ABC é a aproximação meramente político-ideológica e seletiva, de cunho partidariamente pré-determinado que nem eventual proximidade de outros agentes políticos consegue superar. Republiqueta do ABC é o direcionamento da interloculação exclusivamente voltado a tratar com zelo quem oferecerá retorno político-eleitoral e fingir-se de democrático somente para preencher as vaidades individuais.
Longe de dispor de capital social minimamente organizado, com forças do Poder Público, do Mercado e da Sociedade razoavelmente equilibradas para definir agenda que a comunidade tanto espera, o Grande ABC está mais para Republiqueta do ABC do que para República do ABC. Nem se diga que o governo Geraldo Alckmin e o governo Lula da Silva não tenham radares voltados para essa geografia duramente atingida pelo governo Fernando Henrique Cardoso nos últimos oito anos.
Sob esse ângulo, como já escrevemos, Geraldocá está mais metodologicamente produtivo do que Lulacá, porque pelo menos entregou a diplomacia entre o Palácio dos Bandeirantes e as instituições regionais ao seu secretário particular, o sãobernardense Fernando Leça.
Lulacá, conforme também escrevemos, tem incentivado revoada de executivos em direção ao Grande ABC, mas a falta de coordenação tática e estratégica poderá botar tudo a perder. Ou, simplesmente, acrescentará novas camadas sobrepostas de corporativismo nas iniciativas que precisam contemplar o conjunto da sociedade regional.
Não faltam idiotas que, para disfarçar o bairrismo atávico em que estão entrincheirados há muito tempo, posam de supostos contemporâneos, ao refutar a idéia de que Lula da Silva deva ter um coordenador regional para acertar os ponteiros do Palácio do Planalto no Grande ABC. Por que idiotas? Ora, porque o governo federal não faz favor algum ao priorizar entre as regiões brasileiras um Grande ABC decididamente destroçado pelo seu antecessor, conforme estamos cansados de provar com números.
Um Plano Marshall para o Grande ABC -- como também já escrevemos -- é questão de honra para quem propaga interesse em construir um novo Brasil.
Por enquanto, infelizmente, estamos nos comportando como Republiqueta do ABC, embora alguns a confunda com a República do ABC porque se inspira provavelmente nos hermanos latino-americanos que destilam provincianismo tão tosco quanto nacionalismo ultrapassado.
Queremos muito mais. Não podemos depender de alguns poucos donos da interlocução entre o Planalto e o Grande ABC, estejam eles alocados em Brasília ou em qualquer Município da região.
República do ABC não é o Grande ABC em Brasília nem Brasília no Grande ABC. República do ABC é o Grande ABC descobrindo a própria força do capital social do Grande ABC. Infelizmente, ainda estamos distantes disso e mais próximo do que se pensa da Republiqueta do ABC.
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