Levando-se em conta a conta que todos nós contamos e que dá conta de que é conto do vigário desconsiderar o Grande ABC como o somatório de sete municípios, o resultado cantado em forma de estatística hoje de manhã pelo Instituto de Estudos Metropolitanos não é dos mais agradáveis. Está certo, está certo que São Caetano, para variar, chegou à frente no ranking geral, que São Bernardo chegou em sétimo e Santo André em 10º, numa prova de que as características dos estudos garantem a esses três municípios, isoladamente, uma combinação equilibrada de acumulado histórico de riqueza e ainda capacidade de gerarem produção industrial.
Entretanto, quando se vale do conceito de megacidade, que é de fato o que manda quando se trata de Grande ABC, porque nossos sete territórios são uma obra político-emancipacionista que não conseguiu abortar a complementaridade econômica, social e cultural, quando se vale, portanto, de megacidade, caímos para o 11º lugar na classificação geral.
Ficamos atrás de Paulínia, Santos, Campinas, São Paulo, Jundiaí, Barueri, Ribeirão Preto, São José dos Campos, Jaguariúna e São José do Rio Preto. Obviamente, retiramos São Caetano, São Bernardo e Santo André da lista individual.
Quem segura a barra?
O que, afinal, significa esse 11º lugar na classificação geral do IDEE (Índice de Desenvolvimento Econômico Equilibrado)? Significa que nem o fato de São Caetano, São Bernardo e Santo André terem agregado histórico de conquistas econômicas segura a barra regional, porque Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra caem pelas tabelas, comparativamente às economias mais desenvolvidas do restante dos principais municípios do Estado. A outra leitura que se poderá dar aos números não é falsa: entre mais de 600 municípios paulistas, a República do ABC é a 11ª. Razoável, razoável, portanto.
O Índice de Desenvolvimento Econômico Equilibrado, conforme mostraremos em detalhes na Reportagem de Capa de julho da revista LivreMercado, é um achado estatístico que quebra o ritual de números esparsos e solteiros que geralmente não conseguem traduzir a dinâmica econômica dos municípios e regiões.
Ao misturar Valor Adicionado, Potencial de Consumo, IPVA, ISS e Inclusão Digital, atribuindo-lhes pesos ponderados diferentes, bem como a caracterização de média per capita, o IDEE sinaliza para uma associação de valores estatísticos que servirão de referenciais a novas políticas públicas e econômicas dos municípios pesquisados e que representam mais de 70% da mais robusta economia estadual do Brasil.
Prêmio à estabilidade
O Índice de Desenvolvimento Econômico Equilibrado premia com as melhores colocações, em regra, os municípios que se mostram efetivamente menos oscilantes nos quesitos pesquisados. E mostra, fundamentalmente, que a correlação entre Valor Adicionado (espécie de PIB industrial) e o ranking geral não está necessariamente sincronizada. Tanto é verdade que apenas quatro municípios que ocupam as 10 primeiras colocações no ranking geral estão entre os 10 primeiros no quesito Valor Adicionado.
O que isso denota? Que os demais quesitos, cuja soma de pesos ponderados alcança 75% do total, podem tranquilamente quebrar a espinha dorsal do conceito de riqueza vinda apenas da transformação industrial. Nada mais lógico, porque o VA necessariamente não se capilariza com a força imaginada nos municípios nos quais é gerado.
Um exemplo desse caso: Cajamar é a oitava colocada em VA entre os 55 municípios mais poderosos do Estado, mas cai para 45º lugar no ranking geral porque não consegue se sustentar nos demais quesitos. Outro exemplo: Louveira é quarta colocada no Valor Adicionado, mas ocupa apenas a 33ª posição no ranking geral.
Paulínia, bom exemplo
Por sua vez, como prova de que Valor Adicionado precisa de outros atributos arrecadatórios endógenos para se sustentar, Paulínia ocupa a liderança disparada do quesito e chega em segundo lugar na classificação geral porque também tem bom comportamento no IPVA, no ISS, na Inclusão Digital e menos intensamente no Potencial de Consumo.
Ainda escreveremos muito sobre o Índice de Desenvolvimento Econômico Equilibrado. As nuances que emergem dessa associação orgânica de números parecem infindáveis. Os administradores públicos mais atentos poderão redirecionar planejamentos estratégicos para aperfeiçoar os mecanismos de correção de rotas.
Nesse sentido, o caso de Cubatão é emblemático: terceira colocada em Valor Adicionado e em ISS, o Município altamente dependente da indústria química e petroquímica e de atividades de serviços que lhe dão suporte não consegue arrumar-se nos demais quesitos porque é uma comunidade estruturalmente pobre. Daí, nada de anormal classificar-se em 29º lugar.
O 11º lugar do Grande ABC é um sinal de que o oásis São Caetano vai-se desmanchando na medida em que os números atravessam suas fronteiras e se dirigem aos demais municípios. Nada pior, porque São Caetano tem participação relativa reduzida no conjunto de sete municípios. Por isso mesmo é um oásis, ora bolas!
Total de 505 matérias | Página 1
24/04/2025 GRANDES INDÚSTRIAS CONSAGRAM PROPOSTA