Regionalidade

Um macroíndice para
compreender o G-55

DANIEL LIMA - 24/10/2003

O IEME (Instituto de Estudos Metropolitanos) está construindo inédito painel econômico, financeiro, criminal e social dos 55 municípios mais importantes do Estado de São Paulo. Quando completo, o trabalho muito contribuirá para entendermos a realidade municipal e regional de dois terços do que há de mais representativo na geografia paulista. Vejam como se distribui o universo pesquisado pelo IEME: 


 IDEE (Índice de Desenvolvimento Econômico Equilibrado) -- reflete o resultado de cinco indicadores relacionados ao que poderia ser chamado de produção e estoque de riqueza de cada Município. Trata-se do Valor Adicionado (grosso modo, a capacidade de transformação do produto industrial); do IPVA (a riqueza sobrerrodas); Potencial de Consumo (a capacidade de gasto com produtos e serviços amarradíssima à renda); o ISS (a tonicidade do setor de serviços) e a Inclusão Digital (o capital digital associado à realidade econômica e social). 


 IEM (Índice de Eficiência Municipal) -- resume pontos históricos de os municípios organizarem finanças de acordo não só com a potencialidade econômica das populações que atendem como também de darem conta dos custos de assalariamento e de despesas diversas dos quadros funcionais. Na categoria de competência de arrecadação de tributo próprio e compulsório está o IPTU, enquanto as despesas com as Câmaras de Vereadores e com os funcionários dos Executivos correm em raias paralelas, com diferenciações necessárias. 


 IC (Índice Criminal) -- avalia o desempenho de cada Município em quesitos que atingem em cheio a qualidade de vida dos moradores, casos de furtos e roubos, homicídios dolosos, furtos e roubos diversos. 


 IDS (Índice de Desenvolvimento Social) -- está em fase de estudos e reunirá dados já divulgados por fontes de qualidade. Vetores como pobreza, escolaridade, juventude, alfabetização, entre outros.


Coquetel de estatísticas


Há algumas novidades que movem os passos do Instituto de Estudos Metropolitanos a ponto de instalá-lo como fonte obrigatória de análises. Embora o suporte estatístico esteja a reboque de terceiros -- Tribunal de Contas do Estado, Tribunal de Contas do Município de São Paulo, Target Marketing e Pesquisas, IBGE e Instituto Fernand Braudel, entre outros -- o ovo de colombo do IEME é a sistematização de bancos de dados tão distintos quanto distantes entre si.


Por isso que, como um dos fundadores, defendi o conceito de que a organização não poderia arredar pé de duas insuperáveis bases estratégicas: a solidificação de premissas cerebrais para aprofundar o que geralmente é superficial ou compartimentado, e não se meter a operacionalizar soluções porque há agentes públicos, privados e sociais para desempenhar essas prerrogativas.


Para que se entenda a equação de forma didática, diríamos que todos os números utilizados pelo Instituto de Estudos Metropolitanos estão por aí, em publicações impressas específicas, na Internet, em universidades. O problema é que até então, dada a vocação nacional bruta do corporativismo arraigado, não apareceu ninguém para juntar as peças desse mosaico, aplicando-lhe metodologia própria.


Grande erro, porque o cruzamento de informações possibilitará compreensão absolutamente cristalina do que se passa em cada território municipal e, também, nas regiões metropolitanas da Grande São Paulo, Baixada Santista, Grande Campinas, Grande Sorocaba e Grande São José dos Campos.


Pulo do gato


E é nesse ponto que o IEME deu o pulo do gato, raiz de sua própria denominação. Ao definir o grupo de 55 municípios sobre os quais a lupa das especificidades seria implacavelmente avaliada, o Instituto de Estudos Metropolitanos concentrou-se num foco geográfico que associa a magnitude econômica e a amplitude social do Estado mais desenvolvido do País.


A parceria permanente com a Target Marketing e Pesquisa de Marcos Pazzini só incomoda alguns pobres de espírito que, por serem aéticos e supostamente exorcistas de fantasmas que eles próprios criam, opõem restrições onde deveria haver agradecimento.


