Se mexer algumas palhas, junto um número de voluntários que possivelmente não encontrariam obstáculos iniciais para se multiplicarem de tal forma que 50 deles seriam arregimentados sem grandes esforços para um primeiro encontro esclarecedor e, quem sabe, definidor. Estou me referindo à sugestão que formulei outro dia nesse espaço sobre a formação de uma instituição regional distinta de tudo o que está aí e que, todos sabem ou deveriam saber, é praticamente inútil em potencial reformista de que tanto a região carece.
Seriam 50 tons de convergências aos pressupostos que listei como plataforma de embarque de um projeto que não se envolveria direta ou indiretamente em denúncias contra os bandidos sociais espalhados pela região. Ou seja: nada semelhante ao que formulei ao Defenda Grande ABC. As ações visariam exclusivamente o Desenvolvimento Econômico. Um contragolpe no quadro de penúria regional. Devo reconhecer, portanto, que o Defenda Grande ABC foi mesmo uma provocação com objetivos bem delineados. Ou seja: confirmar de vez a anomia social da região.
Quando a ficha cai
Em outros carnavais teria partido da proposta à ação, mas o acúmulo de desencantos me tornou mais comedido. As repercussões à sugestão, sem que tomasse qualquer iniciativa prospectiva além do que estas linhas encaminharam, dão uma ideia de viabilidade à formação da organização.
Há algumas dezenas de pessoas na região que já não suportam mais o ramerame de instituições públicas e privadas especializadas em deixar como está para ficar como é que fica.
Não tenho a menor ideia da marca institucional que emergiria dessa proposta. Gosto de especular sobre marcas apenas quando oferecem perspectiva de consecução. Prêmio Desempenho, Livre Mercado, Nosso Século XXI, Completo de Gata Borralheira, República Republiqueta, Na Cova dos Leões, CapitalSocial, Meias Verdades, entre tantas outras identidades-expressões, saíram do forno da exequibilidade. Da mesma forma que Defenda Grande ABC, projeto natimorto pelo próprio iniciador.
Se insistissem na marca da pretensa instituição, seria capaz de formular alguma coisa assim de supetão, apenas para ser atirada à arena de apreciação dos participantes.
“Nosso Grande ABC” seria uma pedida interessante ou soaria ufanista demais? Talvez ufanista demais. Lembraria uma campanha de marketing do Diário do Grande ABC dos anos 1990, em contraposição à já pronunciada desindustrialização e consequente esvaziamento econômico.
“Fora conservadores” seria um chega prá-la na incompetência generalizada, mas seria antagonista demais num momento em que a região carece de uma instituição que seduza individualidades competentes para examinar e atuar com liberdade e lucidez numa cruzada de reestruturação dos usos e costumes do Desenvolvimento Econômico.
Extremos preocupantes
Viram que tanto num extremo quanto no outro há subjacente a possibilidade de o movimento proposto cair numa armadilha da qual não se desvencilharia jamais? Achar que será possível mudar tudo com amor e carinho, como pressupunha o triunfalista “Nosso Grande ABC”, ou que a terapia radical da desclassificação sumária de tudo o que está aí, na forma de “Fora conservadores” seria o melhor caminho no campo oposto, só provocaria atrasos.
Repararam o quanto é desafiadora a sugestão não só de dar corpo e vida à organização proposta neste espaço na semana passada como também de encontrar um encaixe nominativo que expresse o estágio em que nos encontramos, tendo-se o passado como referencial, o presente como desafio e o futuro como esperança?
Reconheço que a formulação tática e estratégica desse movimento não é trabalho para amadores. Se o fosse, possivelmente já teriam criado uma instituição nos moldes propostos. O mais estimulante nessa operação é que a definição de uma pauta temática (sobre a qual todos se dedicariam, tendo como plataforma de medidas os pressupostos conceituais definidos em 10 quesitos) permitiria entre outras vantagens a mensuração dos próprios passos a serem dados.
Traduzindo em miúdos: quando se tem um conjunto enxuto de metas e se definem também os instrumentos que permitiriam trajetória sem desvios, mantendo-se o foco implacável, o potencial de sucesso não é uma casa de ilusões.
Dez premissas essenciais
Não custa lembrar os 10 quesitos que demarcariam a formação de uma organização coletiva totalmente diferente do que temos na praça regional:
Disposição para vestir a camisa da regionalidade em primeiro, em segundo e em terceiro lugares.
Desembaraço de relações com agremiações partidárias.
Desprezo a conflagrações ideológicas.
Disposição em dedicar determinado número de horas semanais a questões prioritárias.
Independência nas relações com Administrações Públicas Municipais.
Determinação para enfrentamentos compulsórios à recuperação econômica da região.
Conscientização de que instituições da região estão desaparelhadas para se tornarem parceiras.
Concentração total e absoluta nos pontos de desenvolvimento econômico que definirão as ações.
Dinamismo de atuação similar à discrição para caracterizar o movimento como ação coletiva.
Comprometimento com as etapas posteriores à consolidação do movimento.
Flexibilidade interpretativa
Repararam os leitores que cada enunciado embute uma banda que não é estreita, embora também não seja larga, a permitir certa maleabilidade definidora que estaria sacramentada estatutariamente a fim de impedir açodamentos?
Querem um exemplo dessa possibilidade? O que significa de fato o enunciado “desprezo a conflagrações ideológicas”? Tenho cá comigo, porque não teria sentido o contrário, a definição desse pressuposto sem dar margens a manipulações.
“Conflagrações ideológicas” foi a expressão que criei com vistas às atividades da instituição que zelaria pela recuperação econômica da região tendo em vista a quebra da espinha dorsal da semântica subjacente quando não explícita e despudorada de que em nome de extremismos se praticam verdades antagônicas para casos iguais ou semelhantes. Sei que a formulação ficou hermética aos descuidados e mesmo intrigante aos mais atentos. Nada que não possa dissecar numa outra análise.
Tradução coletiva
Há outras definições potenciais para o mesmo enunciado, os quais não necessariamente seriam conflitantes, mas também não se pode desprezar o carregamento idiossincrático compulsório na maneira de ver o mundo sob prismas diferentes.
Por isso, traduzir da forma mais precisa e indissociável da compreensão geral cada um dos enunciados seria uma primeira e inadiável missão para que o movimento não desse com os burros nágua, como ocorreu com o Fórum da Cidadania.
Vamos esperar os próximos tempos. A combustão espontânea desse movimento, no sentido de robustecimento de representantes, talvez não resulte em nada efetivo. Ficaríamos, nesse caso, apenas como narrador de conjecturas. Mas, caso pegue no breu com o acampamento da ideia por uma meia dúzia de malucos, a história institucional da região pode ter nova configuração.
Está mais que provado, porque na cara, que não temos na praça nada que se assemelhe ao movimento proposto. Por isso estamos nessa pindaíba de dar dó e algo tão empobrecidamente frágil como o cargo de ouvidor numa prefeitura vira assunto de relevância midiática.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!