Eduardo Banzoli Filho nasceu no mesmo ano da morte de Ayrton Senna, considerado o maior piloto brasileiro de todos os tempos. Agora, aos 14 anos, o corredor de Santo André se sobressai no kart que também esteve na origem da trajetória vencedora do tricampeão mundial de Fórmula 1. Eduardo Banzoli Filho sonha com a principal categoria do automobilismo mundial sob a inspiração de Ayrton Senna e com o respaldo de títulos obtidos em duas categorias do kart pontilhados por séries consecutivas de vitórias nas últimas temporadas. Exatamente como ocorria com o seu ídolo.
A dimensão do significado de Ayrton Senna para o esporte mundial ganhou relevância para Eduardo Banzoli Filho ao assistir vídeos de corridas históricas da Fórmula 1 dos anos 1980 e 1990. Às imagens que o entusiasmaram somou-se o incentivo do avô David Marques dos Santos Zina para compor receita de sucesso. "Ainda não vi um piloto como o Ayrton Senna. Vai ser difícil aparecer alguém tão completo como ele" -- exalta o jovem piloto.
Se depender de façanhas já obtidas, Eduardo Banzoli Filho deve alcançar patamares consideráveis. Em 2004, tornou-se o primeiro campeão brasileiro cadete com motor quatro tempos, mais eficazes e menos poluentes que o de dois tempos. O título foi determinante para outra conquista, a do Capacete de Ouro da categoria com 70,15% dos votos para o corredor de apenas 10 anos. O segundo colocado teve apenas 17,91% e o terceiro, 7,46% dos votos. Eduardo Banzoli Filho começou a deixar o nome registrado entre os cadetes um ano antes. Em 2003 recebeu o Capacete de Bronze das mãos de Felipe Giaffone, atual campeão brasileiro de Fórmula Truck (caminhões modificados) e ex-participante da IRL (Indy Racing League), dissidência norte-americana da Fórmula Indy disputada preferencialmente em circuitos ovais. Com nove anos, Eduardo Banzoli Filho incluía no currículo temporada com seis vitórias consecutivas. Atualmente compete na temporada júnior, na qual detém a marca de cinco primeiros lugares seguidos.
Rotina compensada
A rotina de ocupar o lugar mais alto do pódio e os títulos paulista e brasileiro garantiram outra compensação: a inclusão na equipe de pequenos pilotos que abriram as etapas brasileiras da Fórmula 1 em 2003 e 2004 no circuito de Interlagos. Foi a primeira incursão pelos bastidores da festejada categoria e a proximidade com ídolos do porte do alemão heptacampeão do mundo, Michael Shumacher, e os finlandeses Mika Haikkinen e Kimi Raikkonen, também campeões mundiais. Das idas a Interlagos, nasceu a paixão pela McLaren, equipe dos finlandeses. "Quando chegar à Fórmula 1, espero correr pela McLaren. Foi também a escuderia dos títulos de Ayrton Senna, admiro como se organiza e está sempre entre as favoritas, como em 2008. Mas não vou muito com a cara do Hamilton (o piloto britânico Lewis Hamilton, número um da escuderia inglesa), apesar de reconhecer que hoje é o melhor. Acho que se um dia o vir de perto, ele também não irá com a minha" -- ri Eduardo Banzoli Filho.
Antes de alcançar o sonho maior, há longo caminho pela frente. A próxima etapa do plano de vôo já está traçada, segundo a mãe Kátia Marques. Em 2009, o propósito é passar a competir na Fórmula BMW, disputada na Europa. Participar de fórmulas no Velho Continente pode encurtar o atalho para penetrar no universo da Fórmula 1 mesmo que no início a atuação seja como piloto de testes, como outros brasileiros, caso de Felipe Massa, integrante da Ferrari e o principal rival de Lewis Hamilton na luta pelo título.
O principal piloto brasileiro da atualidade merece um reparo. "O Felipe Massa é bom, tem provado que é de ponta, mas comete erros que custam vitórias e até campeonato" -- observa.