Chegará o dia -- e já é possível, sem dúvida, ter informações dinamicamente comparativas com o que se encontra no portal -- em que o perfil de cada um desses 55 municípios pesquisados saltará do computador em forma de planilha. Um macroíndice, reunindo todos os indicadores já definidos e eventualmente novos, vai condensar a realidade de cada município com base na síntese do desempenho alcançado em cada um dos indicadores.


É tão possível esculpir esses 55 moldes municipais e confrontá-los que alguns exemplos já podem ser pinçados. Peguem o desenho de São Caetano: ao título de campeão do Índice de Desenvolvimento Econômico Equilibrado se contrapõe um dos últimos postos no Índice de Eficiência Municipal. Ou seja: São Caetano é dona de uma riqueza econômica reconhecidamente acima dos padrões nacionais mas, em contrapartida (e isso o IEME desbravou com seus números), excede-se na gastança com o funcionalismo público municipal e com os custos do Legislativo e ainda não encontrou a embocadura adequada na arrecadação do IPTU.


Mais revelações


Até segunda-feira sairá o Índice de Criminalidade. Será possível acrescentar novos tijolos nessa arquitetura em fase de desvendamento. Depois virão os quesitos sociais. No final -- é possível até antecipar o formato do mosaico --, São Caetano deverá estar entre as 10 primeiras colocadas do Estado. Isso possibilitará duas leituras complementares: os indicadores de riqueza econômica e de agregados sociais conflitarão com os vetores de criminalidade e de eficiência administrativa pública.


Para que não se dê interpretação caolha e maniqueísta a essa prospecção ainda a ser confirmada, ressalte-se que em todos os macroindicadores a dimensão dos resultados para o bem ou para o mal classificatório decorre prevalecentemente da cumulatividade histórica dos números.


Trocando em miúdos: da mesma forma que os atuais administradores públicos não podem capitalizar exclusivamente para si os bons resultados que emergem dos estudos do IEME, também não devem ser acusados de destrutivistas. Somente em casos muito especiais, que ainda não foram detectados e provavelmente se tornarão insondáveis dadas as peculiaridades dos trabalhos, poderão ser glorificados ou sacrificados.


Em suma, os indicadores temáticos e o macroindicador multitemático do Instituto de Estudos Metropolitanos vão ser espécie de prova dos nove do gerenciamento público municipal nos principais territórios paulistas, porque muitos dos fatores que têm representatividade no que se convencionou chamar de qualidade de vida do contribuinte estarão acondicionados num mesmo recipiente.


Ao se observar a síntese de todos os insumos pesquisados e ao cruzar aleatoriamente ou não a tonalidade  do resultado desse processo de fusão, quando não de combustão, o que se configurará aos olhos e mentes mais atentos serão organismos municipais curiosíssimos.


A grandeza dos indicadores do IEME e do macroíndice decorrente disso está no pulo do gato da sistematização elucidativa do quadro municipal. Com isso, a velha mania dos administradores públicos -- sempre contando com a omissão analítica da mídia imediatista -- de procurar atrair os holofotes para os louros de suas conquistas reais ou mesmo manipuladas sofre o impacto do contraponto dos calcanhares de Aquiles que eventualmente emergem de bancos de dados nem sempre adequadamente utilizados.


Como é o caso de Santo André, por exemplo, na área de trânsito: enquanto o sistema de tráfego mostrou-se eficiente na redução de usos e abusos depois de espalharem-se radares móveis e fixos nas principais ruas e avenidas, quebrando assim a espinha dorsal dos imprevidentes, o indicador do IEME relacionado a furto e roubo de veículos coloca o Município na lanterninha.


Está certo que a redução das ocorrências policiais não é atribuição maior da Prefeitura, mas o ranking apresentado não pode sofrer desdém como resposta. Aliás, como São Caetano e São Bernardo praticamente têm os mesmos números depreciativos de Santo André nesse quesito, valeria a pena um esforço conjunto dos três municípios e também do governo do Estado para amenizar situação que as corretoras de seguros só aceitam por causa das altas taxas de spread.


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