O encontro de ontem do sindicalista Luiz Marinho com um grupo de convidados ao projeto que passarei a chamar de Grande ABC, Urgente! foi interessante e ao mesmo tempo frustrante. Interessante porque a variedade de agentes presentes mostrou que há clamor por resultados práticos na relação entre a região e Brasília, no bojo do Lulacá, urgente! preconizado pela revista LivreMercado de novembro. Frustrante porque um time que mal se conhece e se encontra para os primeiros treinamentos com vistas a uma decisão foi dividido em duas partes, a dos regionalistas e a dos macronacionalista. Como se não fossem metade da mesma laranja de resoluções.
A insensatez da divisão já fez uma baixa, se se pode considerar baixa um abelhudo que quer ver o Grande ABC sair da pasmaceira em que se encontra: só participarei dos próximos encontros, se convidado for, como jornalista. Não participarei do Grande ABC, Urgente! como agente social porque não posso assinar um atestado de burrice. Sim, atestado de burrice, já que esse filme da dispersão, da tentativa de agarrar o mundo, de dar tiro para todo lado, já protagonizei no Fórum da Cidadania de tristes lembranças resolutivas.
Se Luiz Marinho me convidar como jornalista, lá estarei nas próximas reuniões. Entrarei calado e sairei mudo, pronto para reproduzir neste Capital Social todas as observações. Se Luiz Marinho achar que o Grande ABC, Urgente! é instância que deve ser tratada a portas fechadas, do lado de fora permanecerei. Agora, participar de um projeto que desconsidera a lógica de que os problemas econômicos emergenciais do Grande ABC estão eivados de componentes macroeconômicos, a ponto de distribuir os participantes entre macrorregionalistas e macronacionalistas, é o fim da picada.
De forma sucinta, procurarei transmitir alguns pontos sobre os quais expus sugestões ao Grande ABC, Urgente!
É necessário que haja a maior harmonização possível entre as instâncias já instaladas na região e o grupo comandado por Luiz Marinho, para que a emenda institucional não seja pior do que o soneto da desintegração já latente, embora disfarçada. Para tanto, o Grande ABC, Urgente! deve limitar-se à sapiência de definir as questões mais preocupantes que atingem o desenvolvimento econômico sustentável da região e abrir as porteiras de Brasília. A operacionalização das propostas caberia aos quadros técnicos da Câmara Regional, do Consórcio de Prefeitos e da Agência de Desenvolvimento Econômico. Traduzindo em miúdos: já que Luiz Marinho é o abre-te-sésamo, que não se perca a oportunidade de romper o lacre político brasiliense. Depois, deixem que os prefeitos, os deputados, quem quiser, afinal, façam o barulho e botem a mão na massa. Traduzindo ainda mais: o Grande ABC, Urgente! prepararia o terreno para as demais instâncias brilharem.
Foco, foco e foco. Eis três pontos prioritários da pauta de reivindicações. As esperadas tentativas de alargar o eixo de propostas, porque decorrem de um Grande ABC problemático nas mais distintas áreas, como o Brasil, devem ser cuidadosamente desbaratadas. Já há instâncias específicas para cuidar de vários temários corporativos. Desenvolvimento Econômico Sustentável, eis a máxima do Grande ABC, Urgente!
Competitividade é a palavra mágica. Não superficial e não tão simples como alguns membros de Executivos públicos do Grande ABC avaliam com a palidez de apetrechos intelectuais. Do contrário, já teriam mostrado mais serviço no comando de suas respectivas prefeituras, que acumulam ano após ano degringolada econômica socorrida pelo aperto tributário municipal. Competitividade é o suprassumo da capacidade organizativa da região em colocar todos os nossos problemas econômicos no mesmo saco de propostas. Quando se fala em competitividade, logística é o diferencial. É o fator de exclusão de investimentos, como deixamos claro na semana passada aqui, ao comentar a transferência da planta da Gráfica Bandeirantes de São Bernardo para Guarulhos.
Também é indispensável que se dê adensamento aos quadros de colaboradores do Grande ABC, Urgente! Que se convidem mais agentes públicos, privados e comunitários. Que se separe o joio das eleições municipais das questões político-partidárias do trigo da regionalidade.
Sem monitoramento permanente das ações, não há projeto coletivo que resista. E monitoramento significa acompanhamento efetivo, inclusive por parte da mídia. Não se pode tratar o Grande ABC, Urgente! com tutela semelhante ao que se praticou com o Fórum da Cidadania. Essa nova instância tem de estar sujeita a críticas, a contradições, para que seu amadurecimento não seja uma jogada de marketing cujo preço todos sabemos qual é. Monitoramento significa também a aceleração de resultados. Os gestores privados que participaram do encontro de ontem possivelmente debandarão se masturbações teóricas prevalecerem, se o pragmatismo perecer.
A regionalização temática evidentemente abarca o pressuposto da macroeconomia. O Grande ABC é a maior vítima da globalização dos negócios, porque um presidente da República nos atirou ao léu sob vistas grossas da falta de vocação empreendedora dos administradores públicos locais. É impossível tratar nossas chagas sem utilizar o antídoto da globalização. Algo que parece contraditório, mas que, como veneno de cobra, dá resultado. Quando se divide o Grande ABC em duas partes, do regional e do nacional, joga-se fora a oportunidade de aperfeiçoar conhecimentos sistêmicos e também de escancarar as oportunidades que se abrem. Um jogo de xadrez só é extraordinariamente instigante porque não apareceu nenhum idiota para retirar algumas peças para torná-lo menos complexo.
Lixo da dispersão
Talvez o problema do Grande ABC, Urgente! seja o fato, absolutamente evidenciado no encontro, de que alguns agentes pretendem dar à instância roupagem dissimuladora. Sem contar que há personagens que têm mais pretensão pessoal do que bagagem intelectual. Em contraponto, há protagonistas de valor relevante que não podem ser submetidos a um segundo escalão na ordem de distribuição da força representativa interna que separa platéia de mesa, autoridade de convidados, como se capacitação tivesse de ser subordinada à patente.
Saí decepcionado do encontro porque temo que a presença de profissionais importantes para a prática de interlocução qualificada na região pode ser jogada na lata do lixo da dispersão. Reforma fiscal, reforma tributária, reforma trabalhista e reforma previdenciária são pontos importantes da agenda nacional que há muitos anos vêm sendo debatidos à exaustão. Montar subgrupo para tratar disso é chover no molhado. Como a tentativa patética de reforma do Judiciário que Marcos Gonçalves liderou à frente de um Fórum da Cidadania que, paciência esgotada, se esfacelava por conta da improdutividade regional.
Voltaremos ao assunto. Gato escaldado tem medo de água fria. Os ensinamentos do Fórum da Cidadania e as elucubrações da ficcional Câmara Regional, do restritivo Consórcio de Prefeitos e das oscilações da Agência de Desenvolvimento Econômico já torraram a paciência de quem não quer voltar a acreditar em Papai Noel. Sem pressupostos estratégicos e com táticas erráticas, não há instância que resista à desmobilização.
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24/04/2025 GRANDES INDÚSTRIAS CONSAGRAM PROPOSTA