Dedicação exclusiva
A dedicação de um profissional das pistas deve necessariamente ser exclusiva, o que pode significar o sacrifício dos estudos já a partir dos ciclos fundamental e médio e até mesmo a impossibilidade de cursar faculdade. Eduardo Banzoli Filho está na sétima série do Ensino Fundamental e tenta conciliar as atividades. Para não perder o ano, já chegou a fazer três provas num só dia e dois em outro. Em semana de competição, a rotina é ainda mais espartana.
A preparação começa na terça-feira se houver necessidade de ajustes de equipamentos como motores e chassis. Se o carro estiver em ordem, os treinamentos podem ser feitos a partir da quinta-feira. A estrutura é digna das categorias mais conhecidas, como preparadores, mecânicos e instalações próprias no kartódromo que abriga as provas da temporada. A equipe de Eduardo Banzoli possui espaço no Kartódromo Internacional de Aldeia da Serra, que ocupa área de 50 mil metros quadrados em Barueri, na Grande São Paulo.
Manter a logística em dia tem custo elevado. As despesas giram em torno de R$ 20 mil mensais. Por isso os patrocínios são indispensáveis. Eduardo Banzoli Filho conta com duplo suporte. Um é a Oakley, empresa de roupas e acessórios que patrocina esportistas vencedores como os pilotos Juan Pablo Montoya, Nelsinho Piquet e Ricardo Maurício, os skatistas Sandro Dias e Bob Burnquist e a medalha de ouro em Pequim no salto em distância, Maurren Maggi. O outro patrocínio é da H-Buster, fabricante de aparelhos para som automotivo com unidades em Cotia (Grande São Paulo) e em Manaus.
Custos elevados
O menor gasto pode ser o de uma sapatilha, entre R$ 120 e R$ 600; um macacão pode custar de R$ 200 a R$ 780; luvas, entre R$ 100 e R$ 500 e jogo de pneus slick, R$ 410 e de chuva, R$ 480. À primeira vista pode parecer pouco, mas a impressão cai facilmente por terra quando são incluídos os custos de um capacete, cerca de R$ 6 mil no caso do modelo GP5, também utilizado na Fórmula 1; chassis, R$ 8.150; alfano (que estabelece o giro do motor, volta a volta), R$ 1.900; combustível, R$ 10 o litro, e ainda custos com locação do kartódromo, a R$ 120 por diária.
Com a logística em dia, é preciso superar outro desafio: o piloto e familiares enfrentam trânsito mais complicado do que o dos kartódromos. Para chegar em Aldeia da Serra a tempo de compor o grid, a alternativa é sair de Santo André por volta das 6h. O retorno ao Grande ABC após percorrer cerca de 80 quilômetros raramente acontece antes das 20h. A mãe Kátia Marques diz que o trânsito da Região Metropolitana causa mais irritação a Eduardo Banzoli Filho do que as disputas mais acirradas dos kartódromos. Como é favorável à manutenção da lei que exige carta de habilitação somente para maiores de 18 anos, o adolescente não se preocupa em permanecer mais quatro anos na condição de passageiro. "O menor de 18 anos não é tão prudente no trânsito das grandes cidades como os mais velhos" -- observa o piloto.
O esforço vale a pena. Além de títulos e vitórias estaduais e nacionais, Eduardo Banzoli Filho já gravou comercial para indústria de baterias com Emerson Fittipaldi, primeiro brasileiro campeão mundial de Fórmula 1. Principal jogadora da história do basquete brasileiro e campeã mundial em 1994, Hortência compareceu ao Kartódromo Internacional de Aldeia da Serra em fevereiro de 2007 especialmente para acompanhar treino de Eduardo Banzoli Filho.
Com tantos atributos e o reconhecimento de celebridades do esporte, o caminho está aberto para que mais um kartista brasileiro ganhe o cenário internacional -- uma tradição de pelo menos quatro décadas. Eduardo Banzoli Filho segue o traçado de curvas e retas que pode conduzi-lo ao topo. Assim como aquele que se tornou seu maior ídolo.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!