Li ontem na coluna do amigo Ademir Medici, no Diário do Grande ABC, uma notícia que vale a pena ser explorada. O presidente do Clube Atlético Aramaçan, Wilson Ambrósio, quer resgatar tudo o que for possível para constituir o que seria o museu da agremiação. Fico a perguntar o que seria da região se não contasse com Ademir Medici, nosso cão de guarda do jornalismo retrospectivo. De vez em quando ele envereda pela prospecção também, mas sempre com o fio condutor do passado.
A ideia de Wilson Ambrósio poderia servir de inspiração a outras agremiações esportivas e sociais da região num contexto em que o Museu do Trabalho e do Trabalho do então prefeito Luiz Marinho possivelmente vai dar lugar a atividades culturais. Um erro será acrescentado a outro. Substitui-se um projeto ideológico por uma ação retaliadora envolvendo petistas e tucanos. O esperado Museu do Capital e do Trabalho, aqui sugerido, ficaria enterrado.
Precisamos dar valor material e subjetivo àqueles que construíram nossos municípios. Devemos colocar um ponto final na ameaça de que a identidade regional vai virar pó, pressionada nestes tempos de plataformas tecnológicas fastfoodianas. Jamais na história da humanidade se criaram tantas fantasias e assassinaram tantas reputações. Os fatos e contextos perderam valor ante a massa de ignorantes deslumbrados.
Lembro de frequentar o Aramaçan em situações muito específicas, como os bailes de carnaval que não voltam mais. Tenho ótimas lembranças de uma Santo André em que acabara de desembarcar vindo do Interior de São Paulo num caminhão de mudança.
Reduto da mobilidade social
Possivelmente nada simbolize mais o mundo regional e particularmente as nuances de Santo André do que o Clube Atlético Aramaçan, reduto sobretudo de classe média nos meus tempos -- e ao que parece ainda nestes tempos, mesmo com a inexorável baixa de mobilidade social.
Transportar o passado para o futuro em forma de iconografias selecionadas pelos próprios associados é uma ideia genial do presidente Wilson Ambrósio da Silva. Sobretudo ante a despersonalização da territorialidade municipal e regional. Um fenômeno contraditório ditado pela massificação de aparelhos móveis e aplicativos massificadores de alternativas que dispersam as atenções e substituem conhecimento sólido por informações voláteis.
Acho que alguém que queira fazer uma ponte entre Santo André e a região como um todo de ontem e o que temos hoje obrigatoriamente terá de pesquisar a fundo a história do Clube Atlético Aramaçan.
O auge e a derrocada relativa da economia regional certamente ali estarão documentados, em profundo contraste com a pujança física e estrutural da agremiação que, em mais de meio século, fundiu sonhos e esperanças numa sinfonia de concreto e alma de pertencimento local.
Dinamismo a toda prova
O presidente Wilson Ambrósio da Silva é um exemplo de dinamismo. O tempo não lhe retira o entusiasmo de empreender. Revela-se, com atividades profissionais e institucionais, acima de múltiplas marcas às quais serviu durante anos a fio. Não se lhe pode dizer que seja um homem de uma única logomarca corporativa, ou a mais conhecida, no caso como diretor do Diário do Grande ABC. Era fiel escudeiro de Fausto Polesi, diretor de Redação que já se foi.
Sugeriria a Ademir Medici, num misto de estupidez e apressamento, porque certamente a proposta há de estar em seus planos de resgatador oficial do passado regional, que dê atenção especial ao projeto de memória do Clube Atlético Aramaçan.
Aliás, o próprio Diário do Grande ABC poderia multiplicar a iniciativa de Wilson Ambrósio da Silva ao estimular outras instituições a darem forma e luz ao conjunto da sociedade regional.
Tenho cá comigo que, com minha especialidade e com a especialidade de Ademir Medici – o futuro que tento desvendar como se fosse um semideus metido a besta e o passado que ele descortina com a segurança fática de informações e provas documentais – essa possível iniciativa democraticamente expandida poderia nos aproximar mais como jornalistas, porque a amizade é eterna.
Ou os leitores não botam fé na premissa de conexão de individualidades e coletivos do passado de uma região poderosíssima e protagonistas e coadjuvantes do presente a ponto de influir no amanhã?
Não fosse o passado um elemento decisivo à construção do futuro quando há comprometimento em recuperar o que chamaria de cases de sucesso, a iniciativa do presidente do Aramaçan e o destaque reservado pelo jornalista Ademir Medici perderiam o sentido e se configurariam apenas em peça de marketing vazio.
Passado inspirador
Já que o que chamo de Província do Grande ABC não tem tido na quase totalidade de instituições algo que a coloque em sintonia com o comprometimento econômico e social das novas gerações, quem sabe tudo se altere com o cavoucar do passado numa ação gigantesca de sensibilização?
A identidade regional já desgastada e cada vez mais ameaçada de virar tanto pó que nem excelência de Ademir Medici seria capaz de capturar no futuro, requer medidas que já ultrapassaram os limites cautelares. Já estamos atrasados nessa empreitada.
Por isso a inciativa de Wilson Ambrósio não pode ser tratada de forma burocrática por quem sonha com uma Santo André e uma região diferenciadas entre as metrópoles brasileiras, nas quais o entorno das grandes capitais são pedaços demográficos de baixa cultura, de baixa representatividade de cidadania, de um sentimento de subalternidade eterno.
Não podemos nos rebaixar a tanto, embora lamentavelmente a trilha nessa direção ganhe marcas cada vez mais profundas.
Com Ademir Medici saudavelmente no meu cangote, tenho de apertar o passo para imprimir um ritmo ainda mais célere à inspiração de um futuro que se desenha há muito tempo como espécie de monstro de inquietação.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!