Sociedade

Clube dos Construtores mudou,
mas precisa mudar muito mais

DANIEL LIMA - 11/10/2017

Não há termos de comparação entre os quase dois anos do engenheiro Marcus Santaguita como presidente do Clube dos Construtores e as mais de duas décadas do famigerado empresário Milton Bigucci. Mas ainda falta muito, muito mesmo, para aquela entidade aproximar-se do sonho deste jornalista, que é um sonho sonhado também pelo conjunto da sociedade, quando se observa a atuação de  todas as demais instituições sociais, econômicas e culturais na Província dos Sete Anões, outrora Grande ABC. 

Marcus Santaguita receberia uma nota não mais que seis de zero a 10. Bigucci não ultrapassa a linha de zero vezes zero. Neste final de ano vamos ter novas eleições no Clube dos Construtores. Espero que o fantasma de Milton Bigucci, que ronda a instituição, não volte a assombrar de forma comprovada.  Entenda-se de forma comprovada algo como tentar influenciar a disputa. As mudanças ainda não dão a garantia de que o ambiente esteja descontaminado a ponto de possibilitar novas conquistas.  

Tomara que a sanha autoritária de Milton Bigucci não ressurja com toda a força em detrimento de um dos setores mais importantes da região. Para o bem daquela organização e dos consumidores de produtos imobiliários, nenhuma sombra do dirigente deveria perambular por lá. Os mandatos seguidos que lembram Carlos Nuzman e tantos outros mandachuvas brasileiros contêm o agravante de que não significaram nenhuma medalha à categoria ou a região. E há aproximações quanto aos estragos extracampo. 

Flerte permanente 

Milton Bigucci segue como dirigente – é presidente do Conselho Deliberativo – e tem familiares a flertar com a presidência – seu filho é vice-presidente e segundo homem na linha sucessória. Dizem que Bigucci Júnior é bem diferente do pai, mas isso não é suficiente para aliviar uma barra pesada que pode ser traduzida no passivo de mais de duas décadas em que o destino do Clube dos Construtores foi sobressaltado pelo afastamento do que chamo de responsabilidade social. 

Este é apenas o primeiro ensaio de alguns textos que deverei escrever sobre o quadro sucessório no Clube dos Construtores. Torço para que Marcus Santaguita não arrede pé da presidência ou que a encaminhe a algum dirigente empresarial que dê continuidade ao processo de desintoxicação dos efeitos de exclusivismo e mandonismo do ex-presidente. 

Não houvesse feito absolutamente nada em favor da entidade e, principalmente, da sociedade consumidora de imóveis, Marcus Santaguita certamente teria vencido com folga o jogo com o improdutivo Milton Bigucci. Entretanto, como demonstrou seriedade em vários pontos, o principal dos quais atenção com as estatísticas divulgadas, merece descolamento festivo do antecessor. 

Farras estatísticas 

Ao demitir os asseclas do então presidente Milton Bigucci que, entre outras tarefas, se davam ao desfrute de produzir dados fajutos sobre o comportamento do mercado imobiliário da região, todos sob a supervisão interesseira de Milton Bigucci, no caso Milton Bigucci presidente do conglomerado MBigucci, Marcus Santaguita acabou com a farra do boi de fraudes informativas. Entenda-se como fraudes informativas o repasse de dados estatísticos conflitantes com a realidade. 

Como cansamos de denunciar neste espaço – o que se traduziu na raiz da perseguição que o famigerado empresário move contra mim, como se isso fosse me acovardar – o mercado imobiliário da região viveu anos de intenso bombardeiro mentiroso que visava única e exclusivamente favorecer algumas empresas associadas ao Clube dos Construtores. Tudo em detrimento de milhares de famílias conduzidas ao cadafalso de manipulações que se confirmaram danosas aos orçamentos domésticos. 

A Província mergulhada numa bolha imobiliária insustentável, que corrói investimentos e esquarteja planilhas familiares, é obra em grande parcela das pinceladas economicamente macabras do então presidente do Clube dos Construtores. 

Ao eliminar essa banda podre de produção de dados mentirosos, Marcus Santaguita revelou a ética que se espera de um dirigente com atuação enraizadamente pública. A Província sob a arbitrariedade decisória de Milton Bigucci gerou informações delituosas, em contraponto, por exemplo, à rede de organizações associadas ao Secovi, Sindicato da Habitação de São Paulo, carro-chefe do setor no Estado. Aquela entidade mantém há muitos anos contrato com empresa privada especializada em detectar o movimento de compra, venda e lançamento de imóveis, entre outras variáveis. 

Diplomacia agregadora 

Agora também o Clube dos Construtores integra essa teia informativa sistematizada por quem é do ramo e que não tem interesse, até prova em contrário, de se transformar em deus ou diabo a manipular cordéis especulativos. 

A expectativa é de que o sempre diplomático e agregador Marcus Santaguita não fuja da raia em que se meteu, ou seja, a luta para moralizar uma entidade da qual a quase totalidade dos potenciais associados simplesmente se afastou durante o longo reinado do famigerado empresário Milton Bigucci. 

Tanto é verdade que desafio o antecessor a publicar os balanços do Clube dos Construtores (claro que sem novas manipulações). Milton Bigucci jamais topará. O vexame de a entidade ser sustentada pelo Secovi se consolidou como cláusula pétrea do abandono e desinteresse das empresas locais. Daí, entre outros motivos, este jornalista considerar o Clube dos Construtores, sob Milton Bigucci, uma entidade mequetrefe e chinfrim. Escrevem coisas muito piores sobre o Congresso Nacional, o Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal e, nem por isso, alguém sofreu sentença condenatória à prisão. Até porque, se houvesse, faltariam celas. 

Não sou avesso à diplomacia e muito menos ao vetor de amarração de valores entre os pares da categoria, mas talvez chegue o dia em que Marcus Santaguita precisará mostrar as garras de uma responsabilidade coletiva que já exerce, mas que certamente poderá ser desafiada. 

Junta médica 

O Clube dos Construtores já não é um paciente em estado terminal no campo da moralidade e da ética, além da organização interna e do relacionamento externo. Mas ainda está sob cuidados de uma junta médica que as demais entidades congêneres insistem em desprezar porque seus dirigentes são réplicas do antigo mandachuva. 

A queda de Milton Bigucci da direção do Clube dos Construtores não serviu de inspiração à montanha de dirigentes classistas que só pensam naquilo -- poder, poder, principalmente junto ao poder executivo. Lamentavelmente, assim como na maioria dos casos do jornalismo regional, estamos mergulhados em meados do século passado. 

Quem se meter a vasculhar publicações de então vai ficar abismado com a semelhança de comportamento dos mandachuvas e mandachuvinhas e a repercussão na Imprensa. Fomos congelados no tempo.



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