Regionalidade

Estamos esperando o
quê para ter Lulacá?

DANIEL LIMA - 11/09/2003

Um assunto já tratado neste espaço faz parte de torres  -- esperamos que não binladeanas -- de preocupações de representantes do Partido dos Trabalhadores na região. Durante o coquetel da festa preliminar do Prêmio Desempenho, anteontem no Espaço Lux, em São Bernardo, Carlos Alberto Grana, secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e agora frequentador relativamente assíduo do poder brasiliense, lembrava sugestão deste jornalista sobre a importância de o governo federal contar com espécie de um embaixador por estas bandas. Escrevi sobre o assunto recentemente. Sugeri à ocasião que o governo Lula da Silva poderia repetir a estratégia do governo Geraldo Alckmin, que nomeou seu secretário particular, Fernando Leça, ex-secretário municipal em São Bernardo e ex-deputado estadual, para auscultar nossas iniciativas.


 


O descarte de investimentos mais volumosos da União no trecho sul do Rodoanel, obra estrategicamente relacionada à capacidade de recuperação da economia regional, é autenticação fiel e inquestionável de que estamos enormemente desprotegidos de novos ataques macroeconômicos e microeconômicos. Inicialmente indicado à função, o sindicalista Luiz Marinho pegou o rabo de foguete da presidência da Central Única dos Trabalhadores. As gestões que Luiz Marinho fez logo após as urnas consagrarem Lula da Silva até que fosse requisitado à CUT entraram no desvio da dispersividade.


 


Quase 10 meses se passaram desde que Lula e Fernando Henrique Cardoso cumpriram o ritual diplomático e se cumprimentaram como cavalheiros na troca de comando em Brasília e nada de efetivo se construiu para desfazer a idéia de que também em matéria de Grande ABC o ex-sindicalista não esteja mimetizando o sociólogo. É claro que estou exagerando, porque é impossível ser tão insensível e desastrado quanto FHC. Tanto que Lula bate FHC por 6 a 1 no placar de presença regional. Entretanto, as questões estruturais que nos afetam diretamente, derivadas de oito anos fernandohenriquistas, não estão no foco das gestões. 


 


E nem serão, caso prevaleça o descompasso de articulação bilateral. Só faltava essa barbaridade na historiografia político-administrativa regional: contarmos pela primeira vez com uma imensidão de representantes de nossos quadros administrativos municipais e sindicais nos mais diferentes postos do governo federal e atirar pela janela do varejo a oportunidade de acertar em cheio o atacado. Tudo porque espezinhamos o princípio elementar de que não existe produtividade sem coordenação.


 


Atribuição regional


 


Como antecipamos na Reportagem de Capa de novembro, Lulacá, Urgente!, compete ao Grande ABC, exclusivamente ao Grande ABC, a sensibilização do governo federal. Nem mesmo o notório municipalismo e o natural partidarismo que nos corta, recorta e retalha os sonhos de regionalidade deveriam servir de desculpa ou justificativa. Afinal, uma frente mesmo que unilateralmente petista  -- e portanto muito mais factível de formulação -- poderia capitalizar em favor da geografia regional medidas mais comprometidas com o enraizamento de transformações.


 


Esparadrapos minimizam os riscos de inflamação, mas isoladamente não sustentam recuperação de um organismo que exige sobretudo cirurgias. Uma das quais, sem dúvida, é a restruturação do modal rodoviário e ferroviário. O Rodoanel só é menos importante do que urgente. Um Plano Marshall para readequação mercadológica do universo industrial de pequenas e médias empresas ainda dependentes demais de um setor automotivo cambaleante chegaria com certo atraso, dada a gravidade do descalabro do governo anterior, mas ainda salvaria muitos sonhos e empregos.  


 


Lulacá, Urgente!, como se observa, e sempre reafirmamos esse conceito, é algo como o que somos capazes de fazer para trazer aos nossos limites geográficos um Estado que daqui nos retira, dia após dia, caudais de dinheiro na forma de impostos. A cadeia automotiva, coração de nossa economia, é estatisticamente a atividade cuja cumulatividade de custos tributários mais gera recursos aos cofres públicos. Das lâminas de aço das siderúrgicas ao fim da linha de montagem, tudo ganha forma de tributos sobrerrodas. Por isso, merecemos mais atenção. Mas precisamos nos organizar. 


